O papel do acompanhante terapêutico na relação do sujeito com sintomas paranóicos graves é o tema do artigo da AT Isabel Castelo Branco publicado no jornal A Tarde.
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Para Freud, o mal-estar na civilização é, também, o mal-estar dos laços sociais. Ele situa que o relacionamento com o outro é uma das causas de maior sofrimento do homem. Nessa perspectiva, podemos compreender a paranoia como uma defesa ante os perseguidores, uma “tentativa de cura” para o mal-estar, para o sofrimento gerado no trato com o outro que lhe restringe a satisfação plena.
Na paranoia, o sujeito constrói laços socais restritos, pois pode perceber o outro como uma ameaça, gerando uma fragilidade em “ser” e “estar” no convívio com os demais. Considerando que, nesses casos, o tratamento necessariamente inclui a alteridade do outro na equação, como seria a atuação do Acompanhante Terapêutico (AT)?
O primeiro passo é estabelecer uma relação de confiança. Inicialmente, os encontros são realizados em espaços delimitados pelo acompanhado. A partir daí a relação terapêutica vai se estabelecendo, sendo possível identificar o funcionamento singular do indivíduo, reconhecendo e construindo, juntos, as diversas etapas do acompanhamento que, agora, articula a vivência paranoica à história singular.
Permitir que o sujeito demarque seu lugar no contrato terapêutico é fundamental para o estabelecimento do vínculo. A conduta de “testemunho” e “secretário”, como disse Lacan, deverá ser a premissa na intervenção. Assim, a estratégia terapêutica do AT objetiva suscitar provocações e aguçar a crítica do paciente para aspectos de sua vida cotidiana, facilitando sua reconstrução.
Depois, é o momento de estabelecer acordos verbais sobre sua implicação no tratamento, tais como administração da medicação, desempenho psicossocial e comprometimento com o tratamento. As intervenções propostas contemplam interesses e desejos do próprio paciente. Esse recorte só pode ser feito a partir de sua história pessoal, não colocando em dúvida seus relatos em termos dos “dados da realidade”. Ainda que prevaleçam as vivências paranoicas, o AT pode ser um facilitador para que o paciente use seus recursos psíquicos e físicos a seu favor, utilizando sua dinâmica delirante para modificar e não paralisar o seu lugar no mundo. Desse modo, o AT serve como mediador, fazendo intervenções ativas nas situações em que o paciente é convocado à realidade, secretariando-o.
Considerando a singularidade do caso a caso, o AT oferece, a cada encontro, que espaços de simbolização sejam construídos no contato com o outro, servindo como anteparo a realidade e limitando a desorganização psíquica. É importante ressaltar que o lugar que o AT ocupa, não raro, pode ser silencioso, mas com muita representatividade para o paciente, siginificando, assim, não um outro invasivo e perseguidor, mas um apoio fundamental para que ele possa reestruturar a sua realidade.
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