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A saúde pede passagem | Por Luiz Fernando Pedroso

Em artigo publicado na última quarta-feira, no jornal A Tarde, Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste, critica as posições ideológicas do último “Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental”, realizado no mês de junho em Salvador.

Foi num artigo de Emiliano José, publicado aqui n’A Tarde, segunda-feira passada, que tomei conhecimento sobre um tal “Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental” ocorrido no mês de junho. Pela toada do articulista, esse evento, que contou “com a decisiva participação de pessoas com transtorno mental, estudantes, professores, militantes novos e antigos da luta antimanicomial”, foi um verdadeiro festival de desinformação sobre as doenças mentais.

A ausência de qualquer profissional relevante da área nos leva a pensar que o evento, na verdade, tinha o objetivo de arregimentar a militância para a guerra ideológica contra o presidente Bolsonaro. Porém, a associação oportunista entre práticas consagradas do tratamento em saúde mental com atrocidades nazifascistas, transforma o que poderia ser uma oposição saudável para a democracia num “vale tudo” catastrófico para a saúde pública.

Não é verdade que “ninguém imaginava mais a possibilidade de que seres humanos pudessem ser internados à força”, como disse Emiliano. Ao contrário, todo mundo sabe que a internação involuntária acontece todos os dias nos serviços de saúde mental aparelhados para isso. Ela sempre foi feita, mesmo durante os governos do PSDB e PT, e são previstas na própria lei da reforma psiquiátrica. Tampouco, “tratamentos fundados na eletroconvulsoterapia (choques)” são sinais de que “o governo Bolsonaro quer voltar ao passado”; ao contrário, a eletroconvulsoterapia é um procedimento moderno e imprescindível no tratamento de transtornos mentais graves. Ela é muito utilizada nos melhores hospitais no mundo, devidamente regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina, sendo um dos mais eficazes tratamentos para depressões, indicada, inclusive, para idosos e mulheres grávidas.

A própria história dos manicômios que, nas palavras de Emiliano, “foram, desde sempre, verdadeiros centros genocidas, subsidiando a indústria farmacêutica e seus vultosos lucros, pretendendo transformar seres humanos em pessoas sem vontade” pode ser contada, também, como sendo uma história de um capitalismo cartorial, pródigo em esquemas políticos de reserva de mercado a “empresários amigos”, nos moldes do que vimos nos recentes escândalos de corrupção, guardadas as devidas dimensões financeiras, claro.

A verdade é que, goste-se ou não, as recentes medidas do governo Bolsonaro caminham no sentido de permitir aos pobres o acesso a terapêuticas que sempre estiveram à disposição de quem tem um bom plano de saúde ou recursos financeiros para pagar por um tratamento particular, enquanto à população pobre era oferecida nada mais que ideologia.

Texto publicado no jornal A Tarde do dia 10 de julho de 2019.