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Psiquiatria salva vidas | Artigo Luiz Fernando Pedroso

Luiz Fernando Pedroso fala sobre letalidade da doença mental

O transtorno mental ainda é uma questão negligenciada em todo mundo.  O jornal ATarde publicou um artigo de  Luiz Fernando Pedroso, psiquiatra e diretor clínico da Holiste, onde defende a importância de um olhar mais cuidadoso sobre a saúde mental.


 

Nos últimos meses, grandes tragédias marcaram os noticiários mundo afora. No Brasil, um vigia incendiou uma creche em Minas Gerais; em Goiás, um estudante atirou e matou dois colegas. Já nos Estados Unidos, o massacre do atirador de Las Vegas, os atentados em Nova York e no Colorado durante o Halloween e, mais recentemente, o caso do atirador da igreja presbiteriana no Texas levaram o presidente Donald Trump ao seguinte pronunciamento sobre os eventos: “Temos muitos problemas de saúde mental no nosso país (…). É algo que precisamos abordar de maneira séria”.  Como bem observou o presidente americano, é preciso olhar, também, o transtorno mental como motivador desses atos violentos.

Em todas as ações que resultam em um grande número de mortes, o que mais deveria chamar atenção é a loucura do ato em si.   Mesmo nos atentados “altruístas” – vinculados e motivados por valores sociais, culturais ou religiosos – há sempre a questão das motivações pessoais e subjetivas, geralmente relegada no debate social.

O transtorno mental está por trás de muitos comportamentos sociopáticos, mas isso não costuma ser abordado na mesma proporção dos problemas causados. Ele pode estar presente em comportamentos de crianças que praticam ou sofrem bullying severo, adolescentes problemáticos com comportamentos delinquenciais e dependentes químicos, crimes passionais motivados por ciúme patológico, ou até mesmo na população moradora de rua.

Apesar da negligência em torno da questão, principalmente do poder público com suas desastrosas políticas de saúde pública, a doença mental é um assunto sério e que leva milhares de pessoas a óbito todos os anos. Seja nos suicídios isolados, nos atentados terroristas ou em outros atos que, aparentemente, possuem alguma motivação lógica e justificável, é preciso enxergar a doença mental por trás de cada um deles, pois, salvo raras exceções, ninguém mentalmente saudável protagoniza esses tipos de evento.

Um surto psicótico agudo é uma emergência médica, exige tratamento especializado imediato. Em alguns casos, a internação psiquiátrica faz-se necessária para manter o doente afastado do convívio social até a remissão do quadro.  Porém, a doença mental pode ser silenciosa, passar despercebida, sendo frequentemente menosprezada quando não apresenta sintomas extravagantes, o que torna a situação ainda mais perigosa.

Na grande maioria das vezes, o doente mental prejudica somente a si mesmo. Por isso, justifica-se a cautela em não estigmatizá-lo. Porém, esse cuidado não pode escamotear o fato de que, sem o tratamento adequado, ele também possa oferecer risco a terceiros, levando às tragédias que ganham as manchetes com uma frequência cada vez maior.

Veja também:
“Psiquiatria para além da medicina” 
“A liberdade refém da burocracia”
*Artigo publicado no jornal ATarde, 17/11/2017
artigo publicado no Jornal ATarde, 17/11/2017