Embora esteja profundamente ligado ao prazer e à felicidade humana, o sexo ainda é um tema cercado de tabus e preconceitos que, ao longo dos séculos, têm provocado sofrimento para os indivíduos.
O crescimento de um debate mais saudável e verdadeiro a respeito do tema tem contribuído para a mudança desse cenário, mas existem questões que apenas foram trazidas à luz muito recentemente, precisando serem aprofundadas, inclusive na área da saúde.
Sexo e Sofrimento foi o tema abordado na palestra ministrada pela psiquiatra Livia Castelo Branco.
“Falar sobre sexo é muito difícil, é muito íntimo. Logo, as pessoas têm dificuldade de falar até em consultório. Observando melhor as questões de sexualidade, podemos ajudar os pacientes e mais cedo”, aponta Livia Castelo Branco.
Veja o vídeo completo:
Parafilias
A psiquiatra destaca a questão das parafilias – desejos sexuais persistentes que não estão associados à estimulação genital ou às preliminares da relação sexual.
“Desde que sejam práticas realizadas entre seres humanos maduros, adultos e capazes de dar consentimento, não há patologia. Mas, existe muito estigma, o que gera ansiedade em relação aos julgamentos da sociedade e dos próprios profissionais de saúde sobre essas práticas. Muitas pessoas acabam se isolando”, destaca a psiquiatra.
Diferentes da parafilia em si, os transtornos parafílicos causam sofrimento ou prejuízo para o indivíduo e para outras pessoas com quem se relaciona. Por exemplo, no caso de não haver consensualidade ou condições para que a outra pessoa possa escolher livremente.
“Nesses casos, ocorre uma luta interna muito grande na pessoa, entre o prazer e o que é certo ou errado, o respeito à lei, e o medo de causar sofrimento ao outro. Porém, quando falamos de crimes sexuais, nem sempre estamos falando de parafilia, pois 90% dos criminosos sexuais não têm transtorno mental grave ou persistente. Nesses casos, são pessoas que diante de uma situação particular têm a possibilidade de exercer um controle sobre o outro e não consegue controlar esse impulso. Somente de 2% a 10% dos crimes sexuais com crianças, por exemplo, envolvem pessoas primariamente pedófilas”, explica Livia.
A história de Waldirene
A psiquiatra Livia Castelo Branco contou a história da primeira transexual que passou por cirurgia de mudança de sexo no Brasil, Waldirene, em 1971. Além de enfrentar preconceitos diversos em função de sua identidade de gênero, Waldirene foi investigada, conduzida coercitivamente ao IML, estudada, e declarada como uma vítima. O médico Roberto Farina, que fez a cirurgia, chegou a ser processado, mas, por fim, o processo foi arquivado. Waldirene, por outro lado, passou longos anos com medo, sem poder exercer sua profissão, trocar seu nome e sem ser aceita socialmente.
“Quando falamos em saúde sexual, estamos falando, também, em poder ter relações sexuais prazerosas e seguras, livre de coerção, de discriminação e de violência. A redução do preconceito melhora a sensação geral de bem-estar do indivíduo com a sexualidade”, completa Livia Castelo Branco.
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