André Dória, psicólogo e Coordenador do Núcleo de Transtorno Bipolar da Holiste, fala sobre adolescência tardia e imaturidade masculina, em entrevista ao portal Manual do Homem Moderno.
A adolescência tardia é um fenômeno cada vez mais frequente em nossa sociedade. A transição da adolescência para a fase adulta requer escolhas difíceis, mas sem as quais fica muito difícil alcançar a independência dos pais.
Nesse período de estabelecimento da maturidade, o jovem precisa começar a enfrentar seus dilemas por conta própria, sem a intromissão e supervisão constante dos pais, assumindo a responsabilidade por suas escolhas.
De acordo com alguns estudos, a adolescência deveria ir até no máximo os 24 anos. Mas, é cada vez mais frequente que jovens permaneçam mais tempo nas casas dos pais. André Dória, psicólogo e coordenador do Núcleo de Transtorno Bipolar da Holiste, explica que uma das explicações para o número elevado de adultos e infantilizados pode ser social:
“Vivemos em uma época de elogio à juventude e a coisas a ela relacionadas: competitividade, inteligência, beleza. E isso virou um produto a ser consumido. Nós estamos cultuando e consumindo juventude através de cirurgias plásticas, pílulas para aumentar a performance sexual, pílulas para performance intelectual, etc. Esse é um sintoma do nosso tempo. Mas não necessariamente é uma patologia”, completa.
Intolerância à frustração
Dória explica que, do ponto de vista emocional, os homens possuem baixa tolerância às frustrações, pouca capacidade de controlar impulsos e ouvir “nãos”, o que acarreta uma postura mais infantilizada.
“Esse traço de personalidade tem a ver com a família em que esses adultos imaturos cresceram”, defende. “Muitas vezes são filhos de pais e mães que não impuseram limites porque eles mesmos, os pais, foram castrados pela geração anterior. Mas, para virar um adulto é preciso ouvir ‘não’ desde a primeira infância. O que surge de quem cresce sem ouvir ‘não’? Jovens com dificuldades em enfrentar a chatice da vida adulta”, explica.
Vale ressaltar que a maturidade não está ligada à idade. André Dória afirma que “seja qual for a idade, a pessoa tem que ter autocrítica pra perceber se tem impasses na relação com o outro, se está estagnada, se não se desenvolve na vida amorosa ou profissional. Se tem dificuldade em lidar com o ‘não’, deve tomar consciência disso e buscar ajuda”, conclui.