Psicoeducação é uma abordagem terapêutica que busca promover ao paciente, e seus familiares e cuidadores, uma ampliação do conhecimento sobre a sua doença e o processo de tratamento.
A aplicação da psicoeducação contribui para uma melhora efetiva no quadro de pacientes já adoecidos, além de auxiliar a prevenção de novas crises. “Se o paciente entende a doença e seu processo, ele conseguirá evitar os sintomas que podem desencadear crises, por exemplo, e se cuidar melhor”, explica o psicólogo Marcelo Magnelli.
Comparando com situações do cotidiano, é como se a técnica auxiliasse a entender e lidar melhor com as angustias inerentes ao ser humano, como se a pessoa aprendesse a pensar, corrigir pensamentos distorcidos e focar sua atenção no que funciona em sua vida. De acordo com Magneli, apesar das variadas técnicas à disposição da psicoeducação, sempre se mantém em perspectiva a afirmação do pai da psicanálise, Sigmund Freud – “aquilo que está inconsciente deve advir à consciência para que a cura aconteça. Ao tomarmos consciência de algo, controlamos este algo, minoramos os efeitos nefastos daquilo que não era conhecido. Eu entendo que o tratamento de qualquer transtorno pode ter bons resultados com um bom trabalho de psicoeducação, pois o que está em jogo é, em primeiro lugar, a disposição do paciente em pensar, escutar e falar sobre o que lhe faz sofrer”, revela.
Para todas as situações
Conforme afirma Lívia Brandão, terapeuta ocupacional e coordenadora do Holiste Dia, estudos demonstram a eficácia da psicoeducação como suporte no tratamento de várias patologias, sejam elas físicas, mentais e/ou clínicas. “É um recurso terapêutico que pode ser utilizado no tratamento da dependência química, disfunções cognitivas, transtorno de ansiedade, bipolaridade, transtorno do estresse pós-traumático, entre outros diagnósticos. A psicoeducação é uma ferramenta de autoconhecimento sobre o próprio processo de adoecimento, que permite ao paciente uma real percepção dos prejuízos causados pelo transtorno mental, pela sua postura ante o problema”, declara.
A Holiste realiza grupos psicoeducativos que desempenham um papel fundamental no tratamento dos transtornos mentais, tanto para pacientes da internação integral, como para aqueles tratados em hospital dia (HD). “Além de estimular a integração social, o trabalho realizado no Holiste Dia também desenvolve a psicoeducação, pois mesmo os pacientes que não estão em uma crise grave necessitam conscientizar-se sobre sua doença”, afirma Lívia Brandão.
Itatiara Xavier, também terapeuta ocupacional da Holiste, destaca que a psicoeducação pode ser individual ou em grupo, por meio de informações sistemáticas e didáticas sobre o tratamento. “Sempre com objetivo de possibilitar ou instrumentalizar o paciente a enfrentar as situações e questões práticas colocadas pelo transtorno. Estas intervenções são estendidas aos familiares para que, juntos, compreendam e deem sentido à experiência vivida, tornando o cotidiano mais leve e prático”, conclui.
Na contramão
O psicólogo Marcelo Magneli ainda explica que, no Holiste Dia, é realizado um trabalho de “psicoeducação às avessas”. “Ao invés de levarmos a teoria sobre uma determinada doença, tentando encaixar a realidade do paciente nos parâmetros gerais, escutamos os pontos particulares que constituem o próprio modo de ser de cada indivíduo e estabelecemos, juntos, um caminho para o entendimento desse processo de adoecimento específico”.
Entre as estratégias utilizadas, um encontro promovido nas tardes de quarta-feira, batizado de “Grupo Limites”, debate questões como: o que há de excessivo em mim e que me faz sofrer? Como isso se expressa em minha vida? Quais meios tenho utilizado para tratar disso?
Ainda que não possamos falar em garantia de sucesso, a psicoeducação revela-se, sem dúvida, um grande sustentáculo do tratamento em saúde mental, uma vez que permite ao paciente conhecer não somente o seu transtorno e as limitações a ele relacionadas, mas sua capacidade de enfrentamento e potencialidades enquanto indivíduo.