Nem só de ficção vive o cinema. Entre os indicados a melhor filme do Oscar 2013, há títulos que abrangem importante temas da história mundial, como a Guerra de Secessão, a abolição da escravatura nos Estados Unidos, a Revolução Francesa e a Revolução Iraniana. As bases psicológicas e biológicas de um transtorno comportamental também são discutidas em “O Lado Bom da Vida”,
Professores consultados pelo UOL indicam o que se pode aprender com os concorrentes ao prêmio de melhor filme do ano: “Argo”, “Lincoln”, “Django Livre”, “O Lado Bom da Vida” e “Os Miseráveis”.
Guerra de Secessão
O filme “Lincoln”, dirigido por Steven Spielberg e baseado na obra da biógrafa Doris Kearns Goodwin, aborda os últimos quatro meses daGuerra de Secessão (1861-1865) nos Estados Unidos.
“A película focou no fim da guerra, de tal maneira que não há quase batalha. Ela aparece nos seus efeitos perversos, como por exemplo, na cena em que o presidente vai visitar os feridos”, analisa José Leonardo do Nascimento, professor de história do Instituto de Artes da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
O conflito, deflagrado no governo de Abraham Lincoln, ocorreu pelo choque de interesses entre os Estados do Norte, com uma economia industrializada e menos dependente da escravidão, e os do Sul, baseados na monocultura de exportação, nos latifúndios e na mão-de-obra escrava.
O problema retratado no filme de Spielberg não é mais vencer o Sul, e sim passar no Congresso a famosa emenda constitucional que estabelecia a libertação dos escravos, explica Nascimento.
“Não há justificativa econômica para a abolição. O trabalho escravo era produtivo”, analisa. “O que ocorre é que havia propostas abolicionistas dentro do partido republicano, e um de seus defensores se elegeu para a presidência”.
O filme é uma radiografia da política norte-americana. “Mostra um Lincoln amoral, capaz das piores negociações possíveis e de alongar a guerra, para fazer passar a emenda da abolição”, diz Nascimento.
Cotidiano da escravidão
“Django Livre”, dirigido por Quentin Tarantino, conta a história de Dr. King Schultz, um alemão que vive atrás de indivíduos fora da lei, cuja captura ou morte é premiada pelo Estado. Ele encontra Django, um escravo que conhecia alguns feitores que eram procurados.
Segundo Nascimento, no interior da narrativa ficcional, o aluno deve prestar atenção em questões comportamentais da época da escravidão nos EUA.
“Temos a reconstrução fílmica das grandes plantações e das magníficas casas sulistas, que têm um estilo neoclássico. Isso compõe uma espécie de mentalidade do ‘senhoriato’ da região, segundo a qual viviam em uma democracia que só era possível com a escravidão, o que é um paradoxo”, diz o professor da Unesp.
No filme, os dois personagens partem para a Virgínia, Estado que, segundo o historiador, era o da escravidão por excelência. Lá, Django enfrenta situações rotineiras para escravos, como ser proibido de entrar em bares.
Pobreza na França do século 19
O filme “Os Miseráveis” é uma adaptação musical do clássico de Victor Hugo. Na narrativa, ambientada no período pós-Revolução Francesa, entre a batalha de Waterloo e as barricadas de Paris, o personagem Jean Valjean é preso após roubar pão para alimentar sua irmã mais nova.
A pobreza de parte da população francesa era um grande problema do país já no final do século 18, no período da Revolução de 1789.
Segundo o historiador José Leonardo do Nascimento, da Unesp, a situação foi agravada pelas tentativas reformistas do Estado absolutista francês em uma situação de desempregos brutais, miséria no campo, carência alimentícia e crise das manufaturas.
“Houve uma crise social, ocasionada por vários fatores, dentre eles as péssimas colheitas nos anos 1780, geradas por problemas climáticos e, sobretudo, porque muitos impostos incidiam sobre o agricultor, que não conseguia mecanizar minimamente sua atividade econômica”.
Nesse período, a França ainda não havia passado pelo processo de Revolução Industrial, que já estava vigente na Inglaterra desde 1760.
Revolução Iraniana
O filme “Argo”, dirigido e protagonizado por Ben Affleck, mostra a estratégia de tirar do Irã diplomatas americanos, após a eclosão da revolução, ocasionada pelo pedido de asilo político do antigo xá (título de monarca) nos Estados Unidos e pela chegada ao poder do aiatolá Khomeini.
“Em 1979, acontece a Revolução Iraniana, com a derrubada do xá e a tomada do poder do aiatolá Khomeini. Nesse momento se acirra a rivalidade entre EUA e Irã, que vemos até hoje (…) O filme ‘Argo’ trata desse período e dos planos para tirar embaixador americano do país”, analisa Nelson Bacic Olic, geógrafo e coautor do livro “Oriente Médio: uma região de conflitos e tensões”.
Transtorno bipolar
Em “Lado Bom da Vida”, o personagem interpretado por Bradley Cooper sofre de transtorno bipolar e passa por uma clínica psiquiátrica por oito meses. Quando ele sai, se depara com uma realidade difícil.
Com reações sempre extremadas, hora autoconfiante na volta do casamento e em outros momentos bastante agressivo e impulsivo, chegando até a agredir a própria mãe, o protagonista começa a mudar seu comportamento quando conhece a personagem de Jennifer Lawrence.
Segundo Cláudio Reis, professor do Departamento de psicologia experimental e do trabalho da Unesp de Assis, não existe uma causa única para o transtorno, mas pode-se dizer que situações de extremo estresse podem propiciar o aparecimento dele.
“O tratamento é medicamentoso e é necessário que se faça acompanhamento psicoterapêutico”, finaliza.
FONTE – UOL