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ENFERMAGEM GERONTOGERIÁTRICA E INTRODUÇÃO AOS ASPECTOS PSIQUIÁTRICOS

enfermagem gerontogeriatrica

O Programa de Treinamento da Holiste abordou os cuidados relacionados à Enfermagem Gerontogeriátrica, suas particularidades, conceitos e práticas terapêuticas. Foram explorados, ainda, aspectos da saúde mental dentro do público idoso.

Realizado no hospital dia da Holiste, o treinamento “Enfermagem Gerontogeriátrica e Introdução aos Aspectos Psiquiátricos” reuniu cuidadores, técnicos de enfermagem, enfermeiros, terapeutas e outros membros de nossa equipe. Ministrado pela enfermeira Zélia Hupsel, mestra em enfermagem psiquiátrica e coordenadora do curso de especialização em enfermagem psiquiátrica da Santa Casa de São Paulo, o treinamento tem o objetivo de aprofundar os conhecimentos da equipe em relação à este segmento, que possui características tão particulares.

GERIATRIA X GERONTOLOGIA

Como ponto inicial do treinamento, Zélia estabeleceu a diferença dos conceitos de geriatria e gerontologia: “É comum confundirem um conceito com o outro, mas é importante identificar o que cada um trata, principalmente no tratamento da saúde mental do idoso. Basicamente, a geriatria é a especialidade médica que vai estudar as patologias relacionadas ao idoso. Já a gerontologia possui um conceito mais amplo: ela estuda o processo de envelhecimento como um todo, com a finalidade de promover uma maior qualidade de vida ao idoso e fazer com que este processo seja o mais saudável possível. Assim, os cuidados em gerontologia abrangem a prevenção de doenças, as melhorias no ambiente onde o idoso está inserido, a reabilitação de aspectos abalados pela velhice e cuidados paliativos para aqueles que possuem quadros dificilmente reversíveis”.

A enfermeira elencou alguns aspectos fundamentais no cuidado de qualquer idoso, e que, portanto, todo profissional que cuida desta população deve considerar em seu trabalho: “Valorização do idoso, manutenção do indivíduo, prevenção da doença, promoção da saúde e da dignidade do idoso. Estes são pontos fundamentais do trato diário em gerontologia. Se pensarmos no cuidado de idosos com doenças mentais, estes aspectos se fazem ainda mais importantes, pois a própria condição das doenças mentais tende a impactar estas questões. Somando-se às perdas provocadas pela velhice, tudo se torna mais delicado no idoso”.

DIGNIDADE, AUTONOMIA E RELACIONAMENTO DEMOCRÁTICO

A velhice impõe ao idoso uma série de limitações. Da dificuldade de locomoção, passando por problemas visuais e auditivos, chegando às doenças crônicas relacionadas à idade avançada, são diversos os agentes que abalam a dignidade e a autonomia do indivíduo idoso. Além dos aspectos físicos, algumas condições sociais tendem rebaixar o moral e o psicológico do idoso: ele já não é mais uma força produtiva na sociedade, muitos de seus parentes e amigos já faleceram, atividades corriqueiras como ir ao banco cuidar de suas finanças ou fazer compras se tornaram um desafio, etc…

Neste cenário de fragilização do indivíduo, o risco do cuidador exercer, ainda que inconscientemente, uma relação de poder opressora com o idoso que está sob seus cuidados é muito grande. Essa relação de cuidado deve ser sempre baseada no diálogo, interativo, onde o cuidador se coloca no lugar de ouvinte atento, funcionando como uma ferramenta para que o idoso amplifique sua autonomia, e não se perceba cada vez mais dependente dos seus cuidados.

“É muito comum, neste tipo de relação, ver o cuidador promovendo a infantilização do idoso. Muitos deles estão bem-intencionados, mas se esquecem que ali está uma pessoa que já passou por muita coisa na vida: foi criança, jovem, trabalhador, pai ou mãe de família, teve e ainda tem responsabilidades, desejos e ambições, e de forma alguma querem ser tratados como uma criança. O idoso tem que ser estimulado a manter ou resgatar sua dignidade, sua autonomia, não com mimos ou menosprezo à sua capacidade, mas com respeito e atenção à sua individualidade” – explica Zélia.

AVALIAÇÃO MULTIMENSIONAL DO IDOSO

É preciso, antes de iniciar um relacionamento de cuidado com o idoso, considerar todos os aspectos de sua complexidade enquanto indivíduo. Dos fatores físicos aos psicológicos, tudo influencia no quadro clínico do idoso de maneira muito mais delicada, o que demanda uma atenção especial por parte do cuidador.

Para facilitar a identificação de pontos críticos que envolvem o cuidado do idoso, especialistas criaram algumas sistemas que simplificam o processo. Para a avaliação física do idoso, por exemplo foi criado os Cinco I’s da geriatria: Iatrogenia, Incontinência, Instabilidade, Imobilidade e Insuficiência.

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Iatrogenia – a Iatrogenia são complicações ocasionadas por medicamentos, exames, procedimentos médicos e qualquer outro tipo de consequência causada pelo profissional de saúde. Na maioria dos casos refere-se aos efeitos colaterais do tratamento em andamento, das medicações utilizadas. O paciente idoso, devido a sua condição, geralmente ingeri uma grande quantidade de medicamentos diariamente. É preciso que o cuidador esteja a par destas medicações, seus efeitos e associações cruzadas, bem como as medidas emergenciais relacionadas ao uso dos mesmos.

Incontinência – a incontinência urinária é um problema bastante recorrente na população idosa. Com o passar do tempo, o controle da bexiga se torna menos preciso e o idoso passa a urinar em momentos e locais inapropriados. é preciso estar atento porque muitos pacientes não transmitem a informação para seus médicos e cuidadores. A Incontinência pode trazer prejuízos à saúde, como irritações de pele e úlceras, além de prejuízos psicossociais como isolamento, depressão, perda de estima e problemas familiares. Além disso, é preciso programar as finanças para a compra de fraldas e medicações.

Instabilidade – a Instabilidade está relacionada à capacidade postural e de movimentação do idoso. A Instabilidade pode ocasionar quedas que acarretam sérios riscos ao idoso, como lesões graves, hospitalizações, limitações funcionais ou mesmo a morte. O cuidador tem sempre q estar atento aos fatores de risco do ambiente, evitando a ocorrência de acidentes: evitar deixar superfícies escorregadias no ambiente de vivência do idoso, cama e outros assentos como o vaso sanitário não devem ser muito altos, os ambientes devem estar sempre bem iluminados, as paredes dos locais de maior circulação do idoso devem ter barras de apoio fixadas, além da disponibilização de calçados apropriados e objetos de apoio como bengalas e andadores.

Imobilidade – a imobilidade pode ser parcial (pacientes em cadeiras de rodas ou com sérias limitações físico-motoras) ou total (pacientes restritos ao leito). Constitui-se na incapacidade do indivíduo se deslocar ou realizar outras atividades sem a ajuda do cuidador. Várias podem ser as causas de um imobilidade, de problemas doenças reumáticas, passando por fraturas e outros problemas ósseos até sequelas de um AVC ou longo período acamado. Diante deste quadro, o cuidador tem alguma prioridades como: evitar escaras, utilizando colchões d’água ou casca de ovo, aplicando massagens com óleos hidratantes, mudando-o de posição a cada duas horas; cuidar da alimentação do idoso, mantendo-o hidratado e provido de proteínas, água e outros nutrientes; realizar curativos apropriados.

Insuficiência Cognitiva – As Insuficiências Cognitivas podem afetar diferentes faculdades: memória, atenção, julgamento, abstração, linguagem, executiva (solucionar problemas) ou gnosia (reconhecimento de gestos e pessoas). Estas alterações geralmente estão ligadas a três transtornos mentais: Delirium, Depressão e Demência.

ASPECTOS PSIQUIÁTRICOS DA GERONTOGERIATRIA

Como citado anteriormente, dentro da avaliação multidimensional do idoso encontramos a Insuficiência Cognitiva. Para simplificar o entendimento desta matéria foram criados os Três D’s da geriatria: Delirium, Demência e Depressão. É justamente nesse ponto que o cuidado gerontogeriátrico encontra com a psiquiatria, auxiliando os pacientes a lidarem melhor com estes transtornos tão comuns ao idoso. Abaixo, segue indicadores de como identificar cada um destes transtornos:

Delirium – Pode ser identificado por cortes abruptos de consciência, comportamento flutuante e alteração no nível de consciência e atenção.

Demência – Caracterizada por déficits de memória e linguagem, dificuldade em resolver problemas, gnosia e perdas na função executiva.

Depressão – A Depressão pode ser identificada pelo humor deprimido, perda de prazer e interesse em realizar atividades, perda ou ganho de peso abruptamente, perda do sono, agitação, perda de energia, sentimento de desvalorização ou culpa, dificuldade de concentração ou memória, ideias de morte/ pensamentos suicidas.

Em todos os casos citados, o ideal é que um médico psiquiatra acompanhe o idoso junto com o geriatra e demais cuidadores envolvidos no tratamento. O papel do cuidador é sempre atuar para diminuir o grau de dependência do idoso, promovendo sua capacidade de estar no mundo