As marcas dos surtos psicóticos estão por toda a parte. No rombo do box do banheiro, nos vidros quebrados, na porta estourada a marteladas.
Há três anos, a dona de casa Ismerita Ferreira Santos, 53, tenta em vão internar o filho Julio, 22, dependente químico com transtorno bipolar e sintomas psicóticos, segundo laudo.
Em duas ocasiões de surto, em que espancou a mãe e os irmãos mais novos, ele foi atendido em prontos-socorros de hospitais gerais e liberado para seguir tratamento em casa porque não havia vaga para internação.
A mãe tenta agora internar o filho compulsoriamente, mas também enfrenta entraves.
A seguir, o depoimento.
“O Júlio sempre foi um ótimo filho. Inteligente, só tirava nota alta na escola. Mas, aos 18 anos, começou a trabalhar, a sair com os amigos para as baladas e a beber.
Depois, descobri que ele usava maconha. Chegou a transformar o guarda-roupas numa plantação da droga. Com o tempo, passou a usar cocaína, LSD e até crack.
Foi demitido e a situação só piorou. Começou a ficar violento, a falar sozinho e ter mania de perseguição. Agora parou de usar drogas, mas bebe muito. Pinga, inclusive.
Já peguei várias vezes falando sozinho e elaborando um plano para me matar.
Ele teve vários surtos, em que fica muito violento. Já apanhei dele e fiquei com vários hematomas. Ele também já bateu no meu filho caçula e na minha filha. Ano passado, foi morar com o pai, que pelo menos tem força física para enfrentá-lo.
Em duas ocasiões, ele foi para a emergência do hospital, dopado, mas liberaram no dia seguinte porque não havia vaga para internação. Mandaram ele tomar remédios em casa, mas não adianta. Ele não aceita.
Também não consigo levá-lo até um Caps. Uma vez tentei enganá-lo, mas ele descobriu e me bateu na rua. Luto agora para que ele seja internado compulsoriamente, é a única chance.
Mas até isso é difícil porque é preciso um laudo psiquiátrico para o juiz autorizar.
E eu não consigo levá-lo até um psiquiatra.
Uma vez consegui trazer o médico em casa, mas ele descobriu e fugiu. Amo meu filho, mas não sei mais o que fazer.”
FONTE – Folha de São Paulo