Novos equipamentos permitem compreender o trabalho do cérebro ao se concentrar ou divagar.
Quantas vezes você já foi a um cômodo de sua casa porque sabia que tinha ido até lá buscar um objeto, mas não lembrava o que havia ido pegar? Ou talvez tenha ficado em uma reunião ou sala de aula sonhando acordado, sem registrar o que as pessoas diziam? Ninguém está imune a esse tipo de situação e frequentemente passamos boa parte de nossos dias imersos em viagens mentais, pensando sobre algo do passado ou do futuro – o que nos deixa alheios ao que está acontecendo no presente. O problema é que, ao divagar, perdemos muito da vida. Na prática, esses períodos de “distanciamento” nos tornam mais propensos a acidentes e prejudicam a realização de tarefas ou mesmo o aprendizado. O estado mental oposto, a atenção plena (mindfulness, em inglês), se caracteriza por um estado de consciência calmo e concentrado – associado ao bem-estar físico e mental. O problema é que a maioria das pessoas não está acostumada a se manter assim.
Felizmente é possível aprender – e habituar-se – a direcionar a própria atenção de forma saudável. Mas para isso é preciso treinar a capacidade de concentração. Conforme desenvolvemos mecanismos para nos voltar para o “aqui-agora”, também passamos a direcionar nosso foco de atenção de maneira mais geral. Em última instância, a habilidade de dirigir a mente de forma consciente se traduz na possibilidade de controlar aquilo em que pensamos. Não é de surpreender que o domínio dessa habilidade nos torne mais autônomos e, consequentemente, mais felizes com a própria vida. E como essa atitude contribui para a melhoria do desempenho, estudantes e profissionais que devem manter foco preciso sobre o que estão fazendo – como cirurgiões, atletas e motoristas – costumam ser bastante beneficiados pela prática.
A LONGO PRAZO
Concentrar-se no agora, porém, nem sempre é apropriado quando você tem de fazer uma escolha entre um desejo imediato e um resultado futuro. Na verdade, uma das principais falibilidades humanas é a tendência de valorizar muito mais aquilo que podemos ter imediatamente do que recompensas futures ainda maiores. Para o cérebro, um benefício tardio parece muito mais distante do que realmente é, o que o torna menos tentador.
Esse funcionamento, que cientistas chamam de “desconto temporal”, leva à alimentação excessiva, gastos desnecessários, abuso de drogas e outros problemas associados à impulsividade e à falta de autocontrole. Mas nós não precisaríamos de autocontrole se nosso cérebro não fizesse constantemente esse triste erro de cálculo. Felizmente existem truques para lidar com esse problema. Um deles é atrasar a recompensa mais imediata. Se você esperar cinco minutos antes de comer uma barra de chocolate, acender um cigarro, comprar um sapato caro ou tomar qualquer outra decisão da qual sabe que depois vai se arrepender, seu desejo de fazer essas coisas será reduzido pela metade em relação a cinco minutos atrás. Essa providência simples ajuda a equilibrar o jogo, dando mais chances aos benefícios financeiros ou à saúde. Outras dicas para uma boa tomada de decisão incluem o detalhamento das consequências de uma recaída – em sua dieta, por exemplo, ou na decisão de manter-se sóbrio. Escrever fatos específicos que aconteceram no passado, ou que poderiam ocorrer, pode aumentar a importância desses cenários futuros. E se o que está por vir tiver peso maior, você estará mais inclinado a tomar uma decisão sábia no presente.
Há uma maneira high-tech de lutar pelo controle de sua própria mente e cérebro. Em alguns experimentos no qual é utilizada ressonância magnética funcional (fMRI) o participante do estudo visualiza sua própria atividade cerebral. A ideia é que, com essa informação, possa treinar técnicas que a aumentam ou diminuem, alterando assim sua experiência consciente. Para tanto, a pessoa deve entrar em um equipamento de scanner cerebral enquanto computadores coletam e analisam a atividade de seu cérebro, que em seguida é mostrada a ela. Os computadores representam essa atividade na forma, digamos, de uma chama às vezes mais, às vezes menos intensa e o voluntário tenta descobrir que pensamentos alteram essa atividade. Quando encontrar um que “funciona”, procura se fixar nele. Quanto mais o exercício é feito, mais hábeis nessa prática as pessoas se tornam. Estudos mostram que esse processo influi sobre a maneira como a pessoa se sente. A técnica pode ser utilizada, entre outras coisas, para diminuir a dor crônica persistente, que não responde à medicação e para combater os sintomas de Parkinson quando a concentração se volta para o aumento da atividade em áreas cerebrais envolvidas no controle motor.
Cientistas acreditam que, no futuro, as pessoas poderão aumentar ou suprimir sua atividade em áreas cerebrais específicas para diminuir a ansiedade ou acelerar a aprendizagem, por exemplo. Levando a ideia de controlar movimentos ao extremo, imagino, também, se ela pode ser usada para melhorar a habilidades nos esportes ou na realização de tarefas que exigem precisão. No momento, esse método de controle mental requer um scanner cerebral grande e caro – o que obviamente não o torna aplicável em situações menos críticas, a menos que sejam desenvolvidos dispositivos menores e mais baratos. A tecnologia, porém, parece muito promissora, o que nos leva a pensar que, em algumas décadas, muito mais pessoas tenham acesso a esse método de autocontrole. Enquanto esse tempo não chega, a prática da meditação pode ser uma forma eficaz, prazerosa e sem custo de aprimorar a concentração e viver melhor.
FONTE – Revista Mente é Cerebro