Muita gente pensa que falar sobre suicídio incentiva as pessoas a cometerem o ato. Contudo, especialistas afirmam que dialogar sobre o tema é a melhor forma de combater o problema e salvar vidas.
Este mês se realizou a campanha do Setembro Amarelo, uma iniciativa da Organização Mundial de Saúde para colocar o suicídio em pauta e ajudar as pessoas a prevenir e combater o problema. Seguindo esse movimento, Fabiana Nery, psiquiatra da Holiste, compareceu à Rádio Band News para esclarecer o tema.
Problema de Saúde Pública
Antes de mais nada, é preciso ter em mente que o suicídio é um problema de Saúde Pública, causando, aproximadamente, quase um milhão de mortes por ano em todo o mundo. Apesar disso, vemos poucas campanhas de conscientização e combate a este transtorno que causa um grande impacto na sociedade: “Se você pensar, isso em um ano, no mundo inteiro, o número de mortes por suicídio é maior do que o número total de homicídios, de acidentes de trânsito ou mortes por conflito ou guerra. Então é, sim, um problema de saúde pública” – Afirma a psiquiatra.
Suicídio x livre arbítrio
Outra ideia equivocada relacionada ao suicídio é pensar que se trata de uma escolha da pessoa. A verdade é que a vítima geralmente é portadora de um transtorno psiquiátrico, com um nível de sofrimento tão grande que a única solução que ele encontra é acabar com a própria vida. “Suicidio não é uma escolha, não é a decisão de uma pessoa que simplesmente está sofrendo. Em 90% dos casos de suicídio consumado, ou seja, os casos onde a pessoa consegue efetivar a morte através do ato da tentativa de suicídio, você tem um transtorno psiquiátrico que é a causa” – pontua Fabiana.
Segundo a psiquiatra, esta é uma ideia fundamental na prevenção e combate ao suicídio: “É importante lembrar que as pessoas não se suicidam por uma escolha ideológica, é o sintoma de uma doença. Se é sintoma de uma doença, a gente pode prevenir”.
A importância da conversa
Portanto, a maioria dos atos suicidas ocorrem pela falta do diagnóstico correto e de um tratamento eficaz do transtorno mental. O paciente geralmente não consegue identificar que está enfrentando um quadro de adoecimento, justamente por estar imerso no transtorno. O papel da família e de amigos é fundamental na identificação dos primeiros sintomas, de comportamentos diferentes do habitual, e é através do diálogo com o paciente que se pode verificar se há ali um sofrimento maior do que o normal.
“Falar com o paciente, perguntar para ele, não precisa nem esperar que ele seja a voz ativa, se ele já pensou em se matar, se alguma vez ela já pensou que não valia a pena viver ou se alguma vez ele já quis fazer algo contra ele mesmo, isso não vai dar a ideia para ninguém. Algo como ‘Ah, eu nunca tinha pensado nisso, mas agora que você tocou no assunto, quem sabe?’, não, isso não vai acontecer, ao contrário; em geral o que vai acontecer é que esses indivíduos vão se sentir mais aliviados de poder estar conversando sobre isso, porque aquele pensamento já está na cabeça dele há muito tempo. Então esse é o primeiro passo para procurar ajuda especializada e iniciar um tratamento” – conclui a especialista.
Ouça a entrevista completa: