Dados apontam que 19 milhões de brasileiros sofrem com a ansiedade. Se sentir ansioso, em especial diante de situações de estresse do dia a dia, é um processo natural. Mas, em muitos casos, essa sensação constante traz danos para a vida da pessoa, o que caracteriza um transtorno mental. A pergunta “A ansiedade nos representa?” foi o título da palestra do psicólogo Cláudio Melo durante a Jornada de Saúde Mental.
Analisando o estudo da ansiedade ao longo da história, o psicólogo salientou de que forma este sentimento começou a ser visto como uma doença e quando ele realmente se constitui um transtorno a ser tratado.
“Muitas vezes, nós não damos atenção ao sofrimento de uma pessoa que tem crises de pânico e ansiedade. Muitas vezes, achamos que é como a ansiedade que sentimentos, uma sensação ruim que depois passa. Não se trata disso; é uma sensação de morte, é como se a pessoa fosse deixar de existir. O tratamento, muitas vezes, passa pela pessoa conseguir encontrar novos caminhos para lidar com sua angústia, mais saudáveis e positivos”, pontuou o psicólogo.
Assista à palestra completa.
https://www.youtube.com/watch?v=v2hK3Es8J9Y&feature=youtu.be
Histórico e evolução
A própria origem da palavra ansiedade remete a um conceito de angústia, aperto no peito, inquietação, aflição, medo e sofrimento, como destacou Cláudio. Inicialmente, a ansiedade era vista como um sintoma de outras patologias. Foi a partir do século XIX que ela começou a ser tratada como uma doença.
“Muitos estudos ligados às crises de pânico são referenciados em soldados em batalha. Freud já falava em neuroses de angústia. Contudo, é bastante recente a ideia de que os transtornos de ansiedade figuram como patologias totalmente independentes das neuroses”, contextualiza.
De onde vem
As diferentes formas das pessoas reagirem a determinadas situações traumáticas levam ao questionamento sobre como se desencadeia um processo ansioso. A avaliação do que determinado fato mobiliza no paciente deve ser o caminho inicial do processo.
“Muitas vezes o trauma e a angústia não estão originados em uma situação presente, mas à retomada de uma situação, trazendo de volta uma causa de angústia para este paciente. Quando existe, por exemplo, um rompimento amoroso e isso gera um quadro patológico de angústia, isso pode não ser pontualmente em função daquele rompimento, mas sim do que ele traz para aquela pessoa”, explica Cláudio Melo.
Tratamento e vínculo transferencial
O tratamento de uma patologia mental não é, apenas, a abordagem do sintoma, mas sim fazer com que o paciente consiga lidar com suas questões, saber o que fazer com elas em situações do dia a dia, identificar os gatilhos das crises e criar mecanismos de defesa.
“Através do vínculo transferencial com o psicólogo ou o profissional que está realizando o tratamento, o paciente pode encontrar caminhos para lidar com essa angústia, encontrar novas saídas que não sejam as mortificantes, aquelas que ele já utilizava e não funcionavam”, concluiu Cláudio.
Jornada de Saúde Mental
Com o tema “Abordagens Terapêuticas no tratamento dos Transtornos Mentais”, a Jornada de Saúde Mental, promovida pela Holiste, ocorreu em outubro, em Salvador, e abordou questões relacionadas ao trabalho multidisciplinar no tratamento em Saúde Mental.
O evento contou com a intensa participação de profissionais e estudantes da área que, durante dois dias, debateram sobre psicologia, psicanalise, psicopedagogia, terapia ocupacional, nutrição e acompanhante terapêutico no tratamento dos transtornos mentais.