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AUTOMUTILAÇÃO INFANTOJUVENIL – ENCONTROS HOLISTE

automutilação

Na última edição do Encontros Holiste, realizada no mês de agosto, a psiquiatra Virgínia Feitosa e a psicóloga Alice Munguba abordaram o tema “Automutilação Infantojuvenil – quando a angústia aparece no corpo”.

 

Nos últimos anos, o número de crianças e adolescentes que apresentam algum tipo de automutilação cresceu significativamente no Brasil. Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2018 e 2019, o número de lesões autoprovocadas subiu 39,8%. Adolescentes entre 15 e 19 anos representam 23,3% dos casos notificados.

Por isso a Holiste resolveu abordar o tema na primeira edição do Encontros Holiste após a pandemia, trazendo a equipe do Núcleo Infantojuvenil para tratar do assunto. Abrindo o evento, a psiquiatra Virgínia Feitosa apresentou a palestra “Automutilação Infantojuvenil – Fatores de risco e tratamento”. Em seguida foi a vez da psicóloga Alice Munguba com o tema “O que se diz quando se corta?”.

Confira as fotos do evento:

 

 

FATORES DE RISCO

Primeiro, é preciso entender que a automutilação não é um transtorno mental em si, mas o sintoma de que um sofrimento importante está afligindo determinada pessoa. Geralmente essas mutilações são superficiais, escoriações ou pequenos cortes na pele dos braços e pernas. Algumas pessoas, quando atravessam um sofrimento intenso, possuem dificuldade em lidar com a situação, em verbalizar sua dor, e encontram na automutilação uma forma de imprimir na pele esse sofrimento.

“Quando sofremos uma lesão, nosso corpo automaticamente libera endorfina, pois esse hormônio reduz a dor física e o estresse. Acontece que outro efeito da endorfina no corpo é a sensação de prazer e bem-estar, o que reforça o comportamento autolesivo.” – comenta Virgínia.

É comum que a automutilação passe despercebida em um momento inicial, pois esses eventos podem começar de maneira espaçada, em baixa intensidade, sem levantar suspeitas. Geralmente a pessoa consegue despistar, passando a utilizar calças com maior frequência, blusas manga comprida, etc.

“É preciso estar atento aos fatores de risco, como histórico de autolesões, sentimento de desesperança, distúrbio do sono, maus tratos na infância, impulsividade e presença de algum transtorno mental já diagnosticado.

Mudanças comportamentais bruscas também merecem atenção: isolamento social, exposição a comportamentos de risco e ideação suicida são fortes sinais de que algo não está bem.” – afirma a especialista.

Assista a palestra completa de Virgínia Feitosa:

O QUE SE DIZ QUANDO SE CORTA?

As automutilações são feridas no corpo que, como vimos anteriormente, sinalizam que algo de errado está acontecendo com aquela pessoa e, por analogia, elas comunicam algo. Mas, o que de fato alguém quer comunicar quando se corta?

A humanidade está repleta de comunicações feitas por marcas e ferimentos causados no corpo: tatuagens, pinturas, escarificações e outros tipos de modificações corporais servem para comunicar aspectos religiosos, identitário e culturais de um povo. Também estão presentes nos rituais de passagem, como nascimento, falecimento ou passagem para a vida adulta. Mas, no contexto atual, o que esses jovens querem dizer quando se cortam?

“A resposta não é tão simples. Existe a necessidade de imprimir no corpo a angústia sofrida, de tornar física uma dor que é psicológica. Assim, o corpo fala o que a palavra não consegue expressar.

Mas, também não podemos ignorar que já existe uma identificação de grupo entre quem pratica essas automutilações, verificadas em comunidades na internet, grupos de interesse ou mesmo dentro das clínicas de tratamento. Só é possível desvendar o que os cortes querem dizer analisando cada caso individualmente, pois cada pessoa dará um significado próprio para seu sofrimento.” – explica Alice.

Assista a palestra completa de Alice Munguba:

TRATAMENTO

Sabendo que a automutilação não é um transtorno em si, é preciso diagnosticar o que está causando aquele sofrimento e tratar a doença. Uma vez que o tratamento começa a ter sucesso, a tendência é que as autolesões desapareçam gradativamente. O tratamento em Saúde Mental é quase sempre multifatorial, combinando tratamento medicamentoso, psicoterapia individual e psicoterapia familiar.

Ao identificar que alguém está se cortando, o importante é acolher essa pessoa, se oferecer para uma conversa, escutar seu sofrimento sem julgamentos morais e ajudar a buscar tratamento especializado.