A psiquiatra Lívia Castelo Branco ministrou a palestra “Suicídio e estigma: conhecer, cuidar e prevenir”, em evento realizado no QG do Comando da 6ª Região Militar de Salvador.
A psiquiatra da Holiste palestrou no Curso de Saúde Mental do Exército, que reuniu profissionais da saúde e militares do comando do Exército. O evento, realizado no Quartel General da 6ª Região Militar, localizado no bairro da Mouraria, faz parte de uma ação que busca capacitar militares para identificar possíveis casos de transtorno mental em suas unidades, encaminhando esses oficiais ao tratamento especializado adequado. A prevenção, a partir da adoção de medidas implementadas no cotidiano das atividades, também foi abordada durante o curso.
O IMPACTO SOCIAL DO SUICÍDIO
Abrindo sua fala, Dra. Lívia ressaltou a importância em abordar o tema, chamando atenção para o fato de que o ato suicida não se encerra na morte do indivíduo, pois o suicídio acarreta uma série de desdobramentos que trazem consequências graves para toda a sociedade.
“Estima-se que um suicídio cause um impacto grave na vida de pelo menos seis pessoas. Imagine o sofrimento dos familiares, a perda desse profissional na empresa onde trabalhava, o universitário que a academia perdeu, o professor que não mais dará aula aos seus alunos, as consequências são muitas e em diversas intensidades. O suicídio causa um grande sofrimento no círculo social daquele indivíduo, por isso precisamos falar sobre ele e compartilhar a responsabilidade de ajudar essas pessoas que estão em sofrimento” – justifica.
SOFRIMENTO, TRANSTORNO MENTAL E SUICÍDIO
É importante ter em mente que o suicídio é consequência de uma dor profunda, que leva o indivíduo a crer que somente a morte poderá solucioná-la. Em 90% dos casos, essa dor está relacionada a algum transtorno mental, alguma doença que pode ter sido diagnosticada ou não. Para a especialista, o pensamento suicida é um sintoma que indica a gravidade de determinada doença que o indivíduo possa apresentar.
“O transtorno mental, quando não tratado, pode provocar sofrimento profundo no paciente. O suicídio aparece como manifestação limite desse sofrimento, reflexo da gravidade em que a doença mental se encontra. Na maioria dos casos, isso acontece em pacientes que não seguem um tratamento adequado para o seu problema. 80% dos suicídios estão ligados diretamente a quatro diagnósticos: Transtornos de Humor, Dependência Química, Esquizofrenia e Transtornos de Personalidade” – afirma a psiquiatra.
ESTÁGIOS DO SUICÍDIO
O ato suicida, na maioria das vezes, apresenta estágios de maturação. Primeiro vem o pensamento suicida, depois a elaboração do plano suicida, a tentativa e, por fim, o suicídio. Nem todos os casos vão apresentar, necessariamente, esses estágios. Alguns suicídios são manifestações impulsivas, que passam diretamente do sofrimento intenso para o ato suicida.
“A cada 100 habitantes, 17 tem pensamentos suicidas. Destes, 5 chegam a elaborar um plano de ação, 3 cometem ao menos uma tentativa ao longo da vida e 1 é atendido em emergências e prontos-socorros. Além disso, de 15% a 25% daqueles que cometeram uma tentativa tentarão novamente dentro de um ano” – esclarece.
RESPEITO A DOR
No convívio com alguém que relata estar vivendo uma dor psíquica intensa, que diz não querer mais viver e que a morte seria a única saída, é fundamental que se respeite esse sofrimento. É muito comum observar pessoas próximas do paciente desacreditando sua dor, achando que a pessoa está fazendo um drama ou exagerando em seu relato.
Nos casos que apresentam automutilação, também é comum as pessoas acharem que o paciente quer “apenas chamar atenção”, seguidas de afirmações como “Quem quer se matar de verdade vai lá e faz, não fica ameaçando”. Segundo Lívia, esse é um pensamento equivocado.
“Automutilações são sintomas sérios e devem ser um ponto de alerta para a possibilidade de suicídio. Elas são sempre uma tentativa de diminuir a angústia, uma dor física que alivia a dor psíquica, causando alívio e prazer momentâneo. Outros tipos de ameaças e tentativas frustradas também devem ser levadas a sério, pois demonstram que aquele sofrimento já está em um estágio avançado, e a pessoa está se expondo em busca de ajuda. O principal é se mostrar disponível para escutar esse sofrimento e ajudar o paciente, encaminhando-o para um atendimento profissional” – finaliza a psiquiatra.
SETEMBRO AMARELO
Desde 2014 o Brasil conta com uma campanha de conscientização sobre o suicídio: o Setembro Amarelo. A campanha tem o objetivo de alertar a população a respeito da realidade do suicídio no Brasil e no mundo, suas formas de prevenção e a importância de se falar sobre o tema.
Como parte das nossas ações do Setembro Amarelo, reunimos diversos conteúdos elaborados por nossos profissionais – psiquiatras e psicólogos – abordando o assunto, trazendo mais informações que auxiliem na prevenção e tratamento do suicídio.