O suicídio é a segunda maior causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos e o Brasil é oitavo país no mundo em número de pessoas que tiram a própria vida.
Justamente em função da gravidade do problema, setembro foi o mês de prevenção ao suicídio, temática abordada na entrevista concedida pela psiquiatra da Holiste, Livia Castelo Branco, ao Metrópole Saúde. No programa, a médica esclareceu dúvidas sobre o tema e enfatizou a importância de se falar sobre o assunto.
“Existe um tabu de que falar sobre suicídio estimularia o ato. O que se observa, porém, é que as pessoas que pensam em se matar estão em sofrimento profundo e muitas vezes precisando falar sobre o assunto e obter ajuda especializada. É apenas falando sobre o tema que essas pessoas podem expressar sua dor e os que estão próximos podem ajudar, acolher e encaminhar para assistência adequada. Se a gente não falar, a pessoa vai continuar sofrendo”, pontua.
Ouça a entrevista completa.
Identificando sinais
Livia Castelo Branco salientou que é possível identificar sinais de que a pessoa pensa em suicídio, porque quase na totalidade dos casos o indivíduo dá sinais, derrubando o mito de que “quem quer se matar não avisa”.
Isolamento e discursos vagos relacionados à despedida são indicativos dos pensamentos suicidas. Muitas vezes, explicou a médica, a pessoa se organiza, paga dívidas, fecha contas em bancos.
“São alertas, ainda, frases como: ‘a vida não vale mais a pena’ ou ‘seria melhor dormir a não acordar mais’. Isso tudo é sinal de que a pessoa está em sofrimento e já tem pensamentos de morte”, diz Livia Castelo Branco.
A psiquiatra enfatizou que falas comuns entre as pessoas próximas, como indicando que o problema seria falta de religião ou fé, ou apontando que a pessoa tem tudo que precisa e não deveria se sentir infeliz, podem aumentar a culpa do indivíduo e ser um fator agravante para o suicídio.
“A religiosidade realmente dá um suporte muito grande para os indivíduos. A fé reduz muito o risco de suicídio. Mas, o que a gente observa é que os transtornos mentais, principalmente a depressão, causam tristeza, desânimo e falta de fé. Ou seja, isso já pode ser um sintoma da depressão”, comenta.
Associação com transtornos mentais
A médica frisou que 90% dos suicídios estão associados a transtornos mentais, como esquizofrenia, depressão, dependência química, transtorno bipolar e outros. Ou seja, se essa doença mental for tratada desde o início, muitas mortes podem ser evitadas.
Livia Castelo Branco aponta, ainda, fatores que contribuem para proteção da saúde mental, como atividade física, dieta, sono adequado, atividades de lazer, suporte social e suporte psicológico.
O acolhimento, o suporte emocional e até mesmo uma conversa são fatores que podem contribuir com a prevenção do suicídio, mas tudo depende do caso, pois há pessoas que têm quadros mais graves e vão necessitar de tratamento, utilizar medicações, ou lançar mão de qualquer outra terapêutica que combata a doença que causa a ideia suicida.
Precisamos falar sobre isso
A família e os amigos têm um papel fundamental para a prevenção do suicídio, apenas se colocando à disposição para ouvir, conversar, ou estando atentos aos possíveis sinais. A psiquiatra Livia Castelo Branco enfatizou que a família e os amigos de um indivíduo em sofrimento devem acolher essa pessoa e fazer ela sentir que não está sozinha. Em muitos casos, é preciso encaminhar ao tratamento com psiquiatra ou psicólogo.
No caso de pessoas que estão em tratamento, a família precisa estar atenta para verificar se as medicações estão sendo tomadas corretamente, se o paciente está indo às consultas e estar sempre pronta a acolher e ouvir.
“A primeira indicação é observar as mudanças de comportamento das pessoas, isolamento e discursos vagos em tom de despedida, ou de querer dormir e não acordar mais, querer sumir, querer morrer, ou mesmo notar que a pessoa está mais afastada, e você chega e pergunta se ela está pensando em morte. Perguntar não vai fazê-la ter a ideia, vai fazê-la se sentir acolhida. O segundo é, se a pessoa segue triste, apresentando sintomas, levar ela para ajuda especializada”, conclui.