A internação psiquiátrica, enquanto modalidade terapêutica, sempre foi alvo de muita polêmica e discussão. Neste contexto, a Ambientoterapia aparece como um possível ponto conciliador, onde a ambiência institucional se torna um grande aliado terapêutico.
A saúde mental ocupa cada vez mais espaço nos debates sobre saúde pública. Somente os transtornos depressivos e de ansiedade atingem mais de 30% da população mundial o que, aliado às outras comorbidades psicológicas, impacta desde o sistema previdenciário às taxas de violência urbana. O crescimento do número de diagnósticos, o avanço das medicações psiquiátricas e o aumento das possibilidades de tratamento colocam a saúde mental em pauta, ainda mais se pensarmos que, devido a um longo período de negligência da administração pública e de perseguição ideológica à psiquiatria, pouco se produziu no sentido de informar as pessoas sobre as doenças mentais e seus tratamentos, bem como quase nada foi feito para combater preconceitos em torno do assunto.
Nos últimos duzentos anos, com a progressiva urbanização das populações dos países industrializados, não foi mais possível ignorar os doentes mentais, antes dispersos em amplas áreas rurais. Desde então, as políticas de internação de doentes mentais variou conforme o poderio econômico das sociedades, as visões socioculturais e religiosas, as ideologias políticas e o prestígio das ciências médicas e psicológicas. Assim, conforme a época e o lugar, o destino dos doentes mentais graves eram as prisões, os asilos de cunho social ou os hospitais psiquiátricos.
O avanço das terapias biológicas e dos psicofármacos possibilitou que mais da metade da população institucionalizada retornasse ao convívio social. Hoje, mais de 90% das pessoas com transtornos mentais são assistidas em ambulatórios e consultórios, enquanto os outros 10% em hospitais psiquiátricos, hospitais dia e residências terapêuticas. Assim, o combate ideológico feroz contra a internação psiquiátrica veio perdendo força, uma vez que sua utilidade terapêutica fica cada vez mais evidenciada e restrita aos casos onde o sujeito perde seu poder de autodeterminação, colocando sua saúde (física, mental, social ou financeira) e a de terceiros em risco.
No contexto da medicina moderna, os hospitais psiquiátricos mudaram de forma e de função. Os antigos manicômios, de caráter asilar e excludente, que mantinham centenas de doentes mentais segregados em espaços precários, deram lugar a pequenas clínicas que desenvolvem um trabalho terapêutico e reintegrador.
AMBIENTOTERIA E A MODERNA INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA
O tratamento de transtornos mentais, em geral, pretende cuidar dos indivíduos com sofrimento psíquico sem ocupar-se somente daquilo que pode ser considerado uma doença. Assim, o objetivo é atender essas pessoas em sua individualidade e em sua relação com o meio social. Nos últimos anos, nota-se um grande esforço em humanizar o tratamento em saúde mental, na tentativa de melhor acolher os pacientes e promover o seu bem estar. A Ambientoterapia vai além da simples humanização em voga, colocando a relação entre o sujeito e o ambiente no qual está inserido em outro patamar, possibilitando que esta interação promova o seu crescimento e desenvolvimento pessoal.
A internação psiquiátrica stricto sensu é um instrumento de contenção de comportamentos de risco que envolve aspectos clínicos, psicológicos, sociais, familiares, culturais, legais, e que impactam fortemente na vivência do paciente, com repercussões para o resto de sua vida. Realizada de maneira pragmática pode, inicialmente, reduzir a sintomatologia aguda, mas dificilmente contemplará questões complexas e fundamentais para o paciente, como a reinserção social, aceitação familiar e retorno funcional. Considerando que o prognóstico das doenças mentais, inclusive as sequelas funcionais, depende da personalidade do paciente e da forma com este se relaciona com o seu ambiente, a abordagem das questões relativas a essa personalidade são da maior relevância.
A Ambientoterapia aumenta extraordinariamente o potencial terapêutico da estrutura hospitalar psiquiátrica. Além da estabilização dos quadros de crise, a Ambientoterapia resgata para o hospital psiquiátrico a possibilidade de lidar com as comorbidades de natureza psicológica que interferem de forma determinante no tratamento. A implantação da Ambientoterapia requer a construção de um espaço que seja primordialmente de vivência, com ambientes de recolhimento e de socialização, abarcando uma estrutura hospitalar psiquiátrica solida que, embora presente, não seja aparente.
De acordo com a Diretora técnica da Holiste, a enfermeira psiquiátrica Sandra Simon Siqueira, “É importante frisar que a Ambientoterapia não é a mera formatação de um espaço físico agradável. O conceito deve ser entendido como a manutenção de uma ambiência terapêutica saudável, onde todos os componentes nela inseridos, como pacientes, médicos, terapeutas, enfermeiros espaço físico e valores institucionais, permitem e viabilizam uma relação de troca e aprendizado”.
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NOVA SEDE HOLISTE
A construção de um espaço terapêutico que contemple os aspectos da Ambientoterapia tem por objetivo criar um novo paradigma em termos de assistência hospitalar psiquiátrica, diferenciando-se do que é oferecido atualmente.
O projeto da nova sede da Holiste foi especialmente planejado a partir desse conceito, aplicado não só no funcionamento da instituição, como também em sua estrutura física – engenharia e arquitetura – de modo a proporcionar qualidade de vida aos portadores de transtornos mentais e facilitar sua reinserção na sociedade.
A nova sede, considerada inovadora por ser, essencialmente, um espaço de convivência, valoriza muito esse aspecto, desde o prédio que abriga os consultórios até os espaços de internação. “É uma estrutura que enche os olhos não apenas por sua grandiosidade, mas pela beleza e inovação do design, que deixa claro o uso da ambientoterapia em cada parte da construção. O espaço da internação, por exemplo, é absolutamente plano e foi projetado levando-se em consideração que o paciente psiquiátrico deve ter sua capacidade de locomoção facilitada naquele ambiente, aumentando sua sensação de segurança e liberdade”, afirma Sérgio Almeida, engenheiro responsável pela obra.
Com inauguração prevista para o segundo semestre de 2016, a nova sede da Holiste fica localizada próxima ao parque de Pituaçu, com mais de 6 mil m² de área construída. A nova clínica contará com 12 consultórios para atendimento ambulatorial e 60 leitos de internação psiquiátrica.
O ambiente de internação é destaque no projeto, oferecendo, inclusive, uma ala projetada exclusivamente para pacientes idosos, que tem necessidades físicas específicas. A clínica deve se consolidar como uma das principais estruturas voltadas para Psiquiatria e Saúde Mental do Norte-Nordeste.