Considerada uma epidemia silenciosa, a depressão é uma doença cada vez mais presente nos consultórios médicos. Muitas vezes confundida com tristeza, ela pode representar um grande risco para o paciente, uma vez que que os casos mais graves podem até levar ao suicídio.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta 320 milhões de pessoas no mundo, e, de 2005 a 2015, este número cresceu 18%. No Brasil, 11 milhões de pessoas são afetadas pela depressão. Diante da extensão do problema, é preciso avaliar de que forma a doença se relaciona com a época em que vivemos. Esse foi o centro da discussão proposta pela psicóloga Ethel Poll, na palestra “A depressão e os extravios do desejo”, ministrada durante a Jornada de Saúde Mental.
“Precisamos ir além e questionar o que esse excesso de casos de depressão pode dizer sobre as sociedades. Em uma análise mais profunda, podemos refletir, por exemplo, se essa realidade pode estar associada à aceleração do mundo, ao afrouxamento dos laços sociais e a falta dos referenciais sólidos e outros aspectos que caracterizam o mundo que vivemos. Além disso, é preciso olhar para a subjetividade de cada paciente, aquilo que está longe do visível. Para a psicanálise, é isso que importa”, avaliou a psicóloga.
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Olhar para a individualidade
No tratamento da depressão, a psicanálise atua no campo do inconsciente. Logo, somente o diagnóstico de depressão não diz tudo sobre o indivíduo.
“A depressão não é um sintoma analítico, não representa uma identidade clínica, podendo estar em qualquer uma das estruturas – seja a neurose, psicose, perversão. É preciso tomar a depressão a partir dos discursos e da singularidade do sujeito, analisar o que isso diz do paciente e como pode nos guiar. Existe uma subjetividade na queixa que o paciente traz, que não pode ser desconsiderada”, pontuou Ethel Poll.
Tristeza e desejo
Quando o indivíduo é acometido pela depressão, ele experimenta um abandono de si, das suas atividades e interesses.
“O processo de análise visa que o sujeito possa falar desse mal-estar, para gerar um movimento em direção a este desejo. Abordar o paciente através da palavra tem como objetivo introduzir uma interrogação em relação ao gozo, e sobre a causa do seu mal-estar. A pessoa chega com o diagnóstico, com uma queixa. Ocorre, então, o tempo de compreender, a transferência se estabelece, e o paciente começa a querer saber do desejo e do gozo. Temos, então, o momento de concluir, que leva a movimentar algo, provocar uma nova posição”, acentuou a psicóloga.
Jornada de Saúde Mental
Com o tema “Abordagens Terapêuticas no tratamento dos Transtornos Mentais”, a Jornada de Saúde Mental, promovida pela Holiste, ocorreu em outubro, em Salvador, e abordou questões relacionadas ao trabalho multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental.
O evento contou com a intensa participação de profissionais e estudantes da área que, durante dois dias, debateram sobre psicologia, psicanalise, psicopedagogia, terapia ocupacional, nutrição e acompanhante terapêutico no tratamento dos transtornos mentais.