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Parem de falar mal da Rotina | Por Isabel Castelo Branco

Em artigo publicado no Jornal Correio, Isabel Castelo Branco, acompanhante terapêutico da Holiste e integrante do Programa de Tratamento do Transtorno Bipolar do Humor, abordou a importância da rotina no tratamento do paciente com Transtorno Bipolar, seus benefícios e aplicações.

Uma das dificuldades no tratamento de pacientes com Transtorno Bipolar do Humor é falta de conhecimento quanto as suas características, tanto pelo paciente como por sua família. Sintomas relacionados à rotina são, muitas vezes, rotulados como um “jeito preguiçoso” da pessoa. Por exemplo: sintomas como dormir o dia todo, não cumprir seus compromissos e negligenciar o autocuidado, características associadas à desorganização, inquietação, aceleração, irritabilidade e intolerância, são traduzidas em um “jeito autoritário de ser”, um traço de sua personalidade.

Muitos pacientes com transtorno bipolar costumam trocar o dia pela noite, não concluem tarefas assumidas, dormem pouco, fazem uso irregular das medicações e levam uma vida desregrada. Organizar a rotina de uma pessoa com tantas vulnerabilidades é um desafio, porem, trata-se de processo indispensável para um possível restabelecimento funcional do indivíduo. De acordo com um estudo publicado no American Journal of Psychiatry, em 2006, o desenvolvimento de uma rotina é fundamental para o gerenciamento do transtorno bipolar. A pesquisa mostra uma associação entre perturbações na rotina e a ocorrência de sintomas e episódios de alteração do humor.

O trabalho do profissional que acompanha esse tipo de paciente se inicia no esclarecimento dessas questões, partindo para um trabalho efetivo de psicoeducação. A primeira medida é reconhecer as variáveis que levam à desorganização do ritmo de vida diário (sono, refeições, rotina de trabalho), decorrentes dos sintomas. Escutar, acolher e dar continência ao sofrimento, através da apresentação de certos limites, impulsiona o paciente a melhor utilizar os recursos subjetivos que possui para manejar as situações e sentimentos que o fragilizam no seu dia-a-dia.

O estudo e a reconstrução da rotina devem estar aliados a outras estratégias de tratamento. A mudança no cotidiano é processual, implica em tomadas de decisão, entendimento, responsabilidade e planejamento, juntamente com a mudanças de hábitos. É uma evolução gradativa, que precisa dialogar com outras práticas terapêuticas para chegar aos resultados desejados.

Nada impede que o portador de TBH tenha uma vida produtiva, a partir do seu entendimento sobre sua condição. Isso permite ganhos enormes ao paciente, que passa a reconhecer as causas e gatilhos das suas recaídas e a buscar novas possibilidades de relação com seu processo de adoecimento. No entanto, é impossível tal percepção sem a retaguarda de profissionais especializados; o tripé medicação, psicoterapia e reconstrução de rotina proporcionam um suporte eficaz, fundamental para restabelecer a qualidade de vida do paciente.

*Isabel Castelo Branco é acompanhante terapêutica e coordenadora da Residência Terapêutica da Holiste.

Entrevista Isabel Castelo Branco rotina