Dietas da moda, o culto ao corpo perfeito e a adoção de práticas que, nem sempre, são a melhor opção para a manutenção de um corpo saudável são assuntos abordados no artigo de Joyce Souza, nutricionista da Holiste, publicado no Jornal A Tarde.
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Há muito tempo, comer deixou de ser o ato de nutrir o corpo, apenas. Basta acompanharmos as postagens que se proliferam, diariamente, nas redes sociais: comer, hoje, representa um estilo de vida . O modismo das dietas fitness, dos superalimentos, da vida glamurosa dos digital influencers, acaba levando as pessoas a adotarem padrões alimentares que nem sempre são os mais adequados para atingir uma saúde plena.
A alimentação é um ato cultural, cujos registros remontam a própria origem da civilização. Nossos hábitos alimentares influenciam a forma como nos relacionamos, como nos organizamos enquanto sociedade. Poucos comportamentos atraem tanto a atenção de outras pessoas quanto comer: o quê, onde, como, e com quem se come sempre desperta a curiosidade alheia.
O problema é que, atualmente, comer se tornou o palco de uma luta moral e estética, na eterna busca pelo corpo “perfeito”. Muitas pessoas são atraídas e seduzidas por promessas de resultados rápidos e milagrosos, sem considerar a singularidade de seu próprio organismo ou a relação subjetiva com seu corpo. Essas frustações, quando repetidas, podem desencadear compulsões e transtornos alimentares graves.
Complexa, a alimentação dos humanos ultrapassa em muito a mera necessidade nutricional do corpo. No fim das contas, as pessoas não se alimentam de nutrientes, mas de preparações escolhidas e combinadas de uma maneira particular, com cheiro, cor, temperatura, textura e sabor, além de aspectos simbólicos e subjetivos.
Assim, preparar uma dieta demanda recursos para harmonizar informações fisiológicas do meio interno com informações nutricionais do ambiente externo. Aquilo que chamamos de informações nutricionais do meio externo diz respeito tanto às características dos alimentos, como a tudo que diz respeito às características sociais, culturais e religiosas. Por exemplo: nós, brasileiros, recebemos do meio social a informação que, na Sexta-feira Santa, temos que comer peixe, pois nossa formação fundacional é católica .
Alimentar-se é um ato de autopercepção que tem relação com a nossa identidade social. Nessa perspectiva, não existe alimento bom ou ruim: cada um deve reconhecer nos alimentos os seus julgamentos culturais e afetivos, tornando-os conscientes para, então, poder guiar suas decisões alimentares. Ao ter isso claro, observamos e julgamos nossa real necessidade alimentar, favorecendo a descoberta de escolhas conscientes para o ato de comer.
Como podemos separar nossos afetos das amarras sociais que direcionam o nosso comportamento alimentar? No tempo digital, em que os influenciadores do Instagram ditam a forma corporal ideal e os nossos costumes alimentares, como fazer da nossa singularidade uma aliada na redução de peso?
Artigo publicado no jornal A Tarde, no dia 2 de abril de 2019.