No sexto episódio da websérie Bipolaridades, a psicóloga Caroline Severo diferencia as características de personalidade dos aspectos relacionados às alterações de humor.
O transtorno bipolar é caracterizado pela alternância de episódios depressivos e eufóricos que causam alterações no comportamento e personalidade do indivíduo. É bastante comum que pacientes com transtorno bipolar não recebam o tratamento adequado pela ausência de um diagnóstico.
De acordo com a psicóloga, isso acontece porque há uma confusão entre os aspectos relacionados à personalidade e as características sintomatológicas da doença.
“É comum ouvir: ‘ele tem personalidade forte’, sendo que isso se trata da expressão da crise. Lógico que ela não inventa um sujeito que não existe, mas amplia os aspectos disfuncionais daquele indivíduo e, também, suas frustrações subjetivas”, destaca a especialista.
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Onde termina a doença e onde começa a pessoa
Indivíduos que estão em quadro de euforia por vezes apresentam sintomas como irritabilidade, agressividade, exposição a riscos, sentimento de onipotência, gastos financeiros compulsivos, entre outros. Muitas vezes, esses comportamentos são encarados como aspectos da personalidade, pelo fato de tanto a família quanto o paciente desconhecerem os sinais da doença.
Caroline aponta que é necessário separar o que faz parte da personalidade da pessoa daquilo que se caracteriza como uma alteração patológica do humor, condição que pode levar prejuízos para a vida social, familiar e pessoal do paciente.
“O tratamento facilita o processo de adesão. A gente observa que esse estigma do transtorno bipolar, de nomear com patologias qualquer aspecto da sua personalidade, inibe e tende a corromper o tratamento”, destaca a psicóloga.
Inclusão do indivíduo
É fundamental incluir o indivíduo no processo, não apenas com o diagnóstico do transtorno, mas, principalmente, fazê-lo entender que existem novas formas de lidar com suas próprias questões e que elas não passam pela repetição sintomática causada pelo transtorno.
Embora haja sempre um núcleo de sintomas muito peculiar em todas as crises, quando se retomam as questões com as quais o indivíduo não consegue se confrontar, a avaliação e o acompanhamento dos profissionais são indispensáveis para evitar a recorrência das crises, pois a visão do especialista ajuda a amenizar a confusão entre o que são os aspectos da personalidade do paciente e o que são alterações de humor, o que possibilita que o indivíduo, mesmo assumindo seu diagnóstico, se reconheça para além do transtorno.