Uma técnica não invasiva, que utiliza estímulos magnéticos no crânio, é capaz de reduzir a fissura por cocaína. Ao agir sobre regiões do cérebro responsáveis pelo desejo intenso, o método conseguiu diminuir o consumo da droga em até 60%. Os resultados são de uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
A técnica de estimulação magnética transcraniana (EMT) já é usada em casos de depressão e outros transtornos psiquiátricos que não respondem a medicamentos, e também no tratamento da dor. Com uma bobina encostada na cabeça do paciente, o aparelho de EMT produz um potente campo magnético e, oscilando, gera uma corrente elétrica.
“A corrente atravessa o crânio e age no sistema nervoso central, realizando a modulação do cérebro de forma não invasiva”, explica o psiquiatra Philip Leite Ribeiro, autor da pesquisa. O trabalho foi orientado pelo professor Marco Antonio Marcolin, da FMUSP.
O médico relata que os estímulos elétricos gerados despolarizam os neurônios (células do sistema nervoso). Eles atingem regiões que estão diretamente ligadas à modulação da fissura.
O tratamento conseguiu uma redução de 80% da fissura e de 60% do consumo de cocaína, comprovada pelas análises de urina. “É uma redução mais efetiva do que a conseguida atualmente por meio de medicamentos”, destaca Ribeiro. “A terapia com fármacos consegue uma diminuição da fissura entre 20% e 30%”.
Os pacientes foram submetidos a 20 sessões de estimulação magnética, cinco vezes por semana, no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP. Após esse período, participavam de um grupo de prevenção de recaídas por dois meses, coordenado por uma psicóloga, e recebiam alta ao final de três meses.
Antes, durante e depois do tratamento, os pacientes foram submetidos a uma avaliação neuropsicológica detalhada. Também foram realizados exames de urina periódicos para avaliar a presença de benzoilecgonina, a principal subtância produzida pelo organismo a partir da cocaina (metabólito).
O método já é aprovado para uso em outros transtornos psiquiátricos, mas, no caso da dependência, ainda é preciso aprovação do Conselho Federal de Medicina (CFM). “Também serão necessárias outras pesquisas que repliquem os resultados obtidos neste estudo”, diz Ribeiro.
(Com Agência USP de Notícias)
FONTE – UOL Saúde