Em artigo publicado no jornal A Tarde, Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste, responde à nota de repúdio emitida pelo Conselho Regional de Psicologia sobre sua crítica ao Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental.
Como reação a um artigo que escrevi no A Tarde, ressaltando a importância da eletroconvulsoterapia (ECT) e da internação involuntária como procedimentos terapêuticos imprescindíveis no tratamento de transtornos mentais, recebi uma nota de repúdio do Conselho Regional de Psicologia (CRP). Os dois procedimentos haviam sido criticados durante o “Fórum de Direitos Humanos e Saúde Mental”, evento apoiado pelo CRP. Num discurso típico de “movimento social” radicalizado, a nota não traz qualquer argumento técnico; ao contrário, é cheia de maledicências para tentar me desqualificar como porta voz de um posicionamento profissional oposto ao do Conselho.
O CRP inventa um inexistente conflito de interesses por eu dirigir uma clinica privada, como se somente funcionários públicos pudessem discutir políticas públicas de saúde. Além disso, mente ao dizer que defendo o “financiamento público às iniciativas privadas”, o que é uma heresia para um liberal, como eu. Ao explicar que o tal evento tinha por objetivo “refletir acerca das repercussões do racismo, da violência de gênero e dos conflitos de classe” que, supostamente, estariam “na gênese do sofrimento social e psíquico de pessoas e coletivos”, o CRP revela a intenção inescrupulosa de manipular o debate da saúde mental para outros fins, como fazer proselitismo ideológico contra o capitalismo e aqueles que o defendem. A condenação do lucro e do empreendedorismo escancaram o viés estatizante do CRP que, paradoxalmente, cobra taxas obrigatórias para, pasmem, autorizar profissionais já formados a exercerem sua própria profissão. Essa é a verdadeira indústria a ser combatida: a da burocracia e do capitalismo cartorial.
A transformação das instituições de saúde não se deve a movimentos sociais, mas a estudos e pesquisas que promoveram o avanço da ciência. Assim como os antibióticos acabaram com os antigos leprosários e sanatórios para tuberculosos, a ECT foi o primeiro grande agente antimanicomial, devolvendo pacientes psiquiátricos ao convívio social. Psicólogos e demais terapeutas são profissionais importantes nesse processo de ressocialização, dando suporte emocional, manejando comportamentos e promovendo o desenvolvimento pessoal. O trabalho desses profissionais nas clínicas psiquiátricas é essencial para reforçar o caráter terapêutico das internações, inclusive as involuntárias.
Por isso, profissionais da saúde mental não merecem ter seus conselhos aparelhados por “ativistas sociais” sem conhecimento, prática, nem comprometimento com a atividade terapêutica. A estigmatização desses procedimentos apenas contribui para que a população carente e desinformada não tenha acesso a tratamentos que sempre estiveram à disposição dos estratos mais privilegiados da sociedade.