“O que eu, pai ou mãe, devo fazer em relação ao fato de o meu filho, menor de idade, já beber?” Proibir radicalmente o consumo em casa e tentar vigiar 100% do tempo o comportamento dele em festas e baladas, ou pensar em alternativas para educar para o consumo responsável, mesmo antes dos 18?
Vamos aos fatos: o adolescente brasileiro de hoje já bebeu antes dos 18. Há poucas semanas, o Estado trouxe dados de uma nova pesquisa. A segunda edição do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da Unifesp, de 2012, ainda não apresentou os números finais sobre os jovens (em fase de análise), mas em sua versão anterior, de 2006, já mostrava tendências bem claras. O início do contato com a bebida se dá de forma precoce, em torno dos 14 anos e, após cerca de 6 meses, o uso se torna regular para quase um terço dos jovens: 24% deles bebem pelo menos uma vez por mês e quase metade dos garotos bebe ao menos três doses.
Em um mundo ideal, os jovens não beberiam antes dos 18. Assim, estariam mais protegidos dos efeitos nocivos do álcool sobre um sistema nervoso ainda em desenvolvimento. Sabe-se que quanto mais cedo se dá o primeiro contato com a bebida, maiores as chances de o jovem evoluir para um padrão mais complicado de consumo, como o abuso (beber muito em um curto intervalo de tempo) e a dependência. Isso se dá tanto pela questões biológicas quanto pelas fragilidades emocionais dessa fase (insegurança, timidez, autoestima, entre outras).
Quanto mais tempo o jovem puder adiar o contato com álcool, melhor. Assim, começar a beber aos 18 é muito melhor do que aos 13 ou 15. Mas esperar que todos os jovens, com base no diálogo ou na proibição dos pais ou da lei, deixem de beber é acreditar em conto de fadas. Mesmo nos EUA, onde a idade legal é mais alta (aos 21) e a fiscalização mais severa, uma em cada quatro latinhas de cerveja é consumida por um adolescente.
Na última semana, o 1.º seminário brasileiro de resultados sobre iniciativas para redução do uso nocivo do álcool, que aconteceu na Faculdade de Medicina da USP, trouxe resultados bastante positivos. Iniciativas como a restrição de venda de bebidas para menores em algumas redes de supermercados e a nova lei de São Paulo, que proíbe não apenas a compra, mas o consumo de álcool por jovens em bares, boates e restaurantes, estão diminuindo a oferta de bebida para esse público.
Mas a demanda continua em alta! Pressionados pela cultura do beber, muito forte em nosso país, pela influência dos amigos, pela propaganda e pela urgência do momento, os jovens são “tentados” a experimentar. E, nessa situação, muitas vezes um gole ou outro não resolve. O “open bar” e o “beber até cair” parecem muito mais atraentes.
Do ponto de vista prático, é quase impossível impedir o contato do jovem com a bebida. Por mais que os pais proíbam o consumo em casa, é difícil um controle eficaz em todos os momentos de lazer, principalmente quando eles estão longe dos responsáveis. Outro dado interessante, trazido por uma série de pesquisas, é que o primeiro contato com bebida para uma parcela considerável dos jovens (de um terço até quase a metade deles, dependendo do trabalho) já se dá na casa de pais ou familiares.
Talvez o caminho, de fato, seja educar o jovem para o consumo. Isso não significa dar espuminha de cerveja ou vinho docinho para uma criança de 5 anos ir se “acostumando” com o álcool, como fazem de forma inadequada pais mal informados. Também não significa ter de dividir a cerveja ou a taça de espumante com o filho na hora da janta. Mas trazer para dentro essa discussão pode ser um caminho.
Assim, nas famílias em que os pais bebem, o início poderia ser eventualmente tolerado, desde que sob supervisão e atenção dos responsáveis. Isso não garante que, uma vez longe dos olhares atentos dos pais, eles nunca vão tomar um “porre,” mas pode diminuir as chances de isso acontecer, já que eles teriam mais informações e experiência sobre a bebida. Proibidos pelos pais, eles talvez tenham de se “educar” na rua, ao sabor das pressões do grupo para que bebam mais e mais. Difícil escolha, mas, quando se trata de comportamento jovem, proibir quase sempre não é a melhor saída. Já conversar e negociar podem abrir uma possibilidade.
FONTE – O Estadão