Em entrevista ao Band Mulher, a psiquiatra Fabiana Nery fala sobre os efeitos do aumento do consumo de álcool, principalmente na quarentena.
A mudança do estilo de vida provocada pela pandemia do novo coronavírus contribuiu para o aumento do consumo de álcool durante a quarentena. Dados apontam o crescimento da compra de bebidas alcoólicas em 800%, com pedidos via e-commerce e delivery.
Nesse contexto, a bebida tem exercido o papel de aliviar a tensão. De acordo com a psiquiatra, o problema não é o álcool, mas a relação que o indivíduo tem com ele neste momento: “O cuidado tem que ser quando ele (o álcool) deixa de ser relacionado ao bem-estar e começa a ser usado quase como um ‘tratamento’ para algo que não está bem”, aponta Fabiana Nery.
Assista à entrevista:
Refúgio perigoso
Antes do isolamento, as pessoas geralmente associavam o álcool às saídas dos fins de semana com os amigos, um happy hour com os colegas de trabalho. Estando a maior parte do tempo em casa, convivendo por mais tempo com familiares e sem a possibilidade de sair com os amigos, a bebida tem se tornado um refúgio perigoso.
Fabiana explica que é preciso estar atento à quantidade ingerida, frequência e como a pessoa se relaciona com o álcool: caso o indivíduo não tenha acesso à bebida, como ele reage? “O prejuízo pode estar relacionado a isso. Inicialmente você tem a sensação de relaxamento, diminuição das tensões… algumas pessoas usam para ‘tratar’ uma ansiedade e sintomas depressivos, mas essa sensação é só no início”, afirma.
Depois de algumas horas o efeito do álcool é extremamente o contrário. Rebaixamento de humor, piora da ansiedade, “você bebe pra ficar tranquilo, no dia seguinte você está mais nervoso porque bebeu, aí bebe pra ficar mais calmo e vira um ciclo vicioso”, explica a especialista.
Autocontrole
Se acostumar em ficar distante socialmente de amigos e familiares não é uma tarefa fácil. Ao mesmo tempo, conviver com as mesmas pessoas dentro de casa também causa estresse e desgastes nas relações. O álcool pode surgir como uma forma de fuga dessas situações, como meio de reassumir o autocontrole, o que pode gerar problemas futuros. Mas, como passar por esse momento de estresse da melhor forma possível?
“Não existe receita de bolo, mas dicas de como tentar manter uma rotina saudável, com atividades físicas mesmo em casa, e ter fontes de gratificações no seu dia – você precisa equilibrar com momentos de lazer, diversão e relaxamento. Está na hora de redescobrir alguns prazeres esquecidos”, indica a psiquiatra.