Chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Ulm, na Alemanha, fala dos perigos da “demência digital”
OGLOBO: É possível dizer que o uso crescente de dispositivos de comunicação digital está mudando, ou poderá mudar a anatomia cerebral das próximas gerações?
MANFRED SPITZER: Sim. Como o cérebro muda constantemente com seu uso (o termo técnico é neuroplasticidade) não há como a anatomia não mudar.
Quais habilidades desta geração conectada podem melhorar e quais podem piorar?
MS: Há várias afirmativas de que as habilidades melhoram, mas nenhuma se apoia em evidências. Nativos digitais não são excelentes em pesquisas na internet, por exemplo. Em vez disso, clicam aleatoriamente e interrompem as buscas antes de terminá-las.
Os sintomas da “demência digital” são irreversíveis?
MS: O problema com o uso da mídia digital por crianças e adolescentes é que o desenvolvimento cerebral fica desequilibrado, o que leva a um desenvolvimento social e intelectual que poderia ser muito melhor. Na terceira idade, quando as células cerebrais morrem, por diversos motivos, os problemas que se desenvolvem dependem da “reserva cognitiva” que se construiu quando jovem. O estudo de Cingapura mostra que quando as crianças chinesas são ensinadas a usar computador, há o risco de que metade delas não seja mais capaz de ler. Se isso não mostra como pode ser perigoso, então não sei quando alguém terá ideia do que é.
FONTE – O Globo