Cláudio Melo, psicólogo do Espaço Holos, compareceu ao programa CBN Bate Papo para esclarecer dúvidas sobre o impacto das redes sociais sobre os relacionamentos.
Com a revolução da informática e das telecomunicações, a forma como as pessoas se relacionam mudou radicalmente nas últimas duas décadas. O advento da Internet, da telefonia móvel, o barateamento da tecnologia e tantas outras invenções permitiram que o mundo todo estivesse conectado e trocando informações em tempo real. Dentro deste cenário, o fenômeno das chamadas redes sociais criou um novo capítulo no comportamento das pessoas diante a sociedade na qual estão inseridas e, segundo alguns, afetando inclusive os relacionamentos.
O problema da privacidade
Um dos principais problemas relacionados ao uso das redes sociais é a falta de privacidade provocada pela superexposição causada pela ferramenta. Todo mundo pode ver suas fotos (mesmo que sejam apenas seus “amigos”), ler seus comentários, deixar comentários nas suas postagens, postar conteúdos em sua página e mais uma porção de possíveis interações disponíveis. Deste modo, conversas que antes aconteceriam de modo reservado, pessoalmente, as quais o conteúdo ficaria restrito apenas aos presentes naquele momento, acabam tomando grandes proporções e gerando desgastes no relacionamento.
Para o psicólogo esta superexposição realmente acontece, mas não pode ser considerada a vilã dos relacionamentos: “Antigamente, quando não existia rede social, o que acontecia quando o casal estava em crise? Ambos começariam a sair mais, estabelecer novas relações, sair para outros lugares sozinhos, e isso também era motivo de briga, de discussão. O problema de hoje é que estas coisas ficam muito mais na cara. (…) E aí eu volto a ressaltar: não é a mídia (a rede social) que causa o problema; o problema é como as pessoas a usam”.
Compulsão: mensagens e respostas instantâneas
Outro ponto que Cláudio acredita ser importante é a forma compulsiva da troca de mensagens nas redes sociais. Atualmente as pessoas sequer conseguem desligar os seus aparelhos e ficar offline: “De fato as pessoas não conseguem se desligar, não desconectam de jeito nenhum”.
Juntamente com a necessidade de estar conectado a todo o tempo vem uma demanda por atenção constante, imediata: “Este é um fato. Realmente a relação das pessoas com o tempo e o espaço se modificou muito. (…) Você manda uma mensagem: se a pessoa não responde você fica angustiado, acha que ela não está ligando para você, está te rejeitando. Às vezes a pessoa não pode responder” – aponta o especialista.
O impacto nas relações pessoais e familiares
Outro ponto em questão foi a substituição do contato pessoal, da conversa cara a cara até mesmo dentro da instituição familiar, contribuindo para o afastamento e isolamento das pessoas. Os mecanismos que vieram para encurtar as distâncias entre pessoas que estão longe uma da outras parecem aumentar a distância entre quem divide o mesmo ambiente de convívio: “O almoço de domingo, familiar, foi substituído pelo grupo de família do WhatsApp.(…) Estamos sendo invadidos por esta cultura onde a família deixa de ser este eixo tão forte, como era na sociedade latino-americana. (…) Às vezes você utiliza uma ferramenta para aproximar um pouco mais, mas às vezes, realmente, você passa a substituir uma coisa pela outra. (…) Isso dificulta as relações imediatas, a relação direta com o outro”.
Cláudio Melo também ressalta o caráter narcísico das relações nas redes sociais: “Tem esta questão de ser uma sociedade narcísica: imediatista e narcísica. As pessoas querem aparecer, mostrar que estão bem de vida, mostrar que ela faz isto ou aquilo outro. O Facebook tem este lado muito narcísico, o Instagram. (…) Esta coisa da autopromoção, do campo do narcisismo, muita destas mensagens é para você mesmo”.
Como utilizar as redes sociais sem prejudicar o seu relacionamento?
O psicólogo afirma que não existe uma receita para a boa utilização das redes sociais, isso vai depender de cada indivíduo: “Cada um vai desenvolver sua própria estratégia e todos nós, em sociedade, temos que desenvolver alguma ética, algum respeito mínimo. Isso vai levar um tempo ainda, até aprendermos a usar as redes sociais. (…) Acho que as pessoas vão terminar se adaptando, a sociedade vai se adaptar. Não é uma coisa que preocupa, ou de pensar que a sociedade está perdida por causa das redes sociais”.
Para casais que utilizam a rede e querem evitar conflitos, Cláudio ressalta a importância da privacidade de cada um, do respeito à individualidade na relação à dois: “Nós temos esta necessidade do particular, do individual. O grande problema das redes sociais é esta coisa de você querer compartilhar com namorada, marido, etc., página de Facebook. Você tem que ter seu espaço de individualidade, tem que reservar um espaço para você falar com as pessoas, só com seus amigos, de você fazer coisas sozinho. Então, é muito importante se respeitar isto: às vezes esta coisa invasiva atrapalha muito os relacionamentos” – conclui.
Ouça a entrevista completa:
* Cláudio Melo é Mestre em Psicologia pela universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenador do Programa de Tratamento do Estresse e Transtornos de Adaptação do Espaço Holos.