Estimulação magnética, utilizada para pacientes com depressão, pode ser novo tratamento para a desorientação espacial
Pesquisadores da Universidade Jhons Hopkins, nos Estados Unidos, identificaram uma área do cérebro responsável pelo reconhecimento inconsciente da percepção vertical. A descoberta pode ser a chave para explicar algumas causas da tontura e da desorientação espacial, bem como sugerir novos tratamentos para o problema.
A tontura é uma das queixas mais comuns nos consultórios médicos e pode estar ligada a danos no ouvido interno ou em outros sentidos, como a visão. Publicada na Revista “Cerebral Cortex”, a pesquisa da Jhons Hopkins descobriu uma nova causa para o problema, que liga a desorientação espacial a um erro no processo cerebral de decodificação das mensagens provenientes do ouvido interno, sobre força da gravidade, e dos olhos, sobre as sensações de movimento.
Os pesquisadores focaram seus estudos na parte direita do córtex (área mais externa do cérebro, rica em neurônios), pois estudos anteriores com pacientes vítimas de derrame e com problemas de equilíbrio haviam sugerido que essa parte do cérebro seria responsável pela percepção do movimento.
– Nosso cérebro tem uma maneira extraordinária de saber onde estamos no espaço, se estamos de pé ou inclinados, mesmo que esteja completamente escuro e não consigamos ver nada ao nosso redor – afirma Amir Kheradmand, instrutor de neurologia da Escola de Medicina de Hopkins que conduziu a pesquisa. – O estudo sugere que há uma pequena área de tecido neural no lobo parietal (parte do cérebro que interpreta os estímulos sensoriais) que está ligada significativamente a esta habilidade, nos dandos um ponto de partida para pensar como tratar pessoas com tontura por desorientação.
Oito pessoas saudáveis foram recrutadas e colocadas em uma sala escura com linhas iluminadas em uma tela. O sentido de orientação dos participantes foi testado com a movimentação das linhas para esquerda, para direita e para frente.
Após relatarem os movimentos, as pessoas receberam uma Estimulação Magnética Transcraniana (EMT). De forma não invasiva e indolor, a EMT enviou correntes eletromagnéticas para as áreas do cérebro que podem desregular temporariamente as funções do lobo parietal. Testado e aprovado pela FDA, órgão governamental americano responsável pelo controle de alimentos e medicamentos, a EMT é utilizado para tratamento de pacientes com depressão, pois estimula as células nervosas do cérebro envolvidas no controle do humor e da depressão.
Os estímulos magnéticos foram enviados por uma bobina eletrônica presa ao couro cabeludo do pesquisado, atrás da orelha direita. O local foi mapeado de acordo com o alcance da bobina, de dois centímetros, para que atingisse uma pequena região do lobo parietal, o giro supramarginal. Foram emitidos 600 impulsos ao longo de 40 segundos para cada participante. Após as sessões, eles eram novamente levados para a sala escura para descrever o movimento das linhas.
Testados uma vez por dia por algumas vezes, os pesquisados relataram a mesma mudança em seu senso de percepção. Com o resultado, segundo Kheradman, a EMT passa a ser uma possibilidade para o tratamento de tonturas crônicas.
– Se conseguimos interromper a percepção de pé em pessoas saudáveis utilizando EMT, também pode ser possível aplicá-la para corrigir uma disfunção no mesmo local em pessoas com tontura e desorientação espacial – afirma o pesquisador.
FONTE – O Globo