Agenda sua consulta
Agende sua Consulta

A Dor de Existir | Vídeo

ethel-poll

Existem muitos equívocos e preconceitos sobre o suicídio.  O senso comum tende a avaliar o fenômeno de forma simplista, considerando-o uma expressão do livre arbítrio, uma fraqueza de caráter.

Porém, o ato de tirar a própria vida é muito mais complexo, sendo alvo de estudos de diversas estudos e abordagens, mas que compartilham uma visão em comum: na grande maioria dos casos, o ato suicida é motivado por algum quadro patológico que provoca grande sofrimento.

A “Dor de Existir” foi o tema da palestra de Ethel Poll.  A psicóloga falou sobre os diversos aspectos relacionados à ideação suicida:

“O suicídio é um ato radical, no qual o sujeito atenta contra a própria vida e decreta uma ruptura definitiva com aquilo que o está fazendo sofrer. É importante entender que este ato é, na maioria das vezes, a única possibilidade que o sujeito encontra para dar fim a dor da sua própria existência.  Precisamos falar abertamente sobre este tema, dialogando de forma responsável sobre o porquê da morte se tornar a única saída para um sujeito”, alerta Ethel Poll.

Assista ao vídeo completo.

 

NÚMEROS QUE IMPRESSIONAM

No mundo, estima-se que mais de 800 mil pessoas tirem a própria vida todos os anos.  Isso significa que a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio.  No Brasil, estima-se que ocorram 11 mil casos anuais.  O suicídio acontece com mais frequência entre jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos, sendo a segunda maior causa de morte no mundo e a quarta causa no Brasil.

Além disso, estima-se que, para cada suicídio, de 5 a 10 pessoas são fortemente afetadas pelo ato. O fenômeno do suicídio traz imensuráveis prejuízos psicológicos, sociais e financeiros para a família e comunidade como um todo.

“Apesar de expressivos, esses números ainda são subestimados.  Muitos suicídios são registrados como acidentes e outros como mortes com causa indeterminada.  Isso acontece, em parte, por conta do tabu em torno do tema, o que nos leva a pensar em como é difícil as pessoas assumirem isso como uma realidade nos nossos dias, o que só contribui para dificultar a busca por soluções”, explica a psicóloga.

 

UM PROCESSO CRESCENTE

De certa forma, fica sempre a impressão que o suicídio aconteceu de uma hora para outra. Mas, na verdade, existe toda uma gradação, um processo crescente que pode se iniciar com pensamentos de morte, verbalização de ideias negativas – a vida não está valendo a pena, bem que eu podia adoecer para acabar com minha vida – elaboração de planos, pesquisar meios, tomar providências para se matar; existem muitos casos de pessoas que organizaram a vida financeira antes de cometer o ato, por exemplo.

“Das ideias de morte até chegar ao ato, tem um caminho, um tempo tortuoso e sofrido para pessoa.  Existe todo um contexto “submerso”.  O suicídio é a ponta do iceberg, todos os fatos que envolvem o suicídio estão abaixo da linha da água. As pessoas não se dão conta disso.  Muita coisa já aconteceu antes de se chegar no suicídio”

As campanhas de prevenção do suicídio buscam trazer esse alerta: o suicídio não aparece de uma hora para outra, as ideias vão surgindo e sendo alimentadas.   Muitas vezes essas pessoas não buscam o tratamento – por motivos diversos – mas os familiares e pessoas em volta podem perceber esses sinais”, alerta Ethel Poll.

 

UMA ABORDAGEM MÚLTIPLA

O suicídio é um ato voluntário onde o indivíduo possui a intenção e provoca a própria morte.   O termo foi citado pela primeira vez em 1737 pelo francês Desfontaines. É um termo relativamente novo, porém, o ato esteve presente em todos os momentos da humanidade, da antiguidade aos dias de hoje. Em cada época, o suicídio estava ligado ao seu contexto sociocultural: na antiguidade, se tolerava razoavelmente o ato, apesar de não ser permitido a escravos e miliares, pois seus corpos eram tutelados pelo estado; na idade média, passou a ser condenado por influência do igreja católica; na época do renascimento, passa a ser discutido fora dos ambientes religiosos, classificado pelos filósofos como um dilema humano, o ser ou não ser; na modernidade, temos a ciência buscando entender o fenômeno do suicídio, começando a ser percebido com um problema de saúde pública.

O fenômeno envolve uma multiplicidade complexa de fatores: aspectos sociais, culturais, psicológicos e patologias. Por essa razão, não se deve pensar em um fator isoladamente, para compreendamos os motivos que levam uma pessoa a cometer o ato. Ethel explana sobre a importância de ter um “olhar” múltiplo para lidar com pacientes com ideação suicida, lançando mão de diferentes visões vindas da sociológica, psicologia e psicanalise, que se “complementam” entre si.

Durkheim, que trouxe o olhar da sociologia com o estudo publicado em 1897, abordava o suicídio como um fator social, algo que o coletivo impunha ao indivíduo. Já o trabalho de Edwin Shneidman, que fundou em 1958 o Centro de prevenção do suicídio nos EUA, propôs entender o suicídio como a busca para cessar uma dor psicológica insuportável.

Há, também, a abordagem psicanalítica na qual Freud conceitua o suicídio como um possível desfecho de um conflito psíquico, trazendo elementos de uma autodestruição, luto e melancolia. Essa visão é complementada por Lacan que traz dois conceitos ligados a angústia: o acting out, a cena que busca conectar com o outro; e a passagem ao ato, onde temos o rompimento com outro, uma desconexão radical com o campo da linguagem, o suicídio em si.

São abordagens diferentes, que buscaram, de alguma forma, entender o suicídio. Isso mostra toda a complexidade envolvida com o tema, e deixa claro que a melhor opção é trabalhar a questão de forma multidisciplinar, envolvendo profissionais de diversos campos do saber.

“Também precisamos enxergar para além dos fatores predisponentes e precipitantes.   Estes últimos podem funcionar como gatilho, mas não quer dizer que basta uma desilusão amorosa ou uma demissão para desencadear pensamentos de suicídio, é preciso entender o contexto, o significado de cada fato. O tratamento com o psicanalista vai atuar justamente em ajudar a encontrar esse ponto dentro do contexto e tentar reconstruir, de0 forma simbólica e junto com o sujeito, toda a cadeia que está fragmentada naquela fase da ideação suicida.  Esse processo de elaboração é muito importante e exatamente individual; cada um leva o seu tempo, nunca é fácil, mas faz toda a diferença para o sujeito.  É preciso ter paciência, é algo para ser construído”, finaliza a psicóloga.

ASSISTA TAMBÉM: ENTENDENDO O SUICÍDIO