Ainda desconhecidas por parte das pessoas, as terapias de neuroestimulação são poderosas ferramentas para o tratamento de transtornos mentais graves.
Preferencialmente, o tratamento em Saúde Mental deve ser multidisciplinar. A pluralidade das abordagens abre mais possibilidades de sucesso para o paciente. Assim, além do acompanhamento psiquiátrico e do tratamento medicamentoso, o plano terapêutico pode incluir: psicoterapia, terapia ocupacional, arteterapia, musicoterapia, psicopedagogia, acompanhamento terapêutico, entre outros.
As terapias de neuroestimulação também fazem parte das possibilidades terapêuticas disponíveis da psiquiatria moderna. Quando as medicações psiquiátricas já não se mostram eficazes para controlar os sintomas da doença, ou quando o paciente tem alguma contraindicação ao uso dos fármacos, a neuroestimulação pode ser uma excelente alternativa para a recuperação do indivíduo.
As principais terapias de neuroestimulação são a eletroconvulsoterapia (ECT), popularmente conhecida como terapia de eletrochoque, e a estimulação magnética transcraniana (EMT).
ELETROCONVULSOTERAPIA (ECT)
É considerada, pela grande maioria dos psiquiatras, a terapia biológica de maior resolutividade na Saúde Mental, especialmente no tratamento das depressões graves e psicoses refratárias às medicações.
A ECT apresenta uma rápida resposta terapêutica, o que a torna altamente recomendada para pacientes com risco de suicídio, negativismo intenso e catatonia, além dos casos de psicoses que podem oferecer risco a terceiros.
No Brasil, a ECT é regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina que, na sua resolução n. 1.640/2002, artigo oitavo, contraindica o uso dos antigos aparelhos de corrente elétrica helicoidal e sem controle de carga ou frequência, recomendando o uso dos modernos equipamentos eletrônicos de pulso breve.
TRATAMENTO DE ECT
O tratamento consiste na indução de uma convulsão controlada, com duração média de 25 segundos, monitorada por eletroencefalograma, eletrocardiograma e oximetria. Para isso, o paciente é estimulado com uma corrente elétrica de pulso breve ou ultra breve, controlada por computador, com duração de 5 a 7 segundos. O número de sessões necessárias varia conforme o caso e é definido pelo psiquiatra, levando em consideração a resposta do paciente às aplicações.
As sessões podem ser feitas com o paciente internado ou ambulatoriamente. Todo o procedimento dura em torno de 40 minutos, com a liberação do paciente alguns instantes após a sessão.
Para maior segurança e conforto do paciente, o tratamento é feito sob anestesia geral. Ao contrário do que acredita o senso comum, o procedimento não é doloroso, e a anestesia tem o papel de promover o relaxamento muscular, evitando espasmos mais fortes durante a aplicação.
ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA (EMT)
De natureza não invasiva, o procedimento é realizado ambulatoriamente (em consultório), permitindo que o paciente realize o tratamento sem interferência em sua rotina diária.
A partir do mapeamento da área motora do cérebro e de mensurações realizadas antes da sessão, se define o local específico que receberá o estímulo, bem como a intensidade do mesmo. O paciente recebe os pulsos magnéticos somente no lugar a ser estimulado, sentado confortavelmente em uma poltrona.
A estimulação é feita através de uma bobina repousada sobre a cabeça do paciente, que estará envolta por uma touca de tecido especial demarcada com os pontos a serem estimulados. Essa bobina é perpassada por uma corrente elétrica de alta intensidade que cria um campo magnético, tal como um eletroímã, focalizado. A depender da frequência utilizada, pode estimular ou inibir a área escolhida, modulando, assim, a atividade neuronal e proporcionando o resultado esperado.
No Brasil, o uso da técnica foi regulamentado pela Anvisa em 2006, e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em 2012. A técnica é liberada pelo FDA desde 2008.
TRATAMENTO DE EMT
As sessões de EMT são realizadas diariamente, de segunda à sexta, com duração de 20 a 30 minutos. Nelas, o paciente permanece consciente e acordado, confortavelmente sentado em uma cadeira. O aparelho gera campos magnéticos semelhantes aos utilizados nos sistemas de ressonância magnética, que atuam especificamente na área do cérebro delimitada previamente pelo psiquiatra. Após a aplicação, os pacientes podem voltar para casa de forma independente, retomando imediatamente a sua rotina diária.
O número de sessões do tratamento de EMT é determinado pelo médico psiquiatra, levando em consideração o quadro clínico de cada paciente (diagnóstico, gravidade, idade, saúde clínica, etc.). Na maioria dos casos, são necessárias de 20 a 30 aplicações de EMT para alcançar o resultado desejado.