O Tratamento de Dependência Química é o tema do quinto vídeo da série Desmistificando a Saúde Mental. O psiquiatra Luiz Guimarães e os psicólogos Pablo Sauce e Ueliton Pereira abordam o assunto de maneira clara e direta.
Dentre os pontos abordados, os especialistas falaram sobre as características da dependência química e tratamentos, além de destacar a importância da família no engajamento e responsabilização do paciente em todo o processo.
O QUE É DEPENDÊNCIA QUÍMICA?
A dependência química é definida como um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos, que se desenvolvem após o uso repetido de determinada substância. Pode estar relacionada a uma substância psicoativa específica (cigarro, álcool ou cocaína), a uma classe de substâncias (opioides) ou a um conjunto mais vasto de diferentes substâncias.
Trata-se de um transtorno mental, uma doença crônica, onde diversos fatores podem contribuir para o seu desenvolvimento, incluindo a quantidade e frequência de uso da substância, a condição de saúde do indivíduo e aspectos genéticos, psicossociais e ambientais.
“Quando falamos de dependência é porque houve um aumento de um consumo, um descontrole desse uso. As pessoas acabam perdendo o rumo de sua vida, acabam perdendo sua autonomia, e vivem com a droga como se fosse uma bengala. Há um uso dependente da substância. Mas, nosso foco não é a substância e sim a pessoa. Nós tratamos o sujeito que faz uso da substância, mas que perdeu o controle da vida”, explica o psicólogo Ueliton Pereira.
Porém, é importante diferenciar o comportamento de “Abuso” da “Dependência Química”. Abuso é um padrão de uso de uma ou mais substâncias em grandes doses, podendo provocar algum sofrimento no indivíduo, trazer prejuízo ao seu funcionamento social/ ocupacional. A despeito das consequências negativas, o abusador persiste no uso. Já a dependência química vai além destes fatores, ficando caracterizada quando o consumo das substâncias é constante e foge ao controle do indivíduo, passando a desempenhar um papel invasivo, central e desestabilizador em sua vida.
TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
A Dependência Química apresenta características que distinguem de outros transtornos mentais, por isso o tratamento demanda um programa específico para a recuperação do adicto.
Existem quatro perspectivas que orientam o tratamento de um dependente químico: Medicação, Abstinência, Psicoeducação e Responsabilização.
“Cada uma dessas abordagens é um tratamento em si. A gente aposta na convivência das quatro vertentes, e utilizamos cada uma em função do caso ou do momento em que cada paciente se encontra”, afirma Pablo Sauce, psicólogo e coordenador do Programa de Dependência Química da Holiste (PDQ).
No PDQ da Holiste, as diferentes visões e abordagens da psiquiatria e psicologia trabalham de forma coordenada, conjunta, contribuindo para facilitar a adesão do paciente ao tratamento.
SAIBA MAIS SOBRE O PROGRAMA DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA NA HOLISTE
MEDICAÇÃO E INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
Um questionamento comum em relação ao uso de medicação no tratamento é o pensamento errôneo de que o indivíduo estaria “trocando uma droga por outra”. O uso da medicação entra em uma parte especifica do tratamento, para estabilizar outros transtornos (depressão, ansiedade, etc) ou tratar sintomas da abstinência.
“Nem todos pacientes precisam ser medicados, mas uma boa parte deles sim. O desconforto causado pela mudança de comportamento é muito grande, por isso muitas vezes ele precisa do suporte da medicação. Seu uso é pontual, sendo utilizada apenas em uma parte do processo de tratamento”, esclarece o psiquiatra Luiz Guimarães.
Assim como medicação, a internação psiquiátrica é um poderoso recurso no tratamento da dependência, onde o principal objetivo é a estabilização do quadro psiquiátrico ou da síndrome de abstinência. É nesse período que o psicólogo trabalha para ganhar a adesão do paciente ao tratamento.
“Em casos mais graves é necessário internar. Quando o sujeito, em função do uso ou do comportamento, coloca em risco a si ou a terceiros, ou perturba a ordem pública, está em um quadro muito grave de exposição social e moral em função do consumo, a internação se faz necessária. A internação não é o último recurso, porém é o mais adequado para aquele momento”, acrescenta Dr. Guimarães.
O PROCESSO DE RESPONSABILIZAÇÃO
Despertar o sentimento de responsabilização individual é um dos objetivos do programa, pois apenas tomar consciência do prejuízo causado pelo uso da substância não é suficiente para mudar o comportamento.
“A dependência é uma doença, mas se só ficarmos nisso o paciente se encobre, se esconde por trás do diagnóstico. Como responsabilizar o sujeito pelos atos que ele comete em função de sua decisão pelo uso de uma droga? Como torná-lo responsável pelas suas escolhas e pelo sua melhora? Esse é o objetivo do tratamento. A gente não entra em julgamentos morais, se é para usar ou não, essa decisão é do indivíduo, mas trabalhamos o que ele vai fazer para responder por esse uso”, clarifica Pablo Sauce.
O trabalho com o dependente químico é, também, um processo de prevenção de recaídas, como explica o Dr. Guimarães:
“Nós tratamos as crises. Contudo, mais importante que isso é o trabalho de prevenção de novas crises. A ideia é que o paciente tenha cada vez menos crises, até que um dia ele deixe de tê-las. Mas isso é um processo que leva tempo e que depende de vários fatores.
Não funciona dizer “pare de beber ou fumar”, isso é decisão de cada um. Até mesmo porque as pessoas fazem o que elas querem fazer. Mas estamos do lado dele para ajudá-lo”, conclui o psiquiatra.
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