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NOTÍCIAS - Número de fumantes em todo o mundo se aproxima de 1 bilhão

Apesar do alto índice, alcance do tabaco vem caindo, em termos proporcionais, nos últimos 32 anos. 

RIO – Sinônimo de atitude e liberdade por várias gerações, o cigarro vem perdendo muita da sua popularidade nas últimas décadas. Apesar disso, o número de pessoas que fumam em todo o mundo cresceu 34% nos últimos 32 anos e se aproxima do primeiro bilhão. A conta parece não fechar, mas a explicação é simples: a população global quase dobrou neste intervalo, alcançando cerca de sete bilhões de pessoas, e fez com que mais indivíduos mantivessem o hábito. Essa constatação é um dos destaques de uma pesquisa realizada pela Universidade de Washington, divulgada ontem na revista científica da Associação Médica Americana (JAMA).

Ainda que o total de usuários tenha pulado de 721 para 967 milhões, a prevalência do tabagismo global — proporção da população do mundo que fuma — tem caído. Entre 1980 e 2012, a parcela de homens fumantes foi de 41% para 31%; a de mulheres foi reduzida de 10,6% para 6,2%. No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), os números são mais animadores: entre 1985 e 2010, a queda de usuários chegou a quase 50%.

A pesquisa encontrou três fases nessa redução do tabagismo: um progresso modesto entre 1980 e 1996, uma aceleração nos dez anos seguintes e uma queda mais lenta de 2006 a 2012, com uma aparente alta da fatia de fumantes entre homens a partir de 2010. Ainda segundo o trabalho, o tabagismo caiu 42% entre as mulheres e 25% entre os homens nas últimas três décadas.

Os números, segundo a diretora da ONG Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) Paula Johns, comprovam uma característica marcante relacionada ao alcance do cigarro, que atinge principalmente as comunidades e nações mais carentes e vulneráveis.

— Em termos de saúde pública, o tabagismo é a maior tragédia que existe, pois apresenta mais fatores de risco e mata em maior escala do que outras doenças. E é um problema crônico para os menos favorecidos. Entre aqueles que têm mais de 11 anos de escolaridade, a prevalência não passa dos 10%. Para quem tem menos, o número chega a 20% — diz.

O levantamento mostrou que, durante o ano de 1980, 4,96 trilhões de cigarros foram consumidos em todo o planeta. Em 2012, o total foi de 6,25 trilhões. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a seguir esse ritmo atual, o cigarro irá matar um bilhão de pessoas no resto deste século. E metade dessas mortes deve ocorrer antes dos 70 anos de idade. Por esses e outros fatores, o chefe do estudo declarou que, apesar do enorme progresso feito no controle do tabaco, ainda há muito a ser feito em todo o mundo.

Guerra já dura 50 anos

O trabalho da Universidade de Washington reacende a discussão sobre o controle tabagista no mês em que se completam 50 anos da chamada “Guerra Contra o Cigarro”, iniciada nos Estados Unidos. Foi em 1964 que Luther Terry, então diretor da saúde pública do país, revelou um relatório associando uma relação direta entre fumo, câncer de pulmão e morte prematura de bebês. O documento também argumentou que os governos não poderiam ficar de braços cruzados diante do problema.

Desde então, o país passou a colocar rótulos de advertência nos maços de cigarro e a proibir anúncios publicitários. Também foram adotadas medidas como o aumento de impostos e a proibição de fumar em determinados locais públicos. A medida possibilitou, segundo o estudo publicado na JAMA, que aproximadamente oito milhões de vidas fossem salvas. Entre 1964 e 2012, 17,7 milhões de pessoas morreram em decorrência do fumo.

Desde o início da luta contra o tabaco, políticas semelhantes também aplicadas na Espanha reduziram em 40% a incidência de doenças isquêmicas do coração, 18% dos infartos do miocárdio e 20% dos casos de asma, segundo o jornal “El Mundo”. No país, a publicidade do tabaco também foi restrita. Em 1997, 34,5% das pessoas entre 51 e 64 anos fumavam. Em 2011 o total caiu para 30,4%.

Apesar da queda, em algumas nações o tabaco segue sendo a principal causa de morte evitável no mundo. As mortes relacionadas ao consumo triplicaram na última década, quando 50 milhões de óbitos foram registrados em função do problema — a metade de tudo o que foi somado durante o último século. O dado foi revelado no ano passado, na última edição do “Atlas do Tabaco”, publicado pela Sociedade Americana de Câncer.

De acordo com a OMS, para se alcançar as metas internacionais que concordaram em reduzir em 30% o consumo de tabaco até 2025, será necessário aumentar o total de países que implementam programas abrangentes para combatê-lo e tornar as regras ainda mais rigorosas.

No Brasil, índices em queda

O combate ao tabagismo no Brasil tem apresentado resultados expressivos nos últimos anos. Entre 1985 e 2010, a queda no total de usuários de cigarro foi de quase 50%, segundo estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) em parceria com a Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos.

A pesquisa projetou que, caso o Brasil não tivesse implementado nenhuma ação de controle do tabaco, o percentual de fumantes em 2010 seria de 31%. Isso significa que aproximadamente uma em cada três pessoas com 18 anos ou mais no país seria fumante. Com base nesses dados, calcula-se que pelo menos 420 mil mortes foram evitadas no período. Ainda assim, segundo o ONG Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), cerca de 130 mil pessoas morrem por ano (350 por dia) pelos efeitos do cigarro no país.

Outro estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apontou que apenas entre 2006 e 2012 a redução chegou a 20%. De acordo com o levantamento, 15,6% dos entrevistados (20 milhões de brasileiros) se declararam fumantes em 2012. Em 2006, esse índice foi 19,3%.

Para Paula Johns, diretora da ACT, os números são resultado de uma série de medidas adotadas há mais de 20 anos. Entre elas estão a adoção de imagens de advertência nas embalagens, desde 1996, a proibição de publicidade em veículos de comunicação de massa e a restrição do uso do cigarro em determinados locais públicos de sete estados. Mas ela aponta que não é hora de comemorar.

Políticas pontuais

De acordo com a diretora da ACT, as políticas no país são pontuais. Ela pede a regulamentação do artigo 49 da Lei 12.546, sancionado há dois anos, que trata da tributação ao tabaco, estende a restrição ao fumo a locais públicos para todo o Brasil, veta a publicidade em pontos de venda e proíbe a adição de sabor aos cigarros.

Segundo Felipe Mendes, técnico da Secretaria Executiva da Comissão sobre Controle do Tabaco (CONICQ) do Inca, com as ações atuais já implementadas, a projeção é que cheguemos a 2050 com cerca de 10% de brasileiros fumantes. Se as políticas forem intensificadas, o índice poderá cair para 6%.

 

FONTE – G1