A psicóloga da Holiste, Raíssa Silveira, falou sobre como a insegurança e o medo de crescer podem ser motivos para que filhos não saiam da casa dos pais, em entrevista à Rádio Sociedade.
Há alguns anos, sair de casa era um desejo de quase todos os adolescentes, que não viam a hora de serem independentes e ter seu espaço. Os tempos mudaram, e o comportamento da sociedade também. Hoje, muitas pessoas optam por ficar mais tempo na casa dos pais, mesmo já tendo condições financeiras de morar sozinhos, o que pode ser sinal de imaturidade.
“Embora existam questões sociais que influenciam essa mudança, é preciso ter cuidado com o que há por trás dos discursos que se constroem para não sair de casa – como não ter estabilidade financeira, precisar cuidar dos pais, etc. Por trás de tudo isso, há algo de muito singular em cada sistema familiar que faz uma parceria sintomática desses filhos com esses pais. Hoje, pessoas que são muito protegidas, têm muita segurança dada pelo outro e não correm riscos, podem se tornar sujeitos inseguros, imaturos, com medo de crescer”, salienta Raíssa.
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Estrutura
Raíssa também salienta que há alguns anos as famílias eram maiores, com muitos filhos, e muitas vezes os pais não tinham condições financeiras de manter os filhos por um tempo maior, e nem de dar tantas possibilidades de estudo como hoje.
“Hoje, famílias com menos filhos têm mais condições de dar estrutura e proteção financeira a esses sujeitos. Essa é uma mudança comportamental e também geracional. Sem dúvida, temos uma alteração no sistema familiar e nos objetivos de vida dessa geração, que tem outras prioridades. Hoje, o que se vê como mais importante é que a pessoa estude, para depois ter uma carreira profissional e posteriormente, talvez, uma construção de família, casamento, filhos”, observa a psicóloga.
Prioridades
Em relação à necessidade de privacidade, a psicóloga da Holiste sublinha que também existem mudanças nas prioridades de cada indivíduo. Dessa forma, mesmo com menos privacidade dentro de casa, as condições de ter uma proteção financeira e outras facilidades, que não são possíveis quando se mora sozinho, podem ser mais importantes para aquela pessoa.
“Não tendo que arcar com os custos totais envolvidos na manutenção de uma casa, é possível para aquela pessoa utilizar seu dinheiro para fazer viagens, ir a festas, comprar produtos que ela deseja. Dessa forma, isso pode ser priorizado em detrimento de uma liberdade ou privacidade maior”, aponta Raíssa.
O outro lado
Se os filhos muitas vezes optam por retardar o dia de morarem sozinhos, os pais também têm influência neste processo, contribuindo para essa imaturidade dos filhos. Raíssa destaca que existem casais que estimulam que os filhos fiquem em casa e criam condições para isso, mesmo sem perceber, por motivos diversos.
“Os pais podem ter, por exemplo, um casamento não muito bem-sucedido, no qual algo do vínculo familiar se sustenta por causa dos filhos; ou, então, mães e pais que têm medo da Síndrome do Ninho Vazio. Também é comum depositar no filho a expectativa de um companheiro ou companheira”, destaca.