Psicogeriatria é a área da psiquiatria que trata da saúde mental do idoso, levando em consideração as especificidades clínicas e mentais, além dos aspectos emocionais e cognitivos associados ao envelhecimento. Os “Desafios da Psicogeriatria” foi o tema da palestra do psiquiatra André Gordilho no Encontros Holiste.
“O Brasil está ficando grisalho. O aumento percentual de idosos, associado a maior longevidade, traz inúmeros desafios para a prática da psiquiatria por dois motivos: pacientes com transtornos mentais na juventude tornam-se idosos, demandando uma atenção especial; e temos uma grande prevalência de transtornos mentais que estão, de certa forma, associados ao processo de envelhecimento”, explica o psiquiatra.
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UMA AVALIAÇÃO MINUCIOSA
Transtornos mentais são problemas bem comuns na terceira idade. Acredita-se que algo entre 12,5% e 33% da população acima de 60 anos apresentam algum tipo de transtorno mental ou alterações de comportamento, sendo a depressão, os transtornos de ansiedade, as demências e o abuso de substâncias psicoativas, aqueles com maior incidência nesse público.
Além disso, as perdas fisiológicas no idoso demandam um olhar muito mais amplo e um entendimento maior sobre os aspectos ligados ao envelhecimento. O indivíduo passa a ficar mais suscetível de diversas formas; uma pequena infecção urinária em um adulto jovem é facilmente contornada. Porém, pode levar a um quadro confusional, com sintomas delirantes e/ ou psicóticos, em pessoas da terceira idade.
A condição clínica, a presença de doenças crônicas – diabetes, hipertensão, problemas cardícos – e as medicações de uso contínuo são fatores que precisamos levar em conta na avaliação psiquiátrica do idoso.
“Trabalhar com o idoso necessita de uma atenção maior e uma avaliação muito mais minuciosa. Exames de imagem, exames metabólicos, exames de sangue, neurológico são informações que precisamos. Detalhes como uma baixa de sódio ou de potássio podem gerar transtornos psíquicos, por exemplo. Precisamos avaliar de forma criteriosa para identificar o problema real, não apenas o sintoma”, alerta Dr. Gordilho.
TRANSTORNOS MENTAIS NA TERCEIRA IDADE
Um grande desafio no trabalho com idosos é o fato das doenças mentais poder apresentar sintomatologia diferente em relação a adultos jovens.
“A depressão geralmente se manifesta com a tristeza, desanimo e perda do prazer. Já no idoso, comportamentos como queixas constantes, mau humor, isolamento e problema com memória – que são comportamentos erroneamente associados a velhice – podem ser sinais de um quadro de depressão.
Ou, no caso de déficits cognitivos, como perda de memória e dificuldades de raciocínio, tende-se a imediatamente associá-los à demência, mas também são fatores resultantes de uma depressão, que podem ser revertidos com o tratamento correto, o que não acontece nos diagnósticos de demência. Por isso é importante uma avaliação ampla e minuciosa”, alerta o psiquiatra.
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ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL
O envelhecimento traz perdas funcionais – os órgãos envelhecem – mas não necessariamente está ligado a um processo de adoecimento e de perda da independência, da autonomia. O ideal é manter um envelhecimento sem doenças, com bom desempenho físico, cognitivo e com sociabilidade plena.
“Embora esse declínio seja continuo e irreversível, o envelhecimento, por si só, não significa doença ou limitações. Claro que que determinantes genéticos e biológicos influenciam diretamente, mas devemos sempre buscar o envelhecimento saudável, e a melhor forma de atingir isso é a prevenção, estimulando o corpo e a mente com a adoção de hábitos saudáveis, como boa alimentação, prática de exercícios e estimulação cognitiva. Até mesmo a presença de doenças crônicas – diabetes e problemas cardíacos – podem ser controladas sem trazer maiores prejuízos”, recomenda André Gordilho.
O psiquiatra também cita a Hormese, processo biológico em que estresse de baixa intensidade reduziria a vulnerabilidade às degenerações da idade.
“O estresse de baixa intensidade poderia trazer mudanças positivas ao cérebro durante o envelhecimento. Atividade física, restrição calórica e estimulação cognitiva ativam fatores neurotróficos que estão implicados na neuroplasticidade. O problema é o estresse excessivo”
Por fim, André Gordilho reforçou a importância de desenvolver a reserva cognitiva – habilidade do cérebro se adaptar a possíveis danos, através da compensação e recrutamento de regiões cerebrais alternativas.
“A cognição é uma parte de grande importância. De certa maneira, ela é que faz sermos quem somos. A memória, atenção, linguagem, função executiva, habilidade espacial são recursos fundamenteis. Um comprometimento cognitivo maior prejudica a autonomia e independência do indivíduo. O cérebro tem que malhar. Nesse sentido, atividades de estimulação cognitiva fazem parte de uma estratégia de envelhecimento saudável”, finaliza o psiquiatra.
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SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE
A “Saúde Mental na Terceira Idade” é o tema oitavo vídeo da série Desmistificando a Saúde Mental. Nossa equipe fala sobre as especificidades dos transtornos mentais em idosos, cuidados, tratamentos e possibilidades de uma vida mais plena. Participam do vídeo os psiquiatras André Gordilho e Victor Pablo, a psicóloga Raissa Silveira e a terapeuta ocupacional e coordenadora do Núcleo da Terceira Idade, Michelle Campos.
ASSISTA AO VÍDEO: “SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE”