Na edição de agosto do “Desafios do Envelhecimento”, a psicóloga Raissa Silveira explicou como deve ser a relação entre cuidador e paciente com demência, além de aspectos sobre a doença.
A demência é uma doença mental caracterizada por uma série de prejuízos cognitivos, incluindo alterações de memória, raciocínio, concentração, entre outros. Além de afetar aspectos da cognição, também é comum existirem mudanças de comportamento ou personalidade.
De acordo com Raissa Silveira, “a família é quem percebe as primeiras alterações de comportamento, e trazem um medo de isso se configurar como diagnóstico. Muitas vezes ela retarda a ida ao médico, só vai quando essa alteração tá influenciando gravemente a vida do paciente”.
Assista à palestra:
A família e o processo demencial
A demência na terceira idade pode influenciar na perda de autonomia e na relação de independência do indivíduo com a família. Embora seja algo comum na velhice, a doença não faz parte do processo de envelhecimento natural.
Nesse processo, é comum que a família apresente sinais como estranhamento e medo, principalmente pela dificuldade de aceitar o que os outros falam sobre essas alterações de comportamento.
“Isso retarda a possibilidade de um diagnóstico; e esse confronto com o diagnóstico não é fácil. Muitas vezes a família recebe essa notícia e traz com ela uma resistência enorme”, explica a psicóloga.
O paciente e o diagnóstico de demência
No início do processo demencial, alguns pacientes conseguem perceber os sinais da demência. A princípio, eles se queixam de esquecimento, percebem que estão se sentindo tristes, isolados e até inseguros.
Raissa destaca que, nesse momento, a ajuda profissional é fundamental para estabelecer um diagnóstico preciso, pois é natural que a família se veja um pouco perdida nesse processo.
Inversão de papeis
A demência não tem cura, ou seja, demanda uma série de cuidados para aliviar e controlar os sintomas, um esforço para frear o avanço da doença. Nesse processo, é comum que haja uma inversão de papeis dentro da própria família.
“Vemos que alguns filhos viram pais de seus pais. A filha começa a interferir na autonomia desse idoso, e muitas vezes é incômodo para ela ter que dar banho no próprio pai. E para o idoso também é constrangedor, perceber que precisa do outro para realizar uma atividade corriqueira”, afirma a psicóloga.
Raissa aponta que a qualidade das relações familiares antes do diagnóstico influencia diretamente no processo do tratamento.
“Se a relação do familiar com o paciente já era boa, com certeza a disposição, a tolerância e a cautela para cuidar será maior que a de alguém que não tinha essa relação, ou que era fragilizada”, afirma a psicóloga Raissa Silveira.