Em entrevista à rádio Metrópole, o psiquiatra e psicogeriatra André Gordilho fala sobre as consequências do isolamento social na saúde mental dos idosos.
Nas últimas semanas, o Governo implantou algumas estratégias para conter o avanço do novo coronavírus e que talvez tenham um custo alto para a saúde mental dos idosos. O distanciamento social pode trazer sérias consequências e provocar o surgimento ou agravamento de transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
O psiquiatra e psicogeriatra André Gordilho explica como o isolamento pode atingir os idosos, e enfatiza a necessidade de um cuidado maior com esse público:
“O vírus tem uma letalidade maior na população idosa e precisamos tomar mais cuidado em relação a eles. Temos os idosos mais ativos, sem comorbidades, mas também temos aqueles que, com o envelhecimento, vão desenvolvendo algumas patologias relacionadas à idade, como o Alzheimer”, destaca Gordilho.
Confira a entrevista completa:
Distantes sim, sozinhos nunca
O confinamento tem desencadeado situações estressoras, desequilíbrio emocional e quadros depressivos em alguns casos. Na realidade, o período pode ser tratado como um distanciamento social, já que a tecnologia tem aproximado as pessoas neste tempo.
A adaptação de profissionais que viabilizam o atendimento médico e psicológico via videoconferência também tem sido fundamental para casos em que há necessidade contínua de acompanhamento.
“Vivemos um período de estresse e isso pode servir como gatilho de piora nos quadros depressivos. Quem já tem seu diagnóstico, não pare o tratamento! Faça contato com seus médicos para ser orientado. A telemedicina já está liberada, e a prescrição eletrônica já tem facilitado a vida das pessoas para evitar sair de casa nesse período”, enfatiza o especialista.
Afastando a solidão
Diante das circunstâncias é normal que o sentimento de solidão se faça presente. Porém, Gordilho aponta que “a solidão pode levar ao aumento da ansiedade e de quadros depressivos, bem como a preocupação constante com a possibilidade de contrair o vírus”.
Essa ausência de contato social pode trazer riscos ao funcionamento cognitivo do idoso. Por isso, vale a pena criar mecanismos para reduzir danos, como atividades de pintura, palavras cruzadas, algum entretenimento de seu interesse (como livros e filmes) são ações que podem tirar o foco da solidão.
Além disso, Gordilho alerta para o excesso de notícias: “Não é legal ficar o tempo todo só ouvindo notícias, mas diversificar as atividades que esse idoso vai fazer”, afirma o especialista.
Mudando a rotina
A distância social pode ser crucial para os idosos, principalmente àqueles que não tem familiaridade com recursos tecnológicos. O especialista também enfatiza que embora alguns idosos sejam mais ativos e independentes, há outros que necessitam de cuidado constante:
“Os idosos ativos têm uma dificuldade maior de estarem em isolamento porque estão acostumados a sair. Ao ficar em casa se sentem mais isolados e sozinhos. Aquele mais dependente a gente não tem como isolar completamente, porque ele necessita de alguém para as suas atividades diárias”, afirma o psiquiatra.
Gordilho aponta que esse momento pode ser oportuno para aproximar filhos do idoso: “É preciso ter criatividade para entreter ele e evitar o sentimento de solidão, e ainda aumentar e aprimorar o uso das tecnologias, porque isso ajuda a aproximar as famílias e amigos”, finaliza o psiquiatra.