Quem vê o sucesso do Espaço Holos, hoje, não imagina o longo caminho percorrido pelo seu fundador, o psiquiatra Luiz Fernando Pedroso. Há treze anos, o médico, então recém-chegado de São Paulo, tinha como missão fundar uma clínica de internação psiquiátrica que oferecesse aos soteropolitanos o mesmo padrão de qualidade das clínicas do eixo Sul-Sudeste. Baiano, formado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, especializou- se em psiquiatria em São Paulo, onde atuou por muitos anos em diferentes clínicas particulares e instituições governamentais. Luiz Fernando é membro da American Psychiatric Association e da International Society for Electroconvulsive Therapy and Neurostimulation. Após o longo período em São Paulo, colocou toda a sua experiência na bagagem e, em parceria com a enfermeira Sandra Siqueira, diretora técnica da clínica, trilhou o caminho de volta para Salvador.
O grande desafio era em meio ao movimento antimanicomial, desenvolver um trabalho que envolvesse internações psiquiátricas voluntárias, involuntárias e compulsórias. Enquanto o Estado fechava os leitos de internação e começava a implantar os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Luiz Fernando remava contra a maré acreditando em nada além de suas convicções profissionais: “O governo começou a fechar leitos psiquiátricos por pura ideologia política de esquerda, sem respaldo científico.
O paciente em crise precisa ser internado, assistido, medicado, estabilizado para, então, regressar ao convívio social”. O psiquiatra acredita que o médico deve seguir as boas práticas da medicina com ética profissional, alinhando-se não somente com os tratamentos que se desenvolvem na esfera nacional, mas, ou principalmente, com as técnicas mais modernas desenvolvidas mundo afora: “A burocracia estatal é lenta, movida por ideais políticos e pouco relacionada com o meio científico. O resultado disso é a adoção de políticas atrasadas, regulamentações equivocadas e o sofrimento de pacientes que são privados dos tratamentos de ponta. Quando abrimos a clínica, possivelmente éramos os únicos a realizar a eletroconvulsoterapia (eletrochoque) na Bahia.
Recebíamos pacientes de outros psiquiatras que não eram qualificados para a realização do procedimento ou temiam ver sua imagem associada a uma prática demonizada pela propaganda ideológica de esquerda. Continuamos com esta postura até hoje, trazendo tratamentos pioneiros que proporcionam o bem estar dos nossos pacientes. Esse é o nosso compromisso”. Foi assim que, de uma equipe inicial de oito profissionais, o Espaço Holos chegou ao atual quadro com mais de oitenta funcionários, distribuídos em diversas especialidades. São psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, educadores físicos, terapeutas ocupacionais, arteterapeutas, musicoterapeutas, fisioterapeuta, profissionais de dança e teatro, nutricionista e cuidadores, uma equipe multidisciplinar que oferece um tratamento psiquiátrico integrado, desenvolvendo diferentes particularidades dos pacientes que acabam respondendo melhor à doença. Essa concepção multidisciplinar de tratamento é apenas um exemplo da proposta terapêutica da clínica, que também preza pela manutenção de um ambiente terapêutico propício à recuperação dos internos.
Por fim, a postura de estar à frente do mercado, oferecendo tratamentos de ponta exclusivos, traduz a busca pela excelência realizada pela clínica. Além da internação, uma série de serviços ambulatoriais e domiciliares está à disposição dos pacientes e suas famílias.
Crescimento e novidades
O Espaço Holos acaba de lançar o seu serviço de Hospital Dia, o Holos Dia. Em funcionamento desde setembro deste ano, o Holos Dia atende pacientes que já não possuem critérios para a internação, mas encontram dificuldades para se reintegrar plenamente à sociedade. No Holos Dia os pacientes são atendidos por uma equipe especializada em saúde mental e recebem alimentação, medicação, assistência de enfermagem, assistência médica e psicoterápica. São realizados grupos e oficinas terapêuticas diversas, que são dispositivos coletivos de tratamento para o desenvolvimento das habilidades individuais e de convívio social.
Cada paciente possui um plano terapêutico personalizado, tendo acesso também a consultas psiquiátricas individuais. As famílias também são assistidas através de grupos terapêuticos exclusivos para elas, uma vez que sua participação é fundamental para o sucesso do tratamento. Especialista em psicodrama, com anos de experiência em enfermagem psiquiátrica no Hospital das Clínicas de São Paulo, Sandra Siqueira chama atenção para a importância da presença da família na recuperação dos pacientes: “Sempre tivemos o cuidado de integrar a família no tratamento, tanto na internação quanto no Hospital Dia.
Pessoas com transtornos psiquiátricos podem apresentar graves problemas de interação social, sendo o círculo familiar o mais abalado pela doença. A família é a primeira esfera social do indivíduo e, portanto, ajudá-los na reconstrução dos laços familiares, por vezes abalados pela doença, é um fator chave no restabelecimento de suas relações sociais”. Além das atividades em grupo e com a família, passeios externos supervisionados complementam o programa, auxiliando os pacientes a retomarem sua autonomia e orientando-os a lidar com as situações do dia a dia.
O objetivo é que, ao final do tratamento, o paciente seja capaz de planejar e administrar sua vida cotidiana, manejando as regras sociais e outros aspectos subjetivos e cognitivos que influenciam diretamente no convívio social. Outra novidade que a clínica está trazendo é o programa especial de tratamento para pacientes crônicos, aqueles que reagem muito pouco ao tratamento e não apresentam condições de regressar ao convívio social.
“Diversos fatores podem levar à cronificação de determinada doença mental; contudo os pesquisadores já descobriram que quanto maior for o número de crises ao longo da vida aumentam as chances da doença cronificar. Apesar de não existir uma ligação direta entre a cronificação e a idade do indivíduo, observa-se um grande número de casos crônicos na terceira idade. Isso se deve ao fato de idosos já possuírem outras doenças associadas em seu quadro clínico, além da possibilidade do número de crises ao longo da vida ser maior neste público”, afirma Luiz Fernando.
Depressão profunda na terceira idade
Dentre as doenças psiquiátricas o médico acredita que a depressão profunda é a que mais se manifesta na terceira idade. Além das já citadas doenças associadas, comuns nesta fase da vida, fatores psicossociais também são cruciais para a formação deste quadro: ”O idoso geralmente já se aposentou, portanto, perdeu uma esfera social importante que é a do trabalho. Os olhos já estão adultos, constituíram família e moram em suas próprias casas.
Muitos dos amigos e até mesmo os cônjuges já faleceram. Estas mudanças bruscas nos círculos sociais trazem um sentimento de solidão, inutilidade, isolamento, uma tristeza profunda que não deve ser confundida com um saudosismo natural. A depressão é uma doença séria, que precisa ser tratada e acompanhada por um profissional especializado, e que em certos casos pode até matar”, alerta. O tratamento da depressão é complexo, envolvendo consultas psiquiátricas, tratamento medicamentoso, psicoterapias e sessões de terapia familiar.
Contudo o Espaço Holos ainda disponibiliza serviços exclusivos, tratamentos de ponta que ajudam significativamente na recuperação do paciente: “Hoje possuímos ferramentas poderosas no combate à depressão. Este ano lançamos o Tratamento com Cetamina, um anestésico que possui grande eficácia no tratamento da depressão. Também trabalhamos com a Estimulação Magnética Transcraniana, com excelentes resultados para aquelas pessoas que possuem sensibilidade ou restrição ao uso de alguns medicamentos, situação muito comum em idosos.
A própria eletroconvulsoterapia apresenta grande eficácia na reversão de quadros de depressão, substituindo o uso de antidepressivos e trazendo conforto ao paciente”, observa o médico, e ratifica: “Todos estes procedimentos devem ser realizados somente por profissionais capacitados, em ambientes monitorados. Além disso, os procedimentos em si não determinam a cura do indivíduo, isso vai depender da combinação de uma série de fatores”. A família volta a ser uma peça muito importante nestes casos. A presença ativa de familiares durante o tratamento da depressão é determinante para uma rápida recuperação do paciente. Outro ponto importante é o desenvolvimento de atividades lúdicas diversas, que mantenham o tempo e a mente dos indivíduos ocupados.
De acordo com Sandra, “É muito importante que as pessoas de terceira idade procurem desenvolver outras atividades depois da aposentadoria. Pode ser um hobbie, um esporte ou coisa do tipo. O objetivo é manter a mente e o corpo em movimento, saudáveis”.
No Espaço Holos os idosos ocupam um espaço especial, separados dos demais internos. Até mesmo as atividades ao longo do dia são diferenciadas: “Os idosos possuem outro ritmo de vida, demandam um ambiente ainda mais calmo e acolhedor. As atividades físicas, as diversas terapias, tudo é formatado exclusivamente para este público”, explica a enfermeira, que foi a responsável pelo desenvolvimento das particularidades que compõem o ambiente terapêutico: “Temos pacientes de diferentes idades e diagnósticos. Pacientes dependentes químicos, com transtorno bipolar, depressivos, esquizofrênicos, cada um com uma história de vida e quadro clínico diferente. Para tornar o tratamento eficaz faz-se necessária a criação de uma programação de atividades pertinente a cada comorbidade, potencializando a adesão ao tratamento”.
Cenário atual e perspectivas para o futuro
Luiz Fernando avalia que o atual momento da psiquiatria no País aponta para um crescimento do segmento: “Hoje as pessoas voltaram a falar de doença mental. Observamos que o preconceito com o doente mental ainda é grande, mas vem diminuindo com o passar dos anos. A Internet possibilitou o acesso fácil à informação; o nosso site, por exemplo, disponibiliza uma gama enorme de informações sobre saúde mental, tais como artigos, vídeos, notícias, sugestões de filmes e leitura, além de uma seção de dúvidas frequentes sobre os principais temas psiquiátricos”. Mas, para o especialista, é preciso avaliar o cenário com cautela: “O Estado voltou a disponibilizar leitos para a internação psiquiátrica. A construção de um espaço terapêutico é um dos diferenciais da clínica. conversa muito pouco sobre isso; ninguém comenta que foi se consultar com o psiquiatra, enquanto que, em contrapartida, ninguém se incomoda em contar que visitou o cardiologista”.
Vimos isto acontecer nas duas principais capitais do país, e parecia que o mesmo modelo seria implantado em Salvador. Isto é ótimo, apesar da insuficiência dos projetos diante de um passivo de pacientes acumulado em anos de perseguição à psiquiatria. É preciso ter em mente que o governo tomou esta decisão para combater um grave problema de saúde pública do nosso país: o crack. A Copa do Mundo e as Olimpíadas foram fatores fundamentais na resolução de reabrir os leitos fechados e autorizar a retomada das internações compulsórias; é preciso garantir que depois destes eventos não voltemos a andar para trás”.
O trabalho de educação é fundamental para quebrar o preconceito em torno do paciente: “As pessoas ainda têm a ideia de que o doente mental é um louco, inválido, sujo, incapaz de viver uma vida normal. Diariamente, acolhemos e devolvemos para a sociedade dezenas de juízes, médicos, professores universitários, militares, artistas, enm, pessoas das mais variadas profissões e segmentos sociais, e uma delas pode estar ao seu lado neste momento.
Mas o fato é que a sociedade ainda conversa muito pouco sobre isso; ninguém comenta que foi se consultar com o psiquiatra, enquanto que, em contrapartida, ninguém se incomoda em contar que visitou o cardiologista”. Para o médico, encarar o tema de frente é um dever da sociedade como um todo: “O psiquiatra tem que estar à frente deste movimento, assumir a responsabilidade de educar o público, desconstruir a imagem do antigo manicômio e do doente mental como um inválido irrecuperável. Pacientes e famílias precisam, também, aceitar a doença e tentar lidar com ela de maneira honesta e responsável, possibilitando a troca de informação com a sociedade, que deve estar aberta para entender a realidade destas pessoas acometidas por transtornos mentais que, segundo a OMS, já passam dos setecentos milhões em todo o mundo”, pontua.