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Os limites da depressão - TVE Debate

DEPRESSÃO É UMA DOENÇA PSIQUIÁTRICA QUE CAUSA SINTOMAS EMOCIONAIS E FÍSICOS.  UMA PATOLOGIA QUE, SEGUNDO A OMS, ATINGE MAIS DE 150 MILHÕES DE PESSOAS NO MUNDO E É CONSIDERADA POR MUITOS COMO “O MAL DO SÉCULO”.

O programa TVE Debate (BA), apresentado por Márcia Moreira, promoveu um debate com os psicólogos Edson Amorim e Rafael Peixoto e os médicos psiquiatras Antônio Freitas e André Gordilho, psiquiatra do Espaço Holos, onde foram esclarecidos ponto importantes sobre a depresão.

Confira o debate na íntegra.

DEPRESSÃO NÃO É TRISTEZA

Depressão é uma patologia, uma síndrome, um conjunto de sinais e sintomas que caracterizam uma patologia, que tem início, um modo de evolução e um tratamento especifico. É importante diferenciar uma tristeza, um estado de luto ou uma frustração pessoal de um quadro patológico de depressão: “Depressão é uma doença muito estigmatizada e, por isso, muitas pessoas deixam de se tratar. Geralmente verifica-se uma grande diferença em sentir-se deprimido e buscar a ajuda médica de alguns anos”, afirma Dr. Gordilho.

 

A VIDA PERDEU A GRAÇA – SINTOMAS DA DEPRESSÃO

Um forte sentimento de tristeza – decorrente de algum evento negativo – não classifica o individuo como um paciente depressivo. A depressão precisa se caracterizar por um conjunto de sintomas que persistem, trazendo prejuízos funcionais para a vida da pessoa.

Os principais sintomas associados a um quadro depressivo:

  • Anedonia – perda do prazer
  • Humor deprimido
  • Sentimento de culpa ou inutilidade
  • Alteração do ritmo do sono e vigília – aumento do sono ou insônia
  • Alteração do apetite – ou aumento ou diminuição do apetite
  • Pensamentos suicidas
  • Psicose – Idéias ou delírio de ruínas, alucinações

 

PARTICULARIDADES DA DEPRESSÃO EM DIFERENTES PÚBLICOS

Mulheres são mais afetadas

– Mulheres desenvolvem mais transtornos depressivos do que homens numa proporção 2×1.  Porém não existem pesquisas conclusivas que expliquem essa maior proporção.

Depressão na infância e adolescência

– A depressão também pode atingir crianças e adolescentes.  Nesta fase da vida, o indivíduo apresenta maior irritabilidade, comportamentos de isolamento social (em especial na esfera familiar) e conflitos internos intensos, característicos das mudanças físicas e psicológicas deste período de desenvolvimento.

Pela dificuldade real de separar o que vem a ser um comportamento natural e o começo de um quadro patológico, é importante que os pais estejam atentos a alguns indicadores: se o filho sempre teve um comportamento expansivo e passou, de forma brusca, a ser mais isolado; se o filho demanda uma maior atenção por parte dos pais; se o rendimento escolar reduz drasticamente; se o filho deixa de praticar esportes ou outras atividades fora do ambiente familiar ou se o próprio indivíduo relata algum tipo de sofrimento ou angústia, estes são sinais de que a criança/adolescente pode estar sofrendo de um episódio depressivo.

Depressão na terceira idade

– Idosos também são uma população que demandam uma atenção especial, pois passam por uma grande mudança física, social e psicológica em suas vidas.  Desde o afastamento de suas rotinas laborais, passando pelo envelhecimento do corpo e mudanças hormonais até o sentimento de luto presente através das mortes de amigos, parentes e companheiros, a terceira idade está repleta de possíveis fatores desencadeadores de uma depressão.

Realizar o diagnóstico adequado, nestes casos, pode ser algo muito complexo.  Quadros de demência senil podem dificultar a identificação ou a correta abordagem de uma depressão. Muitas vezes o quadro depressivo no idoso não se inicia com sintomas “clássicos” da depressão, como tristeza e anedonia; queixas de dores, dificuldades para realizar tarefas, irritabilidade e esquecimentos são comuns neste público.

 

TRATAMENTO PARA DEPRESSÃO

Segundo Dr. Gordilho, “existem uma gama enorme de tratamentos antidepressivos, medicações antidepressivas, psicoterapia mostra-se bastante eficaz como tratamento em associação, além de outras terapias de neuromodulação como EMT e o ECT. Os tratamentos têm evoluído bastante, além do que, os estudos mostram que tratamentos em associação têm melhores efeitos em relação aos tratamentos realizados de forma isolada”

Dr Gordilho também citou a importância da continuidade do tratamento, trazendo dados sobre a  reincidência do quadro depressivo:

“A remissão dos sintomas é quando o paciente volta a “funcionar” da forma anterior ao episódio depressivo, e é muito comum os pacientes quando se sentirem-se assim, abandonar o tratamento e para de tomar o remédio.  Esse é um erro, pois o tratamento deve continuar por aproximadamente 01 ano, mesmo depois da resolução dos sintomas.  Após o primeiro episódio depressivo, existe 50% de chance de desenvolver um segundo episódio, após o segundo, 80% de chance de desenvolver o terceiro, a partir do terceiro em diante, 90% de chance ou mais.”

 

CAPACITAÇÃO DA REDE PÚBLICA

A capacitação dos médicos que atuam na rede pública de saúde foi um dos temas abordados no debate. Quando perguntado sobre a necessidade e os benefícios em se capacitar estes profissionais para realizarem diagnósticos e tratamentos de pacientes depressivos, assim como pacientes com outros transtornos mentais, Dr. Gordilho defendeu que o papel do clínico geral neste primeiro atendimento é levantar as comorbidades envolvidas no quadro do indivíduo e encaminhá-lo para o especialista: “O que acontece muito é receber o paciente “mal- tratado” vindo da rede primaria, por falta de capacitação dos profissionais. Deveria-se treinar os profissionais para reconhecer o quadro depressivo, iniciar o tratamento e encaminhar para o especialista, mas não responsabilizar para acompanhar o tratamento todo.”

Dr. André Gordilho ainda chamou atenção para o baixo número de leitos públicos para internação. Após a chamada reforma psiquiátrica, quando foram fechados mais de mil leitos psiquiátricos somente em Salvador, a capacidade de atendimento foi reduzida para algo em torno de 150 leitos, o que trouxe enormes transtornos para famílias que precisam de assistência no momento de uma crise.

 

DEPRESSÃO É UMA DOENÇA QUE TEM TRATAMENTO

Um dos passos mais importantes para o tratamento é entender que a depressão é uma doença e que, como qualquer outra, o ideal é procurar um especialista e enfrentar o problema com a ajuda profissional:

“A depressão é um problema médico como outro qualquer, como diabetes, pressão alta. Um problema que tem tratamento, não precisa ter vergonha. Depressão não é frescura, não é loucura, não é falta de caráter. Ao sentir os sintomas, como tristeza, anedonia, falta de apetite, busque um psiquiatra, busque a atenção profissional, para que você possa ser tratada e cuidada. A família deve compreender também, para que forneça o suporte necessário ao paciente. Depressão tem controle e em alguns casos pode-se chegar até mesmo a cura.  E os pacientes que não conseguem a cura, tem tratamento e levam uma vida perfeitamente normal e funcional, podendo casar, ter filhos, emprego – uma vida perfeitamente normal.” – finaliza o psiquiatra.

 

*Dr. André Gordilho é Médico Psiquiatra e Mestre em Medicina e Saúde Humana