A psicóloga e Coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da Holiste, Luana Dantas, falou sobre o tema em entrevista ao programa Metrópole Saúde.
Vivemos em uma sociedade atravessada pela tecnologia. Do celular ao tablet, da televisão às redes sociais, tudo faz parte do nosso dia a dia e já não existe um “mundo sem telas” para as novas gerações.
Mas como esse cenário impacta a mente em formação de crianças e adolescentes? Esse foi o tema da conversa com a psicóloga Luana Dantas, coordenadora do Núcleo Infantojuvenil da Holiste, no programa Metrópole Saúde.
Uma infância diferente da nossa
Se no passado o desenho animado tinha hora marcada para passar na TV, hoje o YouTube, o TikTok e o Instagram oferecem conteúdo sem fim, a qualquer momento.
“As crianças já nascem com o dedinho que desliza a tela”, lembra Luana. E essa exposição precoce traz consequências importantes: dificuldades de atenção, aceleração do ritmo de vida e, principalmente, impactos emocionais.
Autoestima e o olhar do outro
Nas redes sociais, tudo é avaliação. A selfie tirada 30 vezes até sair “perfeita”, o número de curtidas, os comentários, tudo isso cria uma vitrine em que a vida parece sempre editada.
“Até o sorriso natural hoje é ensaiado”, observa a psicóloga. Essa lógica atinge de forma intensa os jovens, que buscam validação externa e podem desenvolver ansiedade, depressão e distorção da autoimagem.
O que é público e o que é privado?
Um dos pontos mais delicados trazidos pela entrevista é a dificuldade atual de separar a vida íntima da vida exposta. Crianças e adolescentes muitas vezes têm a imagem divulgada sem que sejam consultados, ou passam a criar perfis “paralelos” para compartilhar conteúdos apenas com um grupo restrito de amigos.
“Os jovens estão nos dizendo que não querem expor tudo para todo mundo”, destaca Luana. Ainda assim, esse movimento pode gerar riscos, como exposição a conteúdos íntimos e vulnerabilidade a situações de violência online.
O papel dos pais (e dos adultos)
Não se trata de demonizar a tecnologia. O desafio está no uso consciente e entender que os recursos digitais podem enriquecer a vida, mas também exigir limites.
E isso começa pelo exemplo: “Muitos pais dizem que os filhos não largam o celular, mas eles mesmos estão sempre conectados”, lembra Luana.
Além disso, é essencial ensinar às crianças a importância de:
- viver momentos sem registro – nem tudo precisa ser postado;
- suportar o tédio e o silêncio – espaço fundamental para criatividade e saúde emocional;
- respeitar o tempo – não transformar a rotina infantil em uma corrida constante.
Tecnologia não é vilã, mas precisa de equilíbrio
A grande mensagem é que a tecnologia não é um problema em si. Ela é um avanço humano, um recurso criado para melhorar a vida. O que precisamos é repensar como usamos esses recursos e o impacto que esse uso tem em nossas relações, especialmente na formação dos jovens.
“Ter tempo é ter saúde mental”, resume Luana. Entre conexões digitais e conexões humanas, cabe a cada família encontrar o equilíbrio.