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“Existirmos: a que será que se destina?” | por Laís Abreu

Em artigo publicado no jornal A Tarde, a psicóloga da Holiste, Laís Abreu, fala sobre a depressão e como o indivíduo se comporta em meio às pressões sociais contemporâneas.

“Que o homem na nossa sociedade contemporânea sofre, não há dúvidas. Há quem diga que a depressão é a expressão, por excelência, desse sofrimento. Considerada como um dos maiores males da atualidade, o transtorno apresenta uma composição mais complexa do que simplesmente um sentimento de tristeza. Dentre uma variedade de sintomas que vemos na clínica, a sensação de vazio, a falta de sentido e a dor de existir são os mais emblemáticos dessa condição.

Psicanalistas como Joel Birman e Maria Rita Kehl indicam a depressão como sintoma social contemporâneo. Podemos pensá-lo a partir do atual paradigma social, que exige do indivíduo seu grau máximo de eficiência existencial e econômica. Sociedades eufóricas, ávidas pelo consumo desenfreado e excessivo de imagens, produtos e ideias de felicidade, prazer e bem-estar, de uma velocidade voraz e do culto à uma vida de espetáculo, exibicionismo e performance. Sociedades em que a reestruturação produtiva impõe ao indivíduo uma flexibilização extrema de si próprio, na qual o homem contemporâneo não vende somente seu tempo de trabalho, vende a si mesmo para garantir sua sobrevivência em mercado cada vez mais competitivo, exigente e seletivo.

Na tentativa de alcançar um ideal de ser que se impõe, a pessoa se submete e se aliena às exigências sociais, a tal ponto que constrói formas de vida que se fundem com os ideais da época. O indivíduo faz tantas concessões que acaba se perdendo de si mesmo. Ele se distancia do que lhe é mais próprio e mais singular: o seu desejo, aquilo que define seu ser, que o distingue.

Ao abrir mão do seu desejo, a pessoa se aniquila subjetivamente, vive somente para cumprir seu dever social, sendo mais um entre tantos. Em consequência dessa falta de reconhecimento de si, a sensação de vazio e falta de sentido irrompe o sujeito. Sem desejo, nada lhe apetece: viver para que e para quem? A subjetividade, na depressão, apresenta-se, assim, justamente como a perda potência e sentido de vida. O indivíduo sofre e se mortifica diante da dor de uma existência vivida no automático. O que devolve, então, a sensação de estar vivo?

O processo psicoterapêutico possibilita que a pessoa resgate e narre sua história, sob sua perspectiva, preenchendo sua fala com recordações e afetos. Nesse processo, desvelam-se não somente o seu mal-estar, mas aspectos até então esquecidos de sua própria subjetividade e forma particular de existir. O indivíduo vai construindo, aos poucos, um saber sobre si, (re) conhecendo e se (re) apropriando do desejo que marca sua singularidade. É dessa forma que, transformando um vazio que nos paralisa em um vazio que seja impulsor de desejo que podemos resgatar um sentido de viver.”