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Os pais entram no consultório sem a menor ideia do que é TDAH

Especialista em Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o psiquiatra Luiz Augusto Rohde conta o que mudou no diagnóstico da doença com a atualização da bíblia da Psiquiatria, este ano.

Psiquiatra foi um dos 160 médicos do mundo a participar da atualização do Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais.

O psiquiatra gaúcho Luiz Augusto Rohde foi convidado pela Associação Americana de Psiquiatria para colaborar na atualização do Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5), num grupo de 160 médicos. Neste sábado ele participa do I Congresso Nacional e o VIII Simpósio Nacional de Psiquiatria organizado pela Santa Casa da Misericórdia, sob a coordenação do psiquiatra Fábio Barbirato, dos departamentos de Psiquiatria Infantil da Santa Casa de Misericórdia e da Associação de Psiquiatria do Rio. Nesta entrevista ele fala do que mudou no diagnóstico do TDAH com o novo manual e da esperança de um futuro sem transtornos mentais.

O senhor e sua equipe contribuíram no DSM-5 com a sugestão de mudança de idade no diagnóstico de TDAH de 7 para 12 anos. O que isso muda, na prática, para quem tem a doença?

Eu participei da reformulação do sistema classificatório americano em TDAH e até então o consenso era que o prejuízo associado aos sintomas de TDAH tinha início antes dos 7 anos de idade. Só que o que se viu é que os sintomas só começam a causar prejuízos importantes após 7 anos, porque a criança entra na escola e há uma demanda de atenção maior, o prejuízo aparece de forma mais clara. Então conseguimos mostrar que aquelas crianças que começam a desenvolver o TDAH antes ou depois dos 7 anos de idade apresentam padrão de sintomas bem similar, o problema neuropsicológico, o histórico familiar e a resposta ao tratamento também bem similares. Tudo isso fez com que se repensasse uma idade maior para o diagnóstico, se estendendo até 12 anos. Somado a isso dados dos EUA mostravam que 96% dos sintomas de TDAH começam até 12 anos.

Isso melhora o diagnóstico?

Isso faz com que crianças que começam a ter os sintomas depois dos 7 anos possam ser reconhecidos com TDAH e tenham o tratamento adequado. E essas crianças passam a ter a possibilidade de ter um olhar e um acolhimento para o seu problema.

De alguma forma essa vida moderna com tantos estímulos colabora de alguma forma para o aumento de TDAH nas crianças?

Não há aumento na prevalência nos últimos dez anos no Brasil. Uma pesquisa por telefone que avalia amostras nas casas e nas escolas mostra isso. Não é diagnóstico, a pessoa pergunta aos pais se em algum momento seu filho foi diagnosticado ou teve indicação de TDAH e esse levantamento mostrou que não houve aumento de prevalência. Mas qualquer transtorno é uma expressão da vulnerabilidade biológica com gatilhos ambientais. Então é claro que essa criança com vulnerabilidade biológica para TDAH em um ambiente de muita demanda ou excesso de estímulos pode desencadear o processo. Não que seja a causa, mas pode contribuir para isso.

O tratamento de TDAH avançou?

O tratamento é multimodal, fazemos a parte educacional porque muitas vezes pais e crianças entram no consultório sem a menor ideia do que é TDAH, mas com uma ideia de que culturalmente aquelas características têm a ver com uma criança desobediente e mal comportada, por exemplo. Num primeiro momento explicamos o que é o TDAH e, muitas vezes, em crianças até 6 anos, o tratamento é social, com o treinamento dos pais sobre as características do transtorno e clgumas atitudes, como o aumento do contato com a escola para resolver questões como o aluno sentar na primeira fila, longe da janela e – eu brinco com meus alunos de mestrado e doutorado, blindado por dois CDFs de cada lado; e, por fim, a questão medicamentosa que em geral é usada em crianças mais velhas com sintomas de moderado a grave.

À medida que avançamos e antecipamos o diagnóstico dessas doenças podemos sonhar com um futuro sem transtornos psicológicos?

Esse é o sonho, reconhecer e gerenciar os transtornos na infância e fazer intervenções que possam alterar a trajetória da doença mental, interrompendo essa trajetória até a idade adulta, mas ainda estamos no campo teórico.

FONTE – O Globo

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