A psiquiatra Fabiana Nery realizou a palestra SUICÍDIO NÃO É ESCOLHA, com o objetivo de desmistificar a ideia de que o ato suicida é uma opção do indivíduo diante dos problemas em sua vida.
A palestra aconteceu durante o Encontros Holiste de setembro, que teve como tema ENTENDENDO O SUICÍDIO, como parte das ações do Setembro Amarelo, mês de prevenção do suicídio.
Assista ao vídeo da palestra.
PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
As mortes por suicídio são responsáveis por quase um milhão de óbitos por ano em todo mundo, figurando entre as três principais causas de morte – entre pessoas de 15 a 44 anos.
No Brasil, é registrada uma morte por suicídio a cada 45 minutos. Em números absolutos, o Brasil está entre os 10 países no mundo com mortes por suicídio.
“São números alarmantes, segundo dados da OMS, essa cifra supera, ao final de um ano, a soma de todas as mortes causadas por homicídios, acidentes automobilísticos, guerras e conflitos civis. Além disso, temos que levar em consideração, que essa contagem não inclui as tentativas de suicídio, de 10 a 20 vezes mais frequentes que o suicídio em si. Esse é com certeza um problema de saúde pública”, alerta Fabiana Nery.
SUICÍDIO NÃO É ESCOLHA
O suicídio é um fenômeno complexo, resultado de questões multifatoriais. Não é um único fator que irá desencadear o comportamento suicida. Existem fatores de vulnerabilidade e fatores de estresse que interagem entre si provocando o comportamento.
Porém, com a grande incidência de transtornos mentais associados ao ato suicídio, podemos afirmar que ele é o desfecho trágico de doenças psiquiátricas mal diagnosticadas e não tratadas. Em quase 90% dos casos de suicídio há o diagnóstico de doença mental – transtornos afetivos, transtornos psicóticos, esquizofrenia ou dependência química.
“Suicídio é um sintoma de gravidade de uma doença que não foi tratada de forma adequada, por isso não podemos dizer que suicídio é uma escolha. Detectar e tratar essas doenças é a forma adequada de preveni-lo”, afirma a psiquiatra.
A Dra. Fabiana Nery, cita o exemplo do Jogo da Baleia Azul e a série 13 Reason Why,
“O jogo da Baleia Azul, ou qualquer espécie de pacto suicida, influencia apenas pessoas que estão em vulnerabilidade. Jamais vai conseguir fazer com que a pessoa se mate, se ela não estiver adoecida”.
LEIA O ARTIGO DO DR. VICTOR PABLO SOBRE A PREVENÇÃO DO SUICÍDIO E A BALEIA AZUL
COMPORTAMENTO SUICIDA E TRATAMENTO
Apesar de ser um evento trágico, e em geral, causar um grande choque em todas as pessoas que conviviam, o ato suicida não acontece da noite para o dia. É possível identificar um “comportamento suicida”, onde a pessoa manifesta comportamentos não observáveis (desejo e ideação) e observáveis (comunicação e a tentativa).
Inicialmente, o indivíduo apresenta pensamentos de morte e vai evoluindo para ideias suicidas, desejo de morte, motivação, intenção, plano, tentativa de suicídio, atos impulsivos e suicídio consumado.
“Todas as fases demanda atenção, mas a partir da fase do plano, o risco começa a ficar mais intenso. Nesse momento, é imprescindível buscar a ajuda profissional. Diagnóstico precoce e a intervenção profissional é determinante”, explica a psiquiatra.
É necessário tratar a doença que está causando o sofrimento. E na grande maioria das vezes, o indivíduo irá precisar do tratamento medicamentoso, e em alguns casos mais graves, a internação.
“Ideação suicida é sintoma de gravidade de uma doença. E existe tratamento para essas doenças. Tratar as patologias psiquiátricas que o indivíduo possa ter é uma forma de prevenção. Tratando a doença, a ideação suicida desaparece”, acrescenta a psiquiatra.
AUSÊNCIA DO DIÁLOGO
A psiquiatra destacou também a importância de falar sobre o assunto.
“Existe uma percepção equivocada, inclusive na mídia, que é achar que falar sobre suicídio irá incentivar as pessoas a fazerem isso, mas o que percebemos, é que isso não acontece, entretanto existe a maneira correta para abordar o assunto.
Falar sobre isso não vai dar a ideia de cometer suicídio , é exatamente o contrário. O indivíduo que está com pensamentos suicidas vai ficar aliviado em falar sobre isso, e em buscar uma ajuda, uma saída dessa situação. Se notar algo em um familiar, um amigo, perguntem, mas sem julgamento, apenas oferecer a ajuda”, conclui.
O SETEMBRO AMARELO ACABOU, MAS O DIÁLOGO CONTINUA
Desde 2014 o Brasil conta com uma campanha de conscientização sobre o suicídio: o Setembro Amarelo. A campanha tem o objetivo de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo, suas formas de prevenção e a importância de se falar sobre o tema.
Este ano, a Clínica Holiste idealizou sua própria campanha com o mote “Suicídio: Quanto mais se fala, menos acontece”. O objetivo é levar mais informação para a sociedade e ajudar a incentivar o diálogo como forma de prevenção.