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Transtorno Bipolar e o Suicídio – O risco é não falar sobre isso

transtorno bipolar

No segundo episódio da Websérie Bipolaridades, Caroline Severo, psicóloga da Holiste, esclarece pontos importantes sobre o suicídio em pacientes com Transtorno Bipolar.

O transtorno bipolar é uma das doenças psiquiátricas com maior índice de suicídios, ao lado da depressão. Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar, de 30% a 50% dos pacientes com o diagnóstico tentam o suicídio. Mas, no transtorno bipolar, detectar os sintomas e o risco de um quadro suicida é uma tarefa ainda mais complexa, pois tanto na fase depressiva quanto na euforia existe a possibilidade do paciente cometer o ato.

Caroline Severo esclarece os pontos mais importantes que envolvem o suicídio em pacientes com transtorno bipolar, suas particularidades, sinais identificáveis, estratégias de auxílio, tratamento e a polêmica que existe em se falar sobre o tema. Afinal, é importante abordar o assunto ou isso potencializa o ato?

Assista ao segundo episódio da série:

 

MANIA X DEPRESSÃO

Quando pensamos em transtorno bipolar, a primeira coisa que pensamos é na total diferença sintomática entre as fases da depressão e da euforia (também chamada e mania). Daí vem o nome do transtorno bipolar, por essa presença de quadros de humor completamente opostos, polares.

Mas, quando falamos em suicídio no transtorno bipolar, ambas fases do humor podem levar a pessoa a cometer o suicídio, ainda que por motivações diferentes. Um quadro agudo de depressão pode apresentar um risco tão grande quanto um quadro agudo de mania, por exemplo.

“O que a gente percebe muito é que há uma relação mortífera, tanto na mania quanto na depressão, com o outro. Então, o que a gente percebe na mania é que há uma superação de tudo que, possivelmente, foi perdido para ele. Não há mais sentimento de falta, ele está totalmente preenchido, a euforia dá essa sensação de que ele pode tudo, que ele dá conta de tudo, e o quanto, por causa disso, ele se coloca em situações de risco que podem, sim, levar ao ato suicida.

“Na depressão há uma ruptura no sentido da relação com o próprio eu: ‘Eu sou um nada, eu não tenho nada, eu não sirvo para nada’ – e muitas vezes esse sentimento de vazio, de inutilidade, leva a atos extremos como o suicídio” – explica Caroline.

 

O QUE DESENCADEIA O SUICÍDIO?

O suicídio é um ato muito complexo, multifatorial. Geralmente, os pacientes (tanto neuróticos quanto psicóticos) chegam ao ponto de ruptura com a vida devido a um grande sofrimento. Quando pensamos no paciente neurótico, percebemos o ato suicida como uma convocação do olhar do outro, é uma forma de pedir ajuda que sai do controle, como a pessoa perdesse a mão no cálculo de suas ações e tendem a apelar para formas extremas para chamar a atenção desse outro.

Com a psicose percebemos que se trata de uma ruptura com aquele sofrimento, com a presença de alucinações e delírios. O indivíduo pode acreditar, por exemplo, que algo ou alguém vai machucar sua família se ele não se matar. Ou, o que é bastante comum, ouvir uma voz mandando-o se matar. Nas duas ocasiões, a pessoa tem total fé nessas mensagens, o que torna o risco do quadro bastante alto.

“O que a gente percebe é que o suicídio é um ato extremo, um ato de muito sofrimento, acompanhado de pequenos sinais. Então, uma pessoa não se suicida do dia para a noite, ela geralmente apresenta sinais” – pondera a psicóloga.

 

ENTENDENDO OS SINAIS

Família e amigos apresentam dificuldade em identificar os gatilhos. Na maioria das vezes, interpretam os sinais como traços de personalidade, comportamentos excêntricos, confundem com traumas momentâneos, traumas infantis ou um luto recente.

“A gente sempre começa orientando a família e o indivíduo de que quando ele começa a não dar conta de coisas que comumente ele dava, isso é um sinal de que ele precisa buscar ajuda.

Muitas vezes começa com perda de sono, dificuldade de produzir (seja no trabalho ou em casa), isolamento, não só o isolamento social, mas afetivo” – exemplifica a especialista.

 

PEDINDO AJUDA

Geralmente, as pessoas demoram anos para pedir a ajuda de um especialista. Só depois que algum episódio grave acontece, seja em um surto depressivo ou de mania, que a família ou paciente procura um profissional especializado. Esse tipo de comportamento é ruim porque, quando acontece um evento de crise, a doença já atingiu um estado mais avançado, que poderia ter sido evitado com uma abordagem precoce.

“É importante que se recorra a ajuda profissional antes que, de alguma forma, esse diagnóstico vá se cornificando. Não só o diagnóstico, mas que o indivíduo vá cornificando o seu olhar diante de suas próprias questões.

É importante a gente falar sobre esse assunto. (…) Se a gente consegue orientar a família, orientar o indivíduo de que  há a possibilidade de viver com suas frustrações subjetivas, a partir de um tratamento, pode mudar sua perspectiva da sua relação com a vida” – finaliza.