No acompanhamento do paciente idoso é preciso contemplar práticas e intervenções que promovam sua saúde global, buscando preservar o máximo de funcionalidade e autonomia possível.
A importância das funções cognitivas na qualidade de vida do idoso foi o tema da palestra de Michelle Campos, gerontóloga e terapeuta ocupacional, que explicou em detalhes como funciona um Programa de Estimulação e Reabilitação Cognitiva.
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DECLÍNIO COGNITIVO
Dentro do processo de envelhecimento ocorre uma série de mudanças a nível biológico, psicológico e social. Dentre dessas mudanças estão as alterações nas funções cognitivas, decorrentes principalmente da redução das sinapses e neurônios, que são uma consequência natural do envelhecimento, mas não significa que ocorrem de maneira igual para cada indivíduo já que são influenciadas diretamente pela genética, hábitos (alimentação, exercícios, leituras, escolaridade, etc.) e história de vida de cada uma.
“Existe o declínio cognitivo “normal” e o patológico. No normal, que não decorre de nenhuma doença ou trauma, acontecem episódios simples como esquecer onde colocou as chaves – que acontece com todos nós – ou esquecer fatos específicos, como a cor do vestido que usou no casamento da filha. Temos aí um funcionamento da memória ou do aprendizado mais lento.
O idoso pode não lembrar que aquele objeto na mão dele chama-se escova de dentes, mas sabe para que serve. Já no declínio cognitivo patológico o idoso olha para escova e não lembra do nome e nem para que serve o objeto. Mas, em ambos os casos, a estimulação cognitiva tem se mostrado uma ferramenta terapêutica eficaz, tanto na reabilitação, quanto na prevenção, contribuindo para a manutenção da independência e autonomia do idoso”, explica Michelle Campos.
Além do envelhecimento e traumas, transtornos mentais também são um fator ligado ao comprometimento cognitivo. Não é incomum que pacientes com esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão, apresentem dificuldade de concentração, leitura, escrita, orientação de tempo e espaço ou perda de memória. Em alguns casos, os problemas cognitivos podem contribuir para agravar o quadro psiquiátrico, ou podem permanecer evidentes mesmo quando os outros sintomas estão controlados.
“O sofrimento psiquiátrico afeta diretamente as funções cognitivas. Temos pacientes que apresentam uma melhora expressiva na cognição quando tem uma melhora do quadro depressivo, quando comparamos com as avaliações cognitivas realizadas no momento agudo da crise depressiva”, exemplifica Michelle Campos, que também é coordenadora do Núcleo da Terceira Idade da Holiste.
ELEMENTOS DA COGNIÇÃO
A Cognição é um processo intelectual/ mental através do qual tomamos conhecimento do mundo, é a forma como o cérebro aprende e recorda de todas as informações captadas através dos nossos 5 sentidos. Quando pensamos em cognição, associamos a memória, mas a cognição traz outras funções que compõe:
- Memória – capacidade de reter e evocar informações;
- Linguagem – capacidade de manipular símbolos na produção e compreensão da comunicação;
- Atenção – capacidade de selecionar informações;
- Funções executivas – capacidade de planejar, iniciar, controlar e desempenhar comportamento dirigidos a um objetivo;
- Percepção – capacidade de formar e distinguir os estímulos vindos de um ambiente através dos órgãos sensoriais e poder dar um significado para eles.
PROGRAMA DE ESTIMULAÇÃO COGNITIVA EM IDOSOS
A estimulação cognitiva conta com a neuroplasticidade do cérebro para realizar o trabalho de proteção e reabilitação nas áreas com déficit de cognição. Portanto, o programa estimula diferentes funções cognitivas para tratar aquela que apresenta déficit.
“Não estimulamos apenas a função deficitária, estimulamos também as funções preservadas, pois a neuroplasticidade permite que fortalecendo as cognições como um todo, auxilia a função prejudicada”, destaca a terapeuta ocupacional. Se identificados e tratados logo cedo, a progressão dos comprometimentos cognitivos pode ser retardada ou mesmo prevenida, contribuindo para melhorar e prolongar a qualidade de vida.
O Programa de Estimulação Cognitiva da Holiste é realizado por uma equipe multidisciplinar e segue um projeto terapêutico Individualizado, personalizado para as necessidades e objetivos de cada paciente. Antes de tudo, é necessário realizar uma coleta de dados minuciosa – escutar o idoso, a família, entender qual é a queixa, as dificuldades na rotina do paciente. Logo em seguida é aplicado o teste de avaliação cognitiva, que vai mensurar cada uma das funções cognitivas, para entender qual o nível de prejuízo em cada função.
O teste é reaplicado após 4 meses, para avaliar a evolução em cada função, e redefinir as próximas metas e etapas do trabalho.
“Essas duas etapas são fundamentais para realizar um trabalho consistente. Na coleta de informações nós entendemos a história de vida de cada um e de que forma a estimulação cognitiva pode trazer ganho para sua vida. Após o primeiro ciclo do programa, mensuramos a evolução de cada função trabalhada, e a todo momento o profissional vai observando o progresso e aumentando o nível de estímulo, aos poucos. Essa realização metódica aumenta a efetividade do tratamento”, destaca a terapeuta.
Michelle também destaca a importância do envolvimento da família no programa.
“A orientação dos familiares e cuidadores é fundamental no processo. Não adianta o idoso ser estimulado apenas dentro das atividades do programa. Ele precisa passar a ser inserido em um ambiente de estímulos constantes, com pequenos “desafios” na sua rotina. Pois, nosso trabalho é um treino para atividades da vida diária; queremos que ele seja capaz de fazer uma listinha de compras, de saber quanto está pagando, conferir o troco. A estimulação cognitiva é um investimento na autonomia e independência.
Não é correto simplesmente associar a perda cognitiva como se fosse “coisa de velho”. A intervenção feita no momento certo traz grandes possibilidades para prevenir ou retardar o declínio, possibilitando uma maior qualidade de vida para o idoso”, finaliza Michelle Campos.
ASSISTA TAMBÉM A PALESTRA: DESAFIOS DA PSICOGERIATRIA, COM DR. ANDRÉ GORDILHO
SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE
A “Saúde Mental na Terceira Idade” é o tema oitavo vídeo da série Desmistificando a Saúde Mental. Nossa equipe fala sobre as especificidades dos transtornos mentais em idosos, cuidados, tratamentos e possibilidades de uma vida mais plena. Participam do vídeo os psiquiatras André Gordilho e Victor Pablo, a psicóloga Raissa Silveira e a terapeuta ocupacional e coordenadora do Núcleo da Terceira Idade, Michelle Campos.
ASSISTA AO VÍDEO: “SAÚDE MENTAL NA TERCEIRA IDADE”