O vício em games passou a ser considerado pela primeira vez um distúrbio mental pela Organização Mundial da Saúde. A 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID) irá incluir a condição sob o nome de “distúrbio de games”. O transtorno é classificado como um padrão de comportamento frequente ou persistente de vício em jogos de videogames, em que o indivíduo prioriza o jogo a qualquer outra atividade da vida.
O psiquiatra da Holiste, Dr. André Gordilho, foi o convidado do programa Metrópole Saúde, para falar sobre esta nova classificação e as principais características de quem é viciado em games.“O vício é um problema comportamental do indivíduo que não consegue gerenciar o seu tempo e de forma compulsiva se dedica excessivamente à uma determinada atividade. Porém, tudo em excesso leva a questionamentos, mas não podemos generalizar e achar que toda criança ou adolescente que passa tempo demais no videogame é viciado. É preciso cautela e análise do comportamento antes de tudo, afinal a tecnologia está muito presente hoje em dia, seja na escola, no trabalho, em casa, no lazer…”
Identificando o comportamento patológico
O padrão de comportamento para ser considerado patológico é grave o suficiente para resultar em prejuízo significativo na vida pessoal, familiar, social, educacional e ocupacional do indivíduo. As principais características são: a pessoa tem pouco controle sobre seu comportamento, seja em relação à duração dos jogos, frequência, intensidade ou contexto em que joga; ela prioriza cada vez mais os games, em detrimento de outras atividades e interesses; o transtorno é caracterizado pela continuação do hábito de jogar, apesar das consequências negativas que isso esteja causando na vida da pessoa.
Questionado sobre como identificar o indivíduo que seja viciado em games, Dr. Gordilho explica: “É preciso analisar o histórico daquela pessoa, seus comportamentos, interesses, a forma como se relaciona com outras pessoas, se é um indivíduo mais sociável ou mais tímido. Porém, se em um determinado momento acontece uma mudança muito grande e a pessoa passa a agir de outra forma, é preciso ficar em alerta”.
O psiquiatra ressalta ainda que para ser considerado uma doença “é necessário no mínimo doze meses de evolução do comportamento disfuncional em que o indivíduo se dedique excessivamente ao jogo abdicando outras atividades da vida, ou seja, deixar de socializar, de estar com a família, de estudar, namorar…”
Outro aspecto que é comum a qualquer tipo de vício é a abstinência. Gordilho enfatiza que os sintomas, quando um indivíduo que é realmente viciado em games fica sem jogar, se apresentam como sensações físicas de fato. Nervosismo, irritação, ansiedade e desespero de ficar longe do vício são algumas delas.
Tratamento personalizado
Segundo o médico, cada transtorno se manifesta de uma maneira nos indivíduos, por este motivo o diagnóstico é bastante subjetivo e a busca por um tratamento personalizado é cada vez mais frequente. “A nossa busca é individualizar o tratamento. Nós não tratamos a doença em si, mas tratamos as consequências que aquele transtorno traz para aquele indivíduo, levando em conta os sintomas e comportamentos que se manifestam naquela pessoa, que é influenciado pela sua genética, vivências, contexto sociofamiliar e etc”.
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