Fabiana Nery, psiquiatra da Holiste, fala sobre a possibilidade do agravamento de quadros psiquiátricos em função do isolamento social.
Um cenário de pandemia e isolamento social pode levar ao desenvolvimento ou agravamento dos sintomas de algum transtorno mental. Um estudo publicado na revista The Lancet revela que casos de ansiedade e estresse cresceram mais que o dobro, durante a pandemia, enquanto os de depressão tiveram aumento de 90%.
Fabiana Nery explica que a saúde mental é uma área que precisa de muita atenção neste momento: “Sem dúvida, vamos ter consequências porque as pessoas estão distanciadas e por outro lado temos pessoas que estão dentro de casa convivendo por muito tempo. O impacto vai ser por conta dessa mudança no padrão de relacionamento, e da dificuldade de lidar com coisas que antes não existiam”, aponta a psiquiatra.
Assista à entrevista:
Acompanhamento contínuo é fundamental
Os sintomas psicológicos mais frequentes durante situações como a que vivemos são: medo, angústia, insônia, preocupação excessiva, incapacidade de relaxar, pensamentos catastróficos, entre outros.
Fabiana destaca a importância da ajuda profissional e como o acompanhamento contínuo faz a diferença: “Pacientes que estavam em tratamento regular e que tinham histórico de doenças graves como ansiedade e depressão, em acompanhamento, estão bem durante a pandemia. Estão lidando bem com situações que outras pessoas sem transtornos mentais não estão lidando tão bem”, afirma.
A especialista reitera que casos com acompanhamento irregular tiveram agravamentos dos sintomas, e isso demonstra o quanto o tratamento é importante para proteger o paciente.
Além da normalidade
Os casos do coronavírus têm aumentado e gerado angústia na sociedade. Esses sentimentos, quando influenciam na rotina e trazem prejuízo ao indivíduo, devem ser investigados. De acordo com a psiquiatra, uma mudança brusca como o isolamento social pode trazer piora dos sintomas.
“O cerceamento do direito de ir e vir pode piorar os sintomas desse paciente. No entanto, é importante lembrar que a ansiedade é um sentimento da vida; é natural que um certo grau exista nesse momento”, diz Fabiana.
A especialista destaca que o importante é saber diferenciar o que é piora do sintoma, início de um sintoma novo, e estar atento a pessoas que não apresentavam ou apresentavam de forma leve, e agora esse sintomas passam a atrapalhar a vida do indivíduo, sendo necessário o tratamento com um especialista.
O apoio da família
Essas mudanças no padrão de relacionamento e comportamento podem ser notadas principalmente pela família. Neste sentido, o apoio familiar é extremamente importante na detecção de alterações, mas não é o único.
O próprio indivíduo pode identificar mudanças no sono, alimentação, concentração, níveis de impaciência ou irritabilidade. “Isso é um sinal de alerta. Às vezes a pessoa muda, mas ela não percebe que está mais ríspida ou desatenta. A família é importante nesse aspecto porque o paciente pode não identificar. E saber como abordar, sem um julgamento moral, dá a família um papel muito importante também para procurar ajuda”, finaliza a psiquiatra.