Em entrevista ao portal Bebê da Editora Abril, Alice Munguba fala sobre como os responsáveis podem ajudar os pequenos a lidarem com os medos
Desde o início da pandemia, o Brasil contabiliza mais de 380 mil óbitos em decorrência da Covid-19. O luto tem sido constante em muitas famílias, e, por causa do isolamento social, ainda precisam lidar com outros impactos psicológicos que este momento tem causado.
Para que este cenário não prejudique a saúde mental e desenvolvimento das crianças, é importante que os responsáveis se cerquem de cuidado para que o que acontece no mundo externo não se torne o principal assunto dentro de casa:
“Mesmo na melhor das situações a criança será afetada [pelos acontecimentos] em alguma escala, porque é impossível pensar a criança – ou adulto – fora do contexto em que ela vive”, explica a psicóloga Alice Munguba, do Núcleo Infantojuvenil da Holiste Psiquiatria.
De acordo com a psicanalista, o clima do ambiente doméstico funciona, para a criança, como uma espécie de “bússola da realidade”: o que acontece dentro de casa, na maioria das vezes, tem mais influência sobre ela do que fatores externos:
“A criança irá absorver prioritariamente o modo como os seus familiares próximos estão lidando com a situação”, complementa.
A importância do acolhimento
O acolhimento é fundamental para tentar explicar os fatos, responder às dúvidas e estabelecer uma relação de confiança. De acordo com a idade da criança, os responsáveis devem ter cuidado com a quantidade de informações que possam alcançá-la.
Para Alice, a ausência da sensibilidade em tocar em alguns temas pode trazer consequências ao relacionamento familiar:
“Falar de modo diretivo e sem adaptações de acordo com a idade e condição subjetiva da criança sobre uma situação trágica pode causar nela um impacto, medo ou falta de entendimento sobre o assunto”, afirma.
O desafio passa a ser a manutenção de um diálogo de forma adequada e cuidadosa. Mas, para a psicóloga, essa é uma oportunidade para que a criança entenda como os pais pensam a respeito de determinado assunto.
Mentir nunca é o melhor caminho
Mentir nunca é a solução, por mais que ela seja feita na intenção de proteger a criança. A psicóloga desencoraja este tipo de abordagem, já que a mentira pode criar um tabu sobre o tema e aguçar a curiosidade.
Mentir, então, acaba tendo o efeito contrário: torna a criança ainda mais vulnerável e impedida de criar recursos para que possa se defender e enfrentar os problemas.
Matéria publicada originalmente em: https://bebe.abril.com.br/familia/como-acolher-os-medos-das-criancas-diante-de-tempos-tao-sombrios/