Agenda sua consulta
Agende sua Consulta

Redes Sociais na medida certa | Revista Holiste

redes-sociais

Atualmente, as ferramentas digitais são uma importante fonte de conhecimento e, em particular, as redes sociais funcionam como um importante espaço de relacionamento para as mais diversas gerações. No entanto, o uso demasiado dessas ferramentas por crianças e adolescentes, sem o devido controle dos pais e responsáveis, pode expô-los a informações e influências indesejadas.

Nesta entrevista, a psicóloga Ethel Poll reconhece a internet/rede sociais como mais uma opção de informação, entretenimento e relacionamento, mas defende o limite de exposição às ferramentas e a prática de um diálogo aberto entre pais e filhos “de forma ‘desarmada’, dispostos a contribuir e também aprender com os jovens sobre este universo”.

 

Revista Holiste – Como a rede social interfere na educação dos filhos?

 Não é uma novidade que as redes sociais abriram um novo espaço e uma nova forma das pessoas se relacionarem, e isso tem seu reflexo na vida delas. Educar os filhos neste universo digital se torna um grande desafio, pois é um espaço aberto, uma terra sem fim, e neste meio as crianças e adolescentes estão sendo diariamente bombardeados com os mais diversos tipos de influências e informações, muitas vezes sem a mediação de um adulto responsável.

A criança está numa fase de construção do seu mundo psíquico, de suas defesas e de estruturação da sua subjetividade, e nem sempre está pronta para absorver, compreender e elaborar certas influências e informações disponíveis nas redes.

Já os adolescentes estão numa fase de abertura, de ruptura dos modelos parentais e buscas de novos ideais e novas referências.

 

RH – Como o uso abusivo da internet / rede social pode impactar no desenvolvimento social da criança e adolescente? 

EP – Precisamos compreender, e isso vale para os adultos também, que as redes sociais são uma ferramenta a mais para interação, entretenimento, comunicação e informação.  Tornar as redes um meio exclusivo para estes fins pode gerar, sim, um entrave no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Quando um indivíduo fica conectado à internet, às redes sociais de forma abusiva, isso interfere diretamente nas relações e na formação dos laços sociais.  A convivência com o outro e a formação de laços fora do mundo virtual é uma fonte infinita de experiências e aprendizados que favorecem o desenvolvimento de habilidades importantes para estar no mundo, devendo ser valorizada e estimulada.  A construção e afirmação de habilidades passam por esta via de interação com o outro; vamos construindo quem somos, percebendo nossas capacidades, experimentando nossos limites, vivenciando estas relações.  O uso exclusivo ou abusivo da internet como forma de relacionamento priva a criança ou o jovem de outros espaços de interação, que são de fundamental importância para o seu desenvolvimento físico, psíquico e emocional.

 

RH- Como os conteúdos das redes sociais podem interferir na segurança, formação, comportamento, nas funções cognitivas e no emocional deste público?

EP – Sem querer demonizar ou considerar que as redes sociais são o que de pior existe para uma criança ou adolescente, mas, é de extrema importância reconhecermos e alertamos sobre os seus riscos, que podem, em alguns casos, levar a um prejuízo emocional e/ou adoecimento psíquico. A internet captura as crianças e jovens de forma muito sedutora nesta fase da vida, em que a curiosidade está muito aguçada. Este espaço de conectividade, muitas vezes sem o crivo de um adulto, permite que uma criança tenha acesso a conteúdos aos quais, no momento, ela não tem estrutura psíquica com recursos para elaborar determinadas informações, podendo gerar angústia, culpa, irritabilidade, comportamentos agressivos, isolamento, dentre outros.

É muito grande a preocupação dos pais com a questão da violência nos dias atuais. Engana-se quem pensa que seu filho está protegido em casa, usando seu tablet, celular ou computador.  Os crimes digitais são uma realidade; violência digital, bullyng virtual e a pedofilia que tomaram conta das redes são riscos aos quais as crianças e jovens estão expostos, e que podem ter grande impacto na sua integridade psíquica e emocional.

 

RH- Como os pais devem abrir diálogo com os filhos em meio à guerra contra a tecnologia? Eles devem estabelecer critérios para uso das redes sociais?

 EP– Não acho que se deva travar uma guerra contra a tecnologia, pois entendo que ela não é o pior que pode existir para uma criança ou jovem. A tecnologia é uma realidade em nosso mundo, não temos como voltar atrás, e também não acho que devemos abrir mão dos muitos benefícios e facilidades que ela nos oferece. Combatê-la, obscurece nossa visão de futuro e obstaculiza nossa reflexão a respeito do tema. É preciso que esse tema esteja na pauta do dia, precisamos discutir sobre as novas mudanças e a melhor forma de conduzirmos tudo isso. Os pais precisam abrir um diálogo sobre este tema com seus filhos de forma “desarmada”, dispostos a contribuir e também aprender com os jovens sobre este universo.

Sobre a questão do controle, vejo isso de uma forma muito simples, é preciso limites! Estes limites irão depender muito do tipo de relação que a criança e ou jovem vem estabelecendo com estes meios; os pais precisam estar atentos para intervir na medida certa, se for o caso.  O diálogo aberto e franco sempre é o melhor caminho.

 

RH – Como substituir a internet/rede social por outras ferramentas de entretenimento, como livros, filmes, atividades recreativas, etc.?

Primeiramente, os pais precisam refletir sobre seus próprios comportamentos diante da internet e redes sociais. Não adianta privar a criança ou jovem do seu uso se eles mesmos chegam em casa e ficam colados nos seus computadores, celulares ou tablet.  É comum ouvir as crianças se queixando do tempo que os pais passam no Facebook e What’s App. Neste contexto, penso que o primeiro passo para fazer esta substituição é dar o exemplo. Mude também as suas ferramentas de entretenimento. Outro movimento importante é o desacomodar-se para propiciar e oportunizar aos filhos novos espaços de lazer. Incentivar a convivência com os amigos em casa e outros ambientes também é importante. É nas entrelinhas das atitudes dos pais que os jovens poderão ter a percepção da tecnologia como uma ferramenta a mais para sua diversão, se dispondo naturalmente para novas experiências.

 

RH – Os jovens que estão em tratamento psicológico devem ser privados do uso das redes sociais, jogos virtuais, dentre outras ferramentas?  

EP– É importante abordarmos esta questão de forma muito singular. Em muitos casos, o uso excessivo, a necessidade desmedida de estar sempre ligado, conectado as redes ou jogos virtuais podem ser um sinal, um indício de algo que não vai bem com aquele jovem, ou seja, que ele apresenta dificuldades de enfrentamento com o mundo real. Nestes casos, diante destas dificuldades, o meio virtual pode ser a sua única forma de se fazer presente no mundo e de se relacionar. É preciso saber fazer esta leitura e tomar cuidado ao mexer nisso. É papel do profissional avaliar cada caso na sua particularidade e orientar os pais neste sentido.

 

RH – Muitos pais postam fotos e fazem relatos ostensivos dos filhos nas redes sociais. Isso deve ter um limite? Acha correta tanta exposição das crianças?

EP – Os pais precisam se perguntar sobre qual o real objetivo, necessidade deste excesso de exposição.  É inegável que os filhos são uma fonte inesgotável de satisfação e orgulho para os pais, e estes querem dividir isto com as pessoas, é legítimo e natural. Mas é preciso que eles percebam que o excesso de exposição de seus filhos nas redes sociais pode estar colocando em risco a segurança, a integridade física e emocional dos filhos que tanto amam, em nome de seu próprio narcisismo.

 

RH – Como os pais devem agir com os filhos que produzem vídeos na internet?

EP – É preciso acompanhar de perto as postagens, os comentários, e ver como a criança e ou jovem se portam diante desta ferramenta. O jovem precisa ser educado e instruído sobre o mundo tecnológico e virtual, e principalmente ser alertado sobre os riscos desta exposição para lidar com tudo isso de uma forma segura e responsável.

Geralmente, quem produz algo na internet o faz buscando seguidores, espera ser querido, amado, espera que as pessoas gostem de suas produções, busca ser uma referência, um formador de opinião. Conversar com os jovens sobre o excesso de expectativas é importante para que aprendam a administrar suas frustrações e ou decepções diante da rede.