– Doenças cardiovasculares são mais frequentes no primeiro mês após o luto, sugere pesquisa britânica
– Risco de morte aumenta 25% no primeiro ano depois da perda
LONDRES – A morte do parceiro ou parceira pode mesmo partir o coração de quem ficou. De acordo com uma pesquisa britânica, o risco de infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) dobra no primeiro mês após o luto e vai declinando com o passar do tempo. É o que eles chamaram de “síndrome do coração partido”.
A pesquisa foi realizada pela Universidade de Londres, na Inglaterra, com 30 mil pessoas que haviam perdido o companheiro entre 60 e 89 anos. Segundo Sunil Shah, um dos líderes do estudo, a tristeza pela qual passa o parceiro que ficou faz com ele esqueça seus próprios problemas de saúde. Além disso, insônia e falta de apetite podem afetar o sistema imunológico e agravar condições médicas.
“Há evidências, a partir de outros estudos, de que o luto e a tristeza levam a uma série de respostas fisiológicas adversas, incluindo mudanças na coagulação do sangue, pressão arterial, níveis de hormônio do estresse e controle da frequência cardíaca”, escreveu Shah em artigo publicado na revista científica “Jama Internal Medicine”, ressaltando que, por isso, o risco de infarto e derrame aumenta.
Os dados dos 30 mil que haviam passado por luto recente foram comparados com os de 84 mil indivíduos cujos parceiros ainda estavam vivos durante o mesmo período. Os pesquisadores descobriram que 0,16% dos pacientes tiveram ataques cardíacos ou derrames dentro de 30 dias após a morte do companheiro – em comparação com 0,08% da população normal.
O estudo mostrou que o risco de morte era 25% maior para os que haviam perdido seus entes queridos, com maior número de casos nos primeiros três meses – onde o risco de problemas cardíacos ou AVC foi de aproximadamente um terço maior.
De acordo com o pesquisador, nos primeiros meses após o luto a chance de apresentar problemas cardiovasculares é ainda maior, pois é recorrente que os que estão sofrendo esqueçam de tomar medicamentos que regulam o colesterol ou a pressão.
“É importante que os médicos, amigos e familiares estejam cientes desse risco aumentado de infartos e derrames, para que possam assegurar os cuidados e o apoio num momento de maior vulnerabilidade, antes e após a perda de um ente querido”, afirmou Shah.
Outras pesquisas apontam que divórcio, operações e até mesmo um bilhete premiado na loteria podem provocar efeitos similares no coração. O motivo pode ser a adrenalina, explica Alexander Lyon, cardiologista do Hospital Royal Brompton, de Londres.
– A adrenalina e outros hormônios são bons em doses baixas e médias, porque eles fazem o coração bombear com mais força e mais rápido, o que você precisa em muitas situações, como quando você está fazendo exercícios – disse Lyon ao “Daily Mail”. – Mas em algumas pessoas, taxas muito altas de adrenalina têm um efeito tóxico sobre o coração.
FONTE – O Globo