Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e Diretor Clínico da Holiste, relata como tem sido o enfrentamento da pandemia na instituição, dos problemas enfrentados aos êxitos alcançados.
Desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus, diversas entidades da Saúde, agências públicas e outras referências sanitárias se esforçam para entender o problema, estabelecer protocolos e guiar as ações necessárias para conter o avanço do vírus.
Um dos grandes problemas dessas ações é que pouco se ouve falar sobre a experiência prática de hospitais e clínicas, que têm enfrentado o problema na linha de frente. São médicos, psicólogos, enfermeiros, fisioterapeutas, e tantos outros profissionais que estão trabalhando, na prática, para frear a pandemia. Por isso, a Holiste decidiu contar sua própria experiência na pandemia, com o objetivo de contribuir para o debate público, apontando quais os principais desafios, erros e acertos do processo.
“No início, quando a gente ainda estava naquele estado de perplexidade, tentando entender o que estava acontecendo, você vai buscar as referências. A gente logo viu que as referências chapa-branca estavam contaminadas. A própria OMS estava sendo um dos fatores de disseminação do pânico” – explica Luiz Fernando.
Assista ao vídeo completo:
O INÍCIO
Como no começo da pandemia não existiam muitos dados sobre o vírus, o pânico criado pelas entidades públicas tomou conta do cenário. A campanha do “Fique em Casa” se destacou como a única e exclusiva solução para combater o avanço do vírus.
Mas, como ficar em casa enquanto milhares de pessoas precisam de atendimento psiquiátrico e psicológico? O que fazer com as dezenas de pacientes internados, atendidos em ambulatório, hospital dia ou moradores da Residência Terapêutica?
“E aí, o que é que a gente faz com todas essas pessoas? Muitas vezes a gente se esquece que a doença mental mata, se ela não for tratada precocemente, se não houver intervenções (e aqui, claro, eu estou falando da doença mental grave)” – relembra o psiquiatra.
AS MEDIDAS DE ENFRENTAMENTO
A Holiste, assim como todos serviços de saúde, continuou funcionando normalmente durante a pandemia. Claro que diversas medidas de prevenção foram adotadas para preservar a integridade física de pacientes, colaboradores, equipe técnica e fornecedores: aferimento de temperatura de todas as pessoas que entravam na clínica, implantação de pontos de álcool em gel, uso obrigatório de máscaras em todos os ambientes, aplicação de testes rápidos em massa, campanhas de conscientização sobre as medidas de higiene pessoal, etc.
Além do protocolo padrão, medidas mais contundentes foram essenciais para manter o ambiente seguro: substituição das consultas presenciais pela telemedicina, suspensão das visitas da internação e da residência terapêutica, suspensão temporária das atividades do hospital dia e sua conversão em um hospital de campanha, para isolamento de casos suspeitos ou de novos pacientes internados.
“São pessoas que vêm diariamente, ou algumas vezes por semana, ao nosso hospital dia, para participar de grupos terapêuticos, de reuniões, ver o seu médico, interagir com outros, e essas pessoas como ficam indo e vindo diariamente elas poderia ser portadoras ou alvos fáceis do vírus” – pontua.
OS OBSTÁCULOS
Além dos desafios impostos pela natureza do vírus, por si só bastante complexos, outros tantos e ainda mais difíceis de contornar surgiram durante a pandemia. Situações como desabastecimento, confisco de mercadorias, transporte público insuficiente, burocracias inúteis e até mesmo a ameaça de fechamento de unidades hospitalares complicaram ainda mais o difícil trabalho de contenção do vírus.
“A gente viu um governo que, ao invés de estar ajudando, reunindo os empreendedores pra buscar uma colaboração, pra juntar esforços, enfim, de somar, ele se arvorou como dono da verdade, como quem ia resolver as coisas, e de uma forma absolutamente arbitrária de determinar regras, confiscos. Isso tudo foi muito estranho” – revela o psiquiatra.
O FUTURO
É importante ter em mente que o problema não acabou. Ainda se fala em uma segunda onda da Covid-19 no Brasil, que merece atenção e a continuidade de todos os cuidados tomados até aqui. Nas palavras de Luiz Fernando:
“O trabalho continua. Ainda não é passado, o vírus está aí, nós não podemos relaxar as medidas que a gente vem tomando até agora. Ainda é cedo para comemorar, tem muito trabalho pela frente, mas, até agora, estamos sendo muito exitosos”.
A EQUIPE
Todo o sucesso da Holiste no enfrentamento da pandemia se deve, segundo seu Diretor Clínico, se deve ao empenho e profissionalismo da equipe. Enquanto as pessoas entraram em pânico e foram levadas a ficar em casa pelas campanhas públicas, a equipe da clínica enfrentou seus próprios medos e incertezas para manter a assistência de seus pacientes.
“A equipe me surpreendeu, porque naquele momento de pânico eu não vi ninguém correndo, o pessoal chegou junto. Eu percebi, e tenho muito orgulho e quero falar disso, o comprometimento da equipe da Holiste. Isso também não foi à toa, a gente tem uma cultura de comprometimento já há muitos anos. (…)
É numa hora dessas que você vê como isso se manifesta: ao invés de correrem, as pessoas vieram pra cima. Todo mundo veio pra cá, todo mundo vendo como ia colaborar. Esse foi, também, o momento alto da nossa equipe” – finaliza Luiz Fernando.