São muitos os tipos de violência associados ao ciúme. Violência psicológicas como xingamentos e ameaças ou violência física que podem acabar em agressões mais graves ou até mesmo casos de morte, como no caso da professora Sandra Afonso, que foi morta na escola onde trabalhava pelo marido motivado por ciúmes.
Dra. Fabiana Nery, médica psiquiatra da Holiste, participou do Bahia Meio Dia para explicar um pouco mais sobre a Síndrome de Otelo, que apresenta o ciúme em um nível patológico.
“É importante diferenciar o ciúme normal – que é uma emoção humana, universal, que existe em diversas culturas – do ciúme patológico. O ciúme normal, que é natural de todas as pessoas, seria um sentimento, onde você tem uma expressão de emoções relacionadas ao medo de perder a pessoa amada. Em geral essa emoção é transitória e está relacionada a casos específicos e tem uma intensidade normal para aquela situação. Quando falamos de um ciúme patológico ou doentio ou ainda a síndrome de Otelo, estamos falando de um quadro onde a pessoa tem a necessidade de posse e controle do ente amado, principalmente do controle do comportamento e dos sentimentos daquela pessoa”, esclarece a psiquiatra.
CARACTERÍSTICAS DA SÍNDROME DE OTELO
Os portadores da Síndrome de Otelo trazem uma significativa baixa auto-estima, insegurança e sentimentos de posse em relação a pessoa amada. Apresentam comportamento extremamente exagerados ou inadequados como perseguição, busca por provas de traição, invasão de celular e computador, controle de roupas e companhias que deve andar, entre outros. Esses são sinais de que o ciúme pode estar evoluindo para um caso patológico.
A psiquiatra destaca necessidade de uma atitude por parte da “vítima” para não reforçar o comportamento patológico, respondendo a questionamentos. Porém, dificilmente as pessoas ao redor podem fazer algo para modificar esse padrão de comportamento. É necessário buscar ajuda psicoterápica, muitas vezes até ajuda medicamentosa.
Alguns transtornos psiquiátricos podem cursar com sintomas característicos de um quadro de ciúme patológico, como por exemplo transtornos de ansiedade, depressão e transtornos psicóticos. Um caso clássico são os quadros de alcoolismo, até 30% de pacientes etilistas podem apresentar ciúme patológico.
AJUDA PROFISSIONAL
A busca por ajuda muitas vezes é adiada pelo forte preconceito em relação ao psiquiatra. Dra. Fabiana esclarece que a psiquiatria é uma especialidade médica como tantas outras na Medicina e que os transtornos psiquiátricos devem ser tratados tanto quanto as demais doenças. No caso do ciúme patológico, a médica coloca que, o psicólogo também está habilitado para fazer a avaliação.
“A diferença é que a psicologia vai cuidar das questões relacionadas a psicoterapia, comportamento, sentimentos e emoções. Caso o paciente precise de um tratamento medicamentoso para um transtorno psiquiátrico especifico associado ao ciúme patológico, como transtorno de ansiedade, transtorno delirante ou alcoolismo, o médico psiquiatra deve ser procurado. ”
CONTROLE X MOTIVAÇÕES
Questionada sobre as facilidades modernas, como aplicativos que ajudam a controlar onde a pessoa se localiza, Dra. Fabiana é taxativa:
“Sempre vão existir maneiras de controlar as pessoas que vivem ao seu redor, a questão é se você vai usar esses mecanismos ou não. Porque você precisa desse controle? O que está levando a precisar ter o controle da vida de outra pessoa? As questões sempre estão relacionadas as motivações internas que aquele indivíduo tem para desconfiar que está sendo traído ou que será abandonado. Entender os motivos, os pensamentos e as emoções que levam o individuo a exercer o controle é muito mais efetivo do que simplesmente tentar eliminar as formas de controle”, encerra a psiquiatra.